quinta-feira, 17 de novembro de 2016
A partir de iniciativa de conservação da natureza, as “Amigas dos Roxinhos” aumentaram faturamento familiar em 62%
Comunidades familiares do município de Passos Maia, em Santa Catarina,
no entorno do Parque Nacional das Araucárias, encontraram na união do
artesanato com a conscientização ambiental uma fonte de renda extra.
Depois de se envolverem com o projeto “Reintrodução do
Papagaio-de-peito-roxo no Parque Nacional das Araucárias”, as mulheres
da região, conhecidas como ‘Amigas dos Roxinhos’, aumentaram a renda
familiar em 62%. Criada em 2013 pelo Instituto Espaço Silvestre, a
iniciativa faz parte de um projeto maior de conservação, que tem apoio
da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza.
As participantes confeccionam e comercializam, na internet e em pontos
turísticos da região, peças artesanais como camisetas, bolsas, aventais,
chaveiros, lixeiras de carro, nécessaires e ímãs de geladeira. A renda
das vendas é totalmente revertida às artesãs. O artesanato inspira-se no
papagaio-de-peito-roxo (Amazona vinacea), na araucária (Araucaria
angustifolia) – espécies nativas da região e classificadas,
respectivamente, como em perigo e criticamente em perigo de extinção –, e
também em outras espécies da fauna brasileira.
As artesãs receberam treinamentos em confecção e empreendedorismo, além de orientações sobre conservação da natureza. Desse modo, o projeto constrói uma relação entre a comunidade e o meio ambiente, mostrando como sua conservação traz benefícios ambientais, sociais e econômicos para toda a região.
Enquanto o projeto gera renda, conscientiza a população para a
importância do papagaio-de-peito-roxo na Floresta com Araucárias. Jozi
Telles, coordenadora do grupo “Amigas dos Roxinhos”, também reconhece a
importância do projeto para a comunidade. “Hoje eu tenho um lucro a
mais, sem contar que é uma terapia. É muito bom quando a gente faz
alguma coisa com amor e todo mundo gosta.”
Para a “amiga do roxinho” Zulmira Lachet, a participação vai além da
complementação de renda e da conscientização ambiental. “Conheci o
projeto em um momento muito difícil para a minha vida e ele me ajudou a
ocupar a mente, além de complementar a renda familiar”, comenta.
Integração entre conservação e economia é estratégica
Malu Nunes, diretora executiva da Fundação Grupo Boticário, explica que
ações que visam a conservação da natureza têm mais força quando integram
várias frentes da sociedade. “Apoiamos o projeto de proteção ao
papagaio-de-peito-roxo, que engloba a iniciativa ‘Amigas dos Roxinhos’,
pois acreditamos na importância de envolver a população no processo de
conservação da natureza. É preciso consolidar essa associação entre
desenvolvimento social e econômico e proteção ambiental, pois são
pilares que, juntos, se tornam mais fortes e perenes”, afirma.
Segundo Vanessa Kanaan, diretora técnica do Instituto Espaço Silvestre,
“o projeto resulta da necessidade de envolver os moradores na proteção
da biodiversidade local e estimular a geração de renda na comunidade”.
Neste ano, o instituto apresentou uma nova linha de produtos, que também
conta com envolvimento comunitário, chamada “Amigos da Floresta”,
inspirados em espécies como a gralha-azul (Cyanocorax caeruleus), o
tatu-canastra (Priodontes maximus), o tamanduá-bandeira (Myrmecophaga
tridactyla), entre outros.
Situação delicada
O papagaio-de-peito-roxo e a Floresta com Araucárias, ecossistema
associado à Mata Atlântica no Sul do Brasil, têm uma relação de
dependência mútua. Ao se alimentar de pinhão, a ave transporta a
semente, que muitas vezes cai no chão e germina, auxiliando na
recomposição desse ecossistema. Atualmente a Floresta com Araucárias tem
menos de 3% da sua cobertura original. Além do habitat reduzido, a ave
sofre também com a escassez de alimento, agravada pela colheita ilegal e
insustentável de pinhão. Apesar de existir regulamentação de órgãos
ambientais, a retirada de pinhas imaturas ainda é uma prática
recorrente.
Pesquisadores estimam que há 10 anos a população de
papagaios-de-peito-roxo era de 10 mil indivíduos. Atualmente, são menos
de 4 mil. O trabalho de reabilitação e reintrodução das aves na
natureza, além do uso de recursos para simular ninhos em árvores
(caixas-ninho), tem contribuído para a melhoria desse quadro. Essas
iniciativas estão previstas no Plano de Ação Nacional para Conservação
dos Papagaios da Mata Atlântica, que visa a garantir a integridade das
populações das espécies por meio da ampliação do conhecimento científico
e ações efetivas de proteção a essas aves.
Além desse projeto de reintrodução, a Fundação Grupo Boticário doou,
entre os anos de 2010 a 2015, cerca de 1,4 milhão de reais para 11
projetos que executam ações previstas no Plano de Ação Nacional (PAN)
para conservação dos Papagaios da Mata Atlântica.
Fonte: EcoDebate
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