segunda-feira, 22 de maio de 2017

O Globo – Sustentabilidade é bom negócio / Artigo / Marina Grossi



Marina Grossi é presidente do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável




É possível quadruplicar a produtividade aplicando práticas como a recuperação de pastagens degradadas e a integração de lavoura pecuária floresta




Aciência mostra que não temos tempo a perder e reivindica ações de impacto em relação às mudanças climáticas. Recentemente, a Marcha pela Ciência, originada em Washington, ganhou o mundo com este propósito, em clara resposta às posturas adotadas por Donald Trump. Um estudo recém-lançado pelo Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS) aponta que ignorar esta agenda é, além de um desprezo à ciência, um mau negócio.



O estudo analisa as metas de redução de emissões de gases de efeito estufa que o Brasil assumiu no contexto do Acordo de Paris e conclui que elas abrem inegáveis oportunidades econômicas. Uma janela que pode permitir ao país reordenar seu modelo de desenvolvimento em bases sustentáveis e reposicionar-se de maneira mais competitiva na nova agenda global que vai até 2030.




Estima-se que o setor de floresta e uso da terra, responsável hoje por mais de 50% das emissões do país, passe a contribuir com uma emissão líquida negativa em 2030, removendo 131 milhões tCO2e da atmosfera. Para isso, além de controlar o desmatamento ilegal, devemos impulsionar o uso múltiplo das florestas. 




O aproveitamento de áreas florestadas tem efeito sinérgico com outras metas brasileiras.
Considerando o compromisso de restaurar e reflorestar 12 milhões de hectares até 2030, o plantio de espécies vegetais produtivas é uma dessas oportunidades, pois dá rápido retorno ao investimento. Na cadeia da restauração florestal, a demanda por insumos pode aportar, durante 30 meses, cerca de R$ 13 mil por hectare restaurado.



A agropecuária terá o desafio de aumentar sua produção sem incorporar novas áreas nem ameaças aos biomas. É possível quadruplicar a produtividade aplicando práticas como a recuperação de pastagens degradadas e a integração de lavoura pecuária floresta, além de destacar as oportunidades que surgirão com a criação de novos mercados por meio das cotas de reserva ambiental e dos pagamentos por serviços ambientais, que tornarão menos custosa a eliminação do déficit de manter e/ou recuperar reservas legais e Áreas de Preservação Permanente. Ainda será fundamental intensificar o Programa Agricultura de Baixo Carbono e a já avançada inovação tecnológica.



Já no setor de energia, o crescimento da oferta de fontes renováveis demandará significativa ampliação da capacidade instalada atual, especialmente para a produção de etanol. A NDC (Contribuições Nacionalmente Determinadas, na sigla em inglês) prevê expansão da produção de etanol para 45 bilhões de litros em 2025 e para 54 bilhões em 2030. Também são esperadas a redução nos custos de tecnologias fotovoltaicas e eólicas e a modernização da infraestrutura de geração e distribuição de eletricidade.



A eficiência energética será crucial para a indústria atingir suas metas, assim como a eficiência nos processos: o aproveitamento de resíduos na forma de uma economia circular pode trazer grandes ganhos de receita no longo prazo. Vale ressaltar que 40% do potencial de mitigação do setor permitem rápido retorno do investimento.



Investimentos na infraestrutura de transporte de baixo carbono têm o potencial de reduzir os custos de frete e beneficiar os setores industrial e agropecuário. A integração modal, com a ampliação de transportes aquaviários e ferroviários, pode significar uma redução de mais de 50% no custo total da tonelada transportada por quilômetro. 



Além disso, a eletrificação do modal ferroviário e o desenvolvimento de sistemas híbridos de propulsão em embarcações podem reduzir o consumo energético em até 33%.
Definitivamente, a nova economia de baixo carbono é um bom negócio para o Brasil.

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