sexta-feira, 7 de julho de 2017

Cresce a pressão para que araucárias de florestas nativas sejam cortadas para a produção de madeira.





Cresce a pressão para que araucárias de florestas nativas sejam cortadas para a produção de madeira. Desde a Região Sul, políticos e pesquisadores pedem a legalização da medida no país. Sob influência de políticos como Luciano Pizzatto, ex-deputado federal pelo Paraná, um projeto de lei chegou à Câmara dos Deputados com assinatura de Evair de Melo (PV/ES). 


Para esse, o manejo comercial ajudará a manter e renovar estoques da árvore, ameaçada de extinção. Restrições oficiais impedem o uso da madeira, o que tem levado produtores rurais a eliminar brotos e impedir a expansão da árvore em ambientes naturais. Segundo Maurício Sedrez dos Reis, professor e pesquisador na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), liberar o corte não faz sentido pelo empobrecimento das florestas com araucárias que restam, pelo alto custo da extração de madeira em áreas de difícil acesso – onde estão as melhores árvores -, e ainda pelo crescente consumo de pinhão no país, que sustenta uma economia baseada na preservação da espécie.


 “A medida mais importante neste momento seria uma política de fomento ao plantio da araucária. Isso ampliaria sua ocorrência, formaria áreas de abrigo e corredores de fauna, conectaria fragmentos com remanescentes e, especialmente, aumentaria o potencial do pinhão como recurso econômico com demanda nacional”, comentou Reis. 


No passado, florestas com araucárias cobriam 200 mil quilômetros quadrados – o tamanho de Roraima - na Região Sul e também em São Paulo e Minas Gerais, além de pequena porção na Argentina. Hoje, ocorrem em menos de 5% da área original, devido à expansão da agropecuária e à intensa exploração madeireira. Entre 1915 e 1960, o Brasil exportou 18,5 bilhões de metros cúbicos da madeira.
 

Incêndios, erosão do solo, deslizamentos de terra e assoreamento de córregos estão entre os principais impactos da abertura de estradas e rodovias para exploração de madeira em florestas tropicais. 


Essas vias aumentam o acesso humano a regiões preservadas, que servem como refúgios para a biodiversidade, e fornecem serviços ecossistêmicos de importância mundial, conclui artigo publicado por pesquisadores ligados a instituições na Suíça, França e Reino Unido. O estudo avaliou impactos de estradas madeireiras na vida selvagem e na capacidade de recuperação das florestas. Cada estrada aberta leva ao desmatamento de faixas com 20 metros de largura, em média. 


“Uma vez abertas, as estradas de exploração permitem o acesso quase que contínuo ao interior da floresta, o que pode levar a invasões de espécies exóticas, ao aumento da pressão de caça e à proliferação de uma agricultura predatória. Algumas estradas, inicialmente construídas para exploração madeireira, convertem-se em vias públicas permanentes, levando à conversão de florestas para a agricultura”, afirma o artigo. 


Em Rondônia, as florestas são mais desmatadas quanto mais próximas de estradas e a fragmentação da floresta levou à extinção local de mamíferos de médio e grande portes, bem como à piora na qualidade da água de riachos locais.
 
Pesquisadores e especialistas ligados à Universidade de Queensland (Austrália), à Comissão Europeia e à União Internacional para a Conservação da Natureza defendem que a Convenção do Patrimônio Mundial das Nações Unidas estenda rapidamente sua rede de proteção sobre áreas de grande importância ambiental e cultural em todo o planeta. 

Em recente artigo publicado na revista National Geographic, o time aponta que mais de 2 milhões de quilômetros quadrados de regiões selvagens terrestres foram perdidos, apenas nas últimas duas décadas. A área é superior a do México. Ainda livres de usos humanos mais intensos, essas áreas selvagens mantêm rica biodiversidade e serviços ecossistêmicos, como sequestro de carbono e armazenamento e fornecimento de água. Além disso, inúmeras populações tradicionais, indígenas e locais dependem da saúde dessas regiões para sua subsistência. "Apesar de serem insubstituíveis e cada vez mais ameaçadas, muitas áreas selvagens permanecem subestimadas, sub protegidas e estão quase completamente ignoradas pela política ambiental internacional. É necessária uma ação proativa imediata para salvá-las. A questão é de onde essa ação poderia vir", questiona o artigo.



Questões ambientais, econômicas, sociais, políticas e outras ligadas à conservação da biodiversidade ainda são abordadas com poucas fontes de informação e de forma isolada pela mídia brasileira, como se não tivessem relação direta entre si e com a degradação ou a manutenção de ambientes naturais e de serviços ecossistêmicos. 




Essas são algumas das conclusões da recém disponibilizada tese de doutorado da jornalista Maria Elizabeth de Oliveira, junto ao Programa de Pós-graduação em Políticas Públicas, Estratégias e Desenvolvimento da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Naquelas quase 400 páginas, são analisados aspectos como o noticiário do jornal O Globo durante a Rio-92 e a Rio+20, sempre para jogar luz sobre como a cobertura jornalística leva à sociedade pautas ligadas a políticas públicas para a conservação da natureza. "Se percebe que a temática da conservação da biodiversidade desperta o interesse midiático, embora isso ocorra, pontualmente, e não haja, ainda, um padrão desejável na qualidade da cobertura jornalística sobre a complexidade que envolve essa agenda", ressalta Elizabeth em sua tese.


 
Se o estabelecimento de parques nacionais e outros tipos de Unidades de Conservação em regiões costeiras e marinhas associassem mais fortemente questões ambientais, econômicas e sociais, cairiam as chances de conflitos com atividades econômicas e de subsistência e também os custos para implantação e gestão dessas áreas protegidas. Todavia, muitos espaços ainda são destinados à conservação sem colocar esses fatores na balança. Para tentar mudar essa tendência e ampliar a proteção de ambientes marinhos, pesquisadores de universidades brasileiras, da Austrália e dos Estados Unidos sugerem um caminho para se estimar os benefícios à pesca a partir da criação de áreas oficialmente protegidas. A ferramenta foi desenvolvida com olhos voltados também à região de Abrolhos, no litoral sul da Bahia, onde a expansão de áreas protegidas enfrenta a resistência de pescadores. O artigo está publicado na revista científica Conservation Biology
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Este boletim é um oferecimento de
© Aldem Bourscheit // Jornalista DRT/RS 9781 // conectacomm@gmail.com
- Ativista em Políticas Públicas Socioambientais
- Membro da Comissão sobre Educação e Comunicação da UICN
- Mestrando em Desenvolvimento Sustentável pelo Fórum Latino-americano de Ciências Ambientais
- Especialista em Meio Ambiente, Economia e Sociedade pela Faculdade Latino-americana de Ciências Sociais


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