Por Daniela Chiaretti | De São Paulo
Não será fácil para Angela Merkel amarrar a coalizão que pode sustentar seu quarto mandato no poder da Alemanha. A aliança de seu partido, a União Democrata Cristã (CDU), com o Partido Democrático Liberal (FDP) e com os Verdes tem arestas difíceis de aparar. Analistas dizem que a negociação deve decolar depois de 15 de outubro, quando haverá eleições no Estado da Baixa Saxônia. Ninguém se arrisca a dizer quando estarão concluídas, nem com qual desenho.
Essa coalizão tripla é a opção que restou a Merkel depois que o Partido Social Democrata (SPD) decidiu não seguir no governo.
Costurar essa aliança será complexo. "Para os Verdes é a grande chance de voltar ao governo. Mas eles têm repetido que não pode ser uma coalizão a qualquer preço", diz o cientista social Thomas Fatheuer. "Uma coalizão com Merkel é sempre um risco. O SPD se deu mal agora, os liberais se deram mal antes. Ela tem uma imagem da 'schwarze Witwe' [viúva negra]: quem casa com ela irá morrer", diz. "Merkel tem grande capacidade e deixa o parceiro sem perfil".
Os liberais do FDP têm em Christian Lindner um novo líder carismático e esperam avançar em sua agenda pró–negócios e de redução de impostos. Mas há grandes diferenças programáticas neste trio. A ala mais à direita da CDU quer, por exemplo, impor um limite ao número de estrangeiros que podem entrar na Alemanha, pauta que confronta a visão dos Verdes.
Do lado dos Verdes, há dois pontos críticos. Merkel se apropriou de parte importante da agenda ambiental depois do acidente de Fukushima, ao anunciar o fechamento das usinas nucleares na Alemanha até 2022. O problema, agora, é o carvão.
A Alemanha continua dependente do carvão, o combustível fóssil mais poluente de todos. Já se sabe que o país não conseguirá cumprir sua meta climática nacional – reduzir a emissão de gases–estufa em 40% até 2020, em relação a 1990. Até o fim de 2016, o que se alcançou foi uma redução de 28% e as emissões subiram, o que torna a meta difícil de ser atingida.
Continuar a usar carvão é um ponto em que os Verdes devem bater. O problema é que tanto a CDU como os liberais têm apoio da indústria alemã, que rejeita a defesa dos Verdes de mais impostos para empresas que gerem energia a partir de fontes fósseis, assim como de um plano para acelerar a transição energética para uma matriz limpa.
Um exemplo concreto pode ser constatado no dia seguinte à eleição. As ações da RWE, uma das maiores empresas da Alemanha e que produz energia a partir do carvão, sofreram uma queda ao redor de 4% na segunda–feira e depois se mantiveram perto desse patamar quando a especulação sobre a coalizão com o Verdes começou a ganhar força.
A CDU ganhou em maio o governo do Estado que mais produz carvão na Alemanha, a Renânia do Norte–Vestfália. A indústria do carvão é obsoleta, mas ela ainda tem um papel econômico nessa região. Para os Verdes, porém, o abandono do carvão é um ponto programático.
Outro ponto crucial para os Verdes é ter soluções efetivas para o "dieselgate", o escândalo do setor automobilístico iniciado pela descoberta da fraude em testes de emissões de poluentes em carros da Volkswagen em 2015 – depois se verificou que outras montadoras faziam o mesmo. A reação da CDU ao caso foi considerada muito moderada e foi muito criticada pelos Verdes. "O lobby da indústria automobilística na Alemanha é tão forte quando o do agronegócio no Brasil", afirmou um ambientalista ao Valor.
Os democrata–cristãos não gostariam de ter uma política restritiva à industria automobilística, e os liberais também não. Grandes indústrias formam a base de apoio de ambos. "Acho a coalizão [com os Verdes] interessante porque vai mexer no sistema e fazer da ecologia algo mais importante", diz Gerhard Dilger, diretor do escritório regional da Fundação Rosa Luxemburgo, ligada ao partido esquerdista Die Linke.
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