Ferramenta já usada em 17 estados, o ICMS Ecológico
tem repassado valorosos recursos a municípios conforme critérios como
quanto de seu território é coberto por Unidades de Conservação estabelecidas
em terras públicas, pela manutenção de fontes de água e pelo índice
de tratamento de esgotos. Em 2016, o governo de São Paulo repassou
mais de R$ 124 milhões a municípios que investiram na proteção da natureza.
Os recursos vêm da receita arrecadada pelos Estado por meio do Imposto
sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). Assim, cada município é
premiado e incentivado a adotar novas medidas ambientais. O Rio de Janeiro,
por exemplo, adotou a legislação em 2009 e, apenas dois anos depois, já
havia duplicado sua área protegida com Mata Atlântica. Já no Mato Grosso do
Sul, as receitas dessa fonte somaram quase R$ 70 milhões no ano passado.
Decreto publicado este ano pelo governo daquele estado inova ao permitir a
destinação de recursos do ICMS Ecológico também a reservas privadas. A
mesma legislação definiu que os proprietários dessas áreas poderão ter
apoio dos municípios para manutenção de estradas, fiscalização e elaboração
de planos de manejo. Em muitos municípios no país, os repasses de ICMS
Ecológico são a principal fonte de receita. Um alívio em tempos de crise
econômica.
@ Falta de gente e de orçamento mantém o monitoramento sobre atropelamentos
de animais silvestres no Distrito Federal (DF) restrito ao entorno da
Estação Ecológica de Águas Emendadas. Entre Abril de 2010 e Março de 2015,
o trabalho também contabilizou os incidentes ao redor do Parque Nacional de
Brasília, da Fazenda Água Limpa (UnB), da Estação Ecológica do Jardim
Botânico de Brasília e da Reserva Ecológica do IBGE. Essas áreas são
núcleos da Reserva da Biosfera do Cerrado no DF. Conforme estimativas
oficiais, quase 110 mil animais são mortos por atropelamentos a cada
ano na região. Mais de oito em cada dez são silvestres, e 70% das
vítimas são aves. Dos emplumados, a espécie mais atropelada é o tiziu,
que busca o DF na época de chuvas para reprodução. Conforme trabalho
do Instituto Brasília Ambiental em parceria com o Centro de
Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos de Portugal, os
atropelamentos de animais silvestres se concentram no entorno das
estações ecológicas de Águas Emendadas e do Jardim Botânico de
Brasília, onde o trânsito intenso em vias duplas asfaltadas aumenta os
riscos de morte para inúmeras espécies. Mapas com a distribuição
de atropelamentos no DF podem ser conferidos aqui. "Essas
informações permitem que medidas de mitigação sejam atreladas ao
licenciamento ambiental de estradas e rodovias. Já estão operando radares
para controle de velocidade na região da Estação Ecológica de
Águas Emendadas e na DF128 em direção à Planaltina", contou Rodrigo
Santos, servidor do Ibram cuja tese de doutorado alimentou o mapeamento de
atropelamentos de fauna no DF.
@ Dados oficiais divulgados com boca de siri mostram que mais de
1.000 quilômetros quadrados de Cerrado foram eliminados entre em Unidades
de Conservação (UCs) federais e estaduais. Essas últimas concentram quase
todo o desmatamento registrado entre 2013 e 2015. No período, as áreas
protegidas que mais sofreram com motosserras, correntões e fogo foram as
Áreas de Proteção Ambiental da Ilha do Bananal/Cantão (TO) e do Rio Preto
(BA), somando perdas de quase 550 quilômetros quadrados. O desmate foi bem
menor em parques nacionais e outras UCs de Proteção Integral. Em 2015, o
Cerrado perdeu quase 9,5 mil quilômetros quadrados de vegetação nativa -
área superior a mais de seis cidades como São Paulo e que supera em 52% a
devastação na Amazônia no mesmo ano, como divulgou o Observatório do
Clima. Já entre 2013 e 2015, foram removidos do bioma 19 mil quilômetros
quadrados, ou quase 2% da vegetação nativa que lhe resta. Esse desmatamento
corresponde à emissão de pelo menos 25 milhões de toneladas de CO2 na
atmosfera, mas não coloca na balança o estoque de carbono no solo, que
representa a maior parte do carbono total da vegetação de Cerrado,
conforme o Ipam. De forma geral, a eliminação anual do Cerrado acontece em
taxas superiores às da Amazônia e se concentra onde cresce o agronegócio no
Maranhão, Piauí, Tocantins e Bahia. Esses estados abrigam os remanescentes
nacionais de Cerrado e respondem por mais de 60% do desmatamento no bioma.
@ Entre os benefícios que mares e oceanos geram, estão fornecer quase
metade do oxigênio que respiramos, ajudar a combater as mudanças globais do
clima, manter estoques pesqueiros e outros recursos econômicos, oferecer
áreas para turismo e meios de sobrevivência para inúmeras populações. Com
esses valores na balança, as Nações Unidas realizaram em Junho um novo
encontro global sobre a manutenção da saúde desses ambientes, que cobrem
três quartos do planeta. Na reunião, mais de 190 países se debruçaram sobre
a problemática de como conservar e utilizar de forma sustentável os
oceanos, mares e recursos marinhos e lavraram um documento recheado de
recomendações para alcançar esse objetivo. Entre elas, expandir a rede de
áreas protegidas costeiro marinhas, melhorar o planejamento do uso desses
ambientes e implantar uma gestão integrada da zona costeira, colocando na
mesma mesa todos os setores interessados em seu aproveitamento econômico,
ecológico e social. O Brasil ratificou as convenções das Nações Unidas
sobre Direito do Mar e para Conservação da Diversidade Biológica
respectivamente em 1988 e em 1994, mas ainda está distante de cumprir metas
internacionais para manutenção da vida marinha. Enquanto elas demandam ao
menos 10% de proteção para ambientes costeiro marinhos, o país abriga
apenas 1,5% desses em Unidades de Conservação.
@ Fonte de um dos maiores embates entre ambientalistas, cientistas e
ruralistas dos anos recentes, o chamado Novo Código Florestal vigora desde
2012 e ganhou uma recente e aprofundada análise quanto ao jogo político que
levou à sua aprovação. O trabalho analisa caminhos políticos e legislativos
que levaram ao desmanche do Código Florestal que vigorava desde 1965,
apontando e acompanhando a movimentação de atores chave entre 1996 e 2012,
especialmente da Bancada Ruralista, mas sem esquecer de posicionamentos do
Governo e de coligações partidárias de ocasião no Congresso Nacional.
"O ambiente político que originou tantas modificações (...) durante o
período estudado não mudou tanto dentro do Congresso Nacional, apesar de
sua “renovação” em 2015, quanto fora deste. Campanhas eleitorais continuam
recebendo financiamentos pesados do agronegócio; o alinhamento do Executivo
com o agronegócio permanece “ajustado”, apesar de não alavancar a segurança
alimentar sustentada no país; a sensação de impunidade que a anistia
àqueles que desmataram florestas até 2008 parece só ter se arraigado, assim
como a percepção de que, ao invés de políticas efetivas, seus
formuladores apenas nos oferecem o abrandamento de regras como “solução”
para um país cuja extensão de florestas é da ordem de 60% do território.
Por tudo isso, “o problema”ambiental permanece, pois não há como conciliar
concessões políticas e qualidade técnica e ambiental", traz uma
apresentação da obra. O livro é fruto da dissertação de mestrado de Paulo
Roberto Cunha junto ao Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental da
Universidade de São Paulo (USP).
Este
boletim é um oferecimento de
© Aldem Bourscheit // Jornalista DRT/RS 9781 // conectacomm@gmail.com
- Ativista em Políticas Públicas Socioambientais
- Membro da Comissão sobre Educação e Comunicação da UICN
- Mestrando em Desenvolvimento Sustentável pelo Fórum Latino-americano de
Ciências Ambientais
- Especialista em Meio Ambiente, Economia e Sociedade pela Faculdade
Latino-americana de Ciências Sociais
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