- quinta-feira, 14 julho 2016 00:20
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Foram estudados 824 áreas de exploração madeireira, espalhadas pelos 124 milhões de hectares de extensão do estado do Pará. Os dados coletados indicam a extração de 17,3 milhões de metros cúbicos de madeira, de 314 espécies diferentes. O Pará é responsável por quase metade da produção de madeira a partir de floresta nativa da Amazônia.
O estudo revelou que, para manter o retorno econômico, os madeireiros são obrigados continuamente a explorar novas áreas de floresta primária.
“Nossa análise mostra que até mesmo o chamado ‘manejo de impacto reduzido’ em florestas tropicais pode não ser definido como sustentável em termos da composição e dinâmica florestal a longo prazo, sem considerar ainda a maior suscetibilidade das florestas exploradas a incêndios catastróficos“, afirma o professor Carlos Peres, um dos responsáveis pelo estudo.
Além de não encontrar evidência de que a composição volumétrica de espécies madeireiras recupera o valor inicial após o primeiro corte, os pesquisadores verificaram que apenas nas operações em frentes de atividade madeireira mais recentes e remotas, longe de estradas de tráfego pesado, ocorrem as espécies de alto valor comercial.
A tendência da atividade madeireira, além de buscar áreas ainda não exploradas, é manter um portfólio de abate, concentrado nas espécies de maior valor comercial. Para os pesquisadores, gerenciar os ganhos nas áreas de exploração de florestas é crucial para a integridade da biodiversidade e da viabilidade econômica da atividade a longo prazo.
De acordo com a autora principal do artigo, Vanessa Richardson, estudos prévios na Ásia sugerem que a atuais práticas comerciais podem levar a exploração de espécies até elas se tornarem raras a ponto de não ter mais viabilidade econômica. “Nossos estudos na região Neotropical reforça essa ideia”, afirma. “Nós já podemos ver uma mudança no mercado, em que madeireiros na fronteiras mais antigas e empobrecidas da Amazônia são forçados a dependerem de espécies de crescimento rápido, de madeira macia”, completa.
Durante o trabalho de campo, Vanessa Richardson calculou também o estrago que a derrubada de uma grande árvore, mesmo com corte seletivo e certificado de baixo impacto, provoca ao redor. De acordo com ela, morrem em média 12 árvores pequenas, por acidente, criando clareiras, onde ocorre a proliferação de espécies de crescimento rápido e madeiras leves.
Ela destaca que quando a exploração deixa a floresta totalmente diferente, mais suscetível ao fogo, à construção de estradas, à conversão do solo para a pecuária e entrada de caçadores, que podem reduzir as espécies de animais responsáveis pela dispersão de sementes.
“Todos estes fatores são conectados, mas é como se o primeiro ciclo de corte fosse a primeira facada na degradação da floresta”, compara a pesquisadora. “Para garantir a recomposição dessas árvores nas concessões florestais, ideal seria proibir o segundo ciclo, ou no mínimo adiar, ou diminuir o limite do volume legal para o corte, porque no modelo atual vai demorar muito mais do que 30 anos para recompor todas as espécies”, completa.
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