quarta-feira, 12 de abril de 2017

Fogo na várzea ameaça a toda floresta


Por Vandré Fonseca
Igapós atingidos pelo fogo no Rio Cuiuini, Bacia do Rio Negro, Amazonas. Floresta alagada demora mais para se recuperar após incêndios e permanece mais vulnerável. Crédito: Bernardo Flores.
Igapós atingidos pelo fogo no Rio Cuiuini, Bacia do Rio Negro, Amazonas. 


Floresta alagada demora mais para se recuperar após incêndios e permanece mais vulnerável.

Crédito: Bernardo Flores.


Manaus, AM -- Igapós e várzeas amazônicas são mais susceptíveis aos danos provocados por incêndios ao longo do tempo do que a floresta em terra firme. Esta é a conclusão de um estudo publicado esta semana pelo biólogo brasileiro Bernardo Flores, com a colaboração de outros pesquisadores, na revista científica Proceedings of National Academy of Science (PNAS). O autor aponta ainda que este é um fator de risco até mesmo para regiões da Amazônia hoje consideradas mais protegidas dos impactos do aquecimento global.



No artigo, produzido durante o doutorado de Flores na Universidade Federal do Rio Grande do Norte e na Wageningen University da Holanda, ele usou um mapa das áreas da Amazônia que durante parte do ano ficam submersas e comparou a cobertura de árvores destes locais com a floresta de terra firme. Enquanto as árvores cobrem cerca de 93% da área em florestas de terra firme, nas áreas alagáveis esse percentual é de 66%. “Você tem cinco vezes mais chances de ter uma savanização, ou seja, é substituída por uma vegetação mais aberta, com menos árvores, nas áreas alagáveis do que na terra firme”, afirma o pesquisador.


Em um estudo anterior, concluído em 2011, Bernardo Flores já havia demonstrado a fragilidade das florestas de igapó, áreas inundáveis, diante incêndios florestais. Na vazante do rio, o material orgânico depositado no chão ao longo destas áreas seca e pode se tornar combustível para grandes incêndios. Basta a ignição. E o fogo pode atingir também as áreas mais altas.
Crédito: Bernardo Flores.
Crédito: Bernardo Flores.
As regiões úmidas na Amazônia são mais vulneráveis também a redução das chuvas. De acordo com Flores, estudos indicam que a floresta de terra firme pode sofrer o processo de savanização quando chuvas caem a cerca de 1 mil milímetros anuais, nas áreas alagadas esse processo ocorre mesmo com um clima mais úmido, com 1,5 mil milímetros anuais. Em Manaus, por comparação, as chuvas anuais geralmente ficam em torno de 2,2 mil milímetros.


Flores alerta que os impactos sofridos pelas áreas inundáveis podem se espalhar por toda floresta amazônica. Ele explica que as várzeas e igapós acompanham justamente os rios que formam a Bacia Amazônica e se concentram principalmente no centro e a oeste, podem ser um caminho para que a degradação avance até regiões bem protegidas. “Isso aumenta as chances das chamas se espalharem onde as florestas hoje são consideradas mais resilientes, afetando a resiliência de toda a Amazônia”, afirma.


Outras duas consequências importantes da degradação das áreas alagáveis são destacadas pelo pesquisador: uma para a atmosfera e outra para a economia e sustento de populações amazônicas. Várzeas e igapós são um ambiente importante para os peixes, que durante a cheia encontram alimento, como frutos, nessas áreas. A perda destes habitats, segundo Flores, pode afetar toda a cadeia alimentar. Além disso, a perda de árvores significa também redução nos estoques de carbono e consequente aumento de gases de efeito estufa.

Saiba Mais
Artigo: “Floodplains as an Achilles’ heel of Amazonian forest resilience,” by Bernardo Flores et al.

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