sexta-feira, 28 de julho de 2017
Pesquisa revela crescimento da desconfiança do brasileiro com relação às
iniciativas corporativas na área de sustentabilidade. A empresa Vale é
uma das mais mal-avaliadas no quesito sustentabilidade.
Os brasileiros estão perdendo a confiança no setor corporativo em geral,
graças aos inúmeros escândalos envolvendo algumas das empresas mais
importantes do setor. Consequentemente, o ceticismo está atingindo
iniciativas ligadas à sustentabilidade praticadas pelo setor privado.
Isso é o que constatou a 12ª edição do estudo Monitor de
Sustentabilidade Corporativa 2017, pesquisa feita anualmente pela Market
Analysis e publicado com exclusividade por esta coluna.
Não está mesmo fácil pra ninguém, diria o verbete popular diante de
tantos fatos desabonadores que atingem o País de cima a baixo!
Várias grandes empresas que se esforçaram ao longo dos anos para
construir suas imagens viram esforços de anos serem comprometidos por,
direta ou indiretamente, terem contribuído para a perda da credibilidade
de todo o setor privado brasileiro.
Após a realização de 810 entrevistas com adultos entre 18 e 69 anos, em
nove capitais do país, entre elas, São Paulo, Rio de Janeiro, Belo
Horizonte e Brasília, no primeiro semestre deste ano, a credibilidade
das companhias brazucas caiu de 74,2% registrados em 2010 para 43,8% em
2017.
Dessa maneira, o estudo concluiu que os brasileiros passaram a
demonstrar um nível recorde de descrença e indiferença quanto a
identificação de bons exemplos de ações de responsabilidade social e/ou
ambiental.
Na pesquisa de 2010, apenas um de cada cinco entrevistados tinha essa
visão pessimista. Já em 2017 dois em cada três disseram não reconhecer
exemplos positivos.
As melhores e as piores
O novo cenário apresentou um reforço à imagem da Natura, com um terço
das menções positivas – também fato inédito apontado pela pesquisa –
seguida depois por três multinacionais estrangeiras: Coca-Cola, Nestlé e
Unilever. Fechando o quadro das cinco melhores vem a Petrobrás.
Já entre as cinco piores em sustentabilidade, em primeiríssimo lugar a
JBS (dos célebres irmãos Batista), seguida pela Petrobrás, BRF
(proprietária das marcas Sadia e Perdigão e envolvida na operação Carne
Fraca), Odebrecht (outra grande empresa envolvida na Lava-Jato) e a Vale
(mineradora que, entre outras, é proprietária da Samarco ligada a maior
tragédia ambiental brasileira).
A pesquisa deste ano aponta algumas conclusões interessantes: o fato da
Petrobrás fazer parte das duas listas revela o conhecimento que as
pessoas têm da maior empresa brasileira, mas a citação positiva
espontânea foi de apenas 1,7%, enquanto a negativa chegou a 4,5%
deixando claro que a petroleira terá que aprofundar suas melhores
práticas para superar essa imagem muito ainda associada à corrupção.
Também o fato de empresas estrangeiras ocuparem o espaço de companhias
de capital nacional de maneira inédita nos 12 anos anteriores dessa
pesquisa afasta as nossas empresas da ideia de serem ambientalmente
responsáveis.
Isso, pelo menos, é o que passa pela cabeça dos consumidores. O que,
diga-se de passagem, não parece nada bom para o futuro do capitalismo
praticado por nossos patrícios.
Por fim, o que não surpreende é o fato das grandes empresas envolvidas
nos escândalos de corrupção dos últimos anos serem citadas
espontaneamente como vilãs e inimigas da responsabilidade corporativa.
Um comercial antigo dizia: “imagem não é nada, sede é tudo”! Claro, era
um anúncio de bebida, mas nada mais longe da realidade imagem é sim tudo
e muito mais.
Neste mundo altamente interconectado para se ter uma boa imagem é
preciso fazer tudo certo cada vez mais de maneira cidadã, com
responsabilidade crescente nos quesitos social e da sustentabilidade.
Não atuar desse modo, começa assim como mostra a pesquisa, de uma
lembrança ruim segue rapidamente para a rejeição do consumidor. Uma
coisa leva a outra, rumo à extinção e lembranças nada agradáveis.
(Envolverde)
*Reinaldo Canto é jornalista, Membro do Conselho Editorial da Envolverde
– Revista Digital, colunista de Carta Capital, ex-diretor de
Comunicação do Greenpeace Brasil e do Instituto Akatu, além de professor
e especialista em sustentabilidade.
Fonte: Envolverde
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