Reynaldo Luiz Victória: “É possível produzir muito mais sem desmatar uma árvore”
28.09.2017 • Notícias
Com mais de 40
anos de carreira, Reynaldo Luiz Victória é conselheiro do IPAM e
engenheiro agrícola pela Universidade de São Paulo (USP), pós-doutor na
Universidade da Califórnia e Universidade de Washington. Reynaldo também
assinou a ata de fundação do IPAM e é professor da USP. Para ele, o
desmatamento zero só será alcançado em conjunto com o setor produtivo
pelo diálogo franco, a educação e a comunicação. Os diferentes setores
precisam aprender a escutar e ter paciência para digerir o que não
entendem, lembra Victória.
IPAM – Como você vê a interação entre agronomia e meio ambiente?
Victória – Até meados do século passado,
a agricultura em si sempre foi a atividade humana que mais modificava o
ambiente, foi a partir de 1970 que começou a ter uma consciência de que
se tinha que produzir de uma maneira melhor. Afinal, o ambiente é
finito. Precisamos de uma agricultura sustentável que será a base para
as novas gerações.
IPAM – E quais os caminhos para que isso aconteça de forma efetiva?
Victória – Em primeiro lugar é preciso
investir em educação e em segundo em comunicação. Ainda existe uma falha
de comunicação muito grande entre as pessoas que estão na academia e as
pessoas da iniciativa privada, esses dois setores têm que aprender a
escutar e ter paciência para digerir o que não entendem.
IPAM – Em sua opinião, quais são os maiores desafios que o Brasil vai enfrentar?
Victória – O Trump. O Brasil tem tido
certas posições que tem colocado o país na vanguarda. O que o Brasil fez
nos últimos 20 anos para segurar o desmatamento foi algo fantástico,
infelizmente estão tentando acabar com isso hoje, mas foi um grande
feito. O Brasil, graças a alguns programas de longo prazo, tem falado de
igual para igual com outros países. Por exemplo, temos a tecnologia
quando se trata de bioenergia, o que é ótimo para segurança energética e
segurança alimentar. Enquanto isso, o Trump é uma incógnita que pode
colocar o meio ambiente em risco. É importante o Brasil ter uma posição
firme. Nós temos a Amazônia, temos o Cerrado, se a gente souber
monitorar bem isso será fundamental e o que o IPAM tem feito ajuda
muito.
IPAM – O que você acha que seria preciso para atingir o desmatamento zero legal e ilegal?
Victória – A primeira coisa é que nós
temos que continuar batendo na tecla e dar suporte a programas como
Prodes, que facilitam muito enxergar onde está acontecendo o
desmatamento. É preciso ter conversas mais sérias com o setor produtivo
para intensificar as iniciativas sustentáveis. É possível produzir muito
mais sem ter que desmatar nenhuma árvore. Conseguimos, por exemplo,
produzir etanol suficiente sem abrir mais áreas. E ter organizações do
tipo do IPAM que continuem a bater na tecla é essencial.
IPAM – Ao longo da sua carreira,
que já tem mais de quarenta anos, o que foi mais marcante em relação ao
meio ambiente e à pesquisa?
Victória – Quando eu comecei a trabalhar
na Amazônia, com o pessoal da Universidade de Washington, eu era um
agrônomo que lidava com física e participei de expedições da Amazônia,
um aprendizado fantástico. Dentro de um barco iam oceanógrafos,
agrônomos, físicos, entre outras equipes, o que me permitiu aprender com
uma visão interdisciplinar. Isso foi de fato o que mais marcou. Além de
poder dar oportunidades para muitas pessoas de seguir uma carreira,
como o professor Luiz Martinelli, presidente do Conselho Deliberativo do
IPAM. Eu acho que a minha missão eu cumpri.
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