Cresce a
pressão para que araucárias de florestas nativas sejam cortadas para a produção
de madeira. Desde a Região Sul, políticos e pesquisadores pedem a legalização
da medida no país. Sob influência de políticos como Luciano Pizzatto,
ex-deputado federal pelo Paraná, um projeto de lei chegou à Câmara dos Deputados com assinatura
de Evair de Melo (PV/ES).
Para esse, o manejo comercial ajudará a manter e renovar estoques da árvore,
ameaçada de extinção. Restrições oficiais impedem o uso da madeira, o que tem
levado produtores rurais a eliminar brotos e impedir a expansão da árvore em
ambientes naturais. Segundo Maurício Sedrez dos Reis, professor e pesquisador
na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), liberar o corte não faz
sentido pelo empobrecimento das florestas com araucárias que restam, pelo alto
custo da extração de madeira em áreas de difícil acesso – onde estão as
melhores árvores -, e ainda pelo crescente consumo de pinhão no país, que
sustenta uma economia baseada na preservação da espécie.
“A medida mais
importante neste momento seria uma política de fomento ao plantio da araucária.
Isso ampliaria sua ocorrência, formaria áreas de abrigo e corredores de fauna,
conectaria fragmentos com remanescentes e, especialmente, aumentaria o
potencial do pinhão como recurso econômico com demanda nacional”, comentou
Reis.
No passado, florestas com araucárias cobriam 200 mil quilômetros
quadrados – o tamanho de Roraima - na Região Sul e também em São Paulo e Minas
Gerais, além de pequena porção na Argentina. Hoje, ocorrem em menos de 5% da
área original, devido à expansão da agropecuária e à intensa exploração
madeireira. Entre 1915 e 1960, o Brasil exportou 18,5 bilhões de metros cúbicos
da madeira.
Incêndios,
erosão do solo, deslizamentos de terra e assoreamento de córregos estão entre
os principais impactos da abertura de estradas e rodovias para exploração de
madeira em florestas tropicais.
Essas vias aumentam o acesso humano a regiões
preservadas, que servem como refúgios para a biodiversidade, e fornecem
serviços ecossistêmicos de importância mundial, conclui artigo publicado por
pesquisadores ligados a instituições na Suíça, França e Reino Unido. O estudo avaliou impactos de estradas madeireiras na vida selvagem e na capacidade de recuperação das
florestas. Cada estrada aberta leva ao desmatamento de faixas com 20 metros de
largura, em média.
“Uma vez abertas, as estradas de exploração permitem o
acesso quase que contínuo ao interior da floresta, o que pode levar a invasões
de espécies exóticas, ao aumento da pressão de caça e à proliferação de uma
agricultura predatória. Algumas estradas, inicialmente construídas para
exploração madeireira, convertem-se em vias públicas permanentes, levando à
conversão de florestas para a agricultura”, afirma o artigo.
Em Rondônia, as
florestas são mais desmatadas quanto mais próximas de estradas e a fragmentação
da floresta levou à extinção local de mamíferos de médio e grande portes, bem
como à piora na qualidade da água de riachos locais.
Pesquisadores e
especialistas ligados à Universidade de Queensland (Austrália), à Comissão
Europeia e à União Internacional para a Conservação da Natureza defendem que a
Convenção do Patrimônio Mundial das Nações Unidas estenda rapidamente sua rede
de proteção sobre áreas de grande importância ambiental e cultural em todo o
planeta.
Em recente artigo publicado na revista National Geographic, o time
aponta que mais de 2 milhões de quilômetros quadrados de regiões selvagens
terrestres foram perdidos, apenas nas últimas duas décadas. A área é superior a
do México. Ainda livres de usos humanos mais intensos, essas áreas selvagens
mantêm rica biodiversidade e serviços ecossistêmicos, como sequestro de carbono
e armazenamento e fornecimento de água. Além disso, inúmeras populações
tradicionais, indígenas e locais dependem da saúde dessas regiões para sua
subsistência. "Apesar de serem insubstituíveis e cada vez mais ameaçadas,
muitas áreas selvagens permanecem subestimadas, sub protegidas e estão quase
completamente ignoradas pela política ambiental internacional. É necessária uma
ação proativa imediata para salvá-las. A questão é de onde essa ação poderia
vir", questiona o artigo.
Questões ambientais, econômicas, sociais, políticas e outras ligadas à
conservação da biodiversidade ainda são abordadas com poucas fontes de
informação e de forma isolada pela mídia brasileira, como se não tivessem
relação direta entre si e com a degradação ou a manutenção de ambientes
naturais e de serviços ecossistêmicos.
Essas são algumas das conclusões da
recém disponibilizada tese de doutorado da jornalista Maria Elizabeth de
Oliveira, junto ao Programa de Pós-graduação em Políticas Públicas,
Estratégias e Desenvolvimento da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Naquelas quase 400 páginas, são analisados aspectos como o noticiário do
jornal O Globo durante a Rio-92 e a Rio+20, sempre para jogar luz sobre
como a cobertura jornalística leva à sociedade pautas ligadas a políticas
públicas para a conservação da natureza. "Se percebe que a temática da
conservação da biodiversidade desperta o interesse midiático, embora isso
ocorra, pontualmente, e não haja, ainda, um padrão desejável na qualidade
da cobertura jornalística sobre a complexidade que envolve essa
agenda", ressalta Elizabeth em sua tese.
Se o estabelecimento
de parques nacionais e outros tipos de Unidades de Conservação em regiões
costeiras e marinhas associassem mais fortemente questões ambientais,
econômicas e sociais, cairiam as chances de conflitos com atividades
econômicas e de subsistência e também os custos para implantação e gestão
dessas áreas protegidas. Todavia, muitos espaços ainda são destinados à
conservação sem colocar esses fatores na balança. Para tentar mudar essa
tendência e ampliar a proteção de ambientes marinhos, pesquisadores de
universidades brasileiras, da Austrália e dos Estados Unidos sugerem um
caminho para se estimar os benefícios à pesca a partir da criação de áreas
oficialmente protegidas. A ferramenta foi desenvolvida com olhos voltados
também à região de Abrolhos, no litoral sul da Bahia, onde a expansão de
áreas protegidas enfrenta a resistência de pescadores. O artigo está publicado na revista científica Conservation Biology. |
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