sexta-feira, 26 de maio de 2017
O químico Flávio Bragante, 48, sempre trabalhou na área de meio
ambiente. Ao observar a dificuldade que as empresas têm para fazer o
descarte correto de lixo tóxico, resolveu investir na área. Em março de
2011, criou a Faex Soluções Ambientais, em São Roque (66 km a oeste de
São Paulo) e, no ano passado, faturou R$ 620 mil.
O material coletado pode ser transformado em combustível alternativo,
removedor de mancha, de graxa ou de cola, tinta para pintar superfícies
de metal, como portões e portas, e cimento.
Tinta, iodo, óleos e embalagens (plástico, papelão, panos etc.)
contaminados são alguns dos produtos que ele recolhe e recicla. Entre os
elementos, também estão:
- Resinas contaminadas e provenientes de limpeza de equipamentos
- Cinzas de caldeiras e fornos industriais
Sais provenientes de tratamento térmico de metais (com ou sem cianeto)
- Resíduos de varrição de fábrica (pó de material metálico, de resinas, de tintas, serragem etc.)
- Resíduos de laboratório (matéria-prima, soluções, reagentes vencidos
e/ou contaminados, vidros, embalagens, filtros, materiais não
patogênicos etc.)
Segundo Bragante, das empresas que reciclam lixo tóxico, a maioria atende as companhias que produzem grande quantidade -acima de 7,2 toneladas por ano- de resíduos. Por isso, ele resolveu trabalhar com empresas que descartam pouco lixo, mas que também precisam fazer isso de forma sustentável.
“Algumas empresas produzem 200 kg de resíduos por mês, outras 600 kg por
ano ou até toneladas. Todas devem fazer o descarte correto do material,
mas não tinham muita alternativa. Por já ter trabalhado em empresas que
sofriam desse mal, resolvi abrir um negócio para atendê-las e deu
certo.”
O empresário cobra de R$ 450 (para o descarte de um tambor de 200 litros
com resíduos tóxicos) a R$ 1.000 (para um tambor de 50 litros com
resíduos laboratoriais como ácidos, materiais alcalinos e sais). Os
valores incluem retirada e transporte dos materiais.
A empresa não tem licença para receber resíduos hospitalares,
radioativos, agrotóxicos e de serviços de saúde. Seu clientes são
empresas da indústria farmacêutica, mecânica, química, entre outras. “O
material não precisa ser retirado toda semana. Quando o cliente encher o
tambor, ele liga e retiramos.”
Material é usado para fabricar cimento – O químico diz que o material
que pode ser reutilizado, é desinfetado e reciclado. É o caso da lâmpada
fluorescente. O metal e o vidro são reaproveitados depois de ser
retirado o pó contaminado. Eles são derretidos e podem ser transformados
em diversos produtos, segundo o empresário.
Outro exemplo é o solvente, que é destilado e utilizado em funções menos
nobres, como a produção de tinta de segunda linha para pintar metais
(portões e portas, por exemplo) ou material de limpeza (removedor de
mancha, de graxa, de cola etc.).
O material que não pode ser reciclado, é triturado, queimado e vira
cimento. “Ele é queimado junto com argila, calcário e areia e vira
cimento. O pó já sai do forno pronto para empacotar.” A fábrica de
cimento é licenciada para executar o processamento, segundo Bragante.
O empresário diz que parte do material triturado também é utilizada como
combustível pelos fornos. “São necessárias 10 toneladas de carvão para
acendê-los. Nós usamos três toneladas do combustível alternativo e sete
de carvão coque, diminuindo a quantidade do mineral, e o impacto no meio
ambiente.”
Bragante não lucra com o material utilizado para produzir cimento e
combustível. “Eu pago para a empresa queimar e reaproveitar o material
para fazer o cimento. Meu lucro vem na coleta do material em outras
empresas.” O valor não foi revelado.
Lixo fica armazenado em galpão – Todo o lixo recolhido dos clientes fica
armazenado no galpão da Faex Soluções Ambientais. Ele é distribuído em
tambores de aço e em sacos homologados pela Cetesb (Companhia Ambiental
do Estado de São Paulo), até atingir a quantidade de 15 a 20 toneladas e
poder ser queimado.
Para iniciar o negócio, ele investiu R$ 120 mil. A maior dificuldade,
segundo o empresário, foi conseguir as licenças para iniciar a operação.
“Demorou três anos para termos autorização.” Atualmente a empresa tem
70 clientes ativos e espera aumentar o faturamento em 20% até o fim do
ano.
Setor está em expansão – Para Dòrli Terezinha Martins, consultora do
Sebrae-SP, a Lei de Resíduos Sólidos, que exige que as empresas deem um
destino sustentável ao lixo produzido por elas, vem abrindo
oportunidades de negócio. “Faltam empresas especializadas na coleta,
desintoxicação e encaminhamento correto do lixo.”
Martins afirma, no entanto, que o tema é novo e falta uma
conscientização maior da sociedade. “Ainda há empresas que, por falta de
conhecimento ou por não encontrarem uma forma correta de descartar seus
resíduos, enviam o lixo para aterros sanitários. Isso afeta o meio
ambiente e gera multas altíssimas.”
Fonte: UOL
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