Plantio de soja no Brasil expande 310% nos últimos anos e em grande parte sobre áreas de vegetação nativa
Segundo projeções do mercado, em 2018, o Brasil – que já é o maior exportador mundial de soja – , deve se tornar também o maior produtor global do grão, tirando o primeiro lugar dos Estados Unidos. A produção brasileira este ano deve chegar a 117,4 milhões de toneladas, um recorde histórico sobre o volume da commodity exportada.
E como o Brasil está conseguindo superar a produção americana? De acordo com especialistas do setor, os agricultores dos Estados Unidos não têm mais terra para expandir o plantio.
Infelizmente, o que acontece em nosso país é que parte da ampliação do solo cultivado do grão se dá sobre áreas de vegetação nativa da região chamada de Matopiba, que compreende os estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia.
A denúncia é feita pelo relatório Sustentabilidade das cadeias de produção: risco de desmatamento na exportação da soja brasileira, elaborado pela iniciativa global Trase.
O estudo aponta que entre 2001 e 2017, o plantio da soja cresceu 310% apenas no Matopiba, sendo que 65% se fez diretamente sobre vegetação nativa, ao contrário do restante das áreas de Cerrado, onde o cultivo do grão foi feito sobretudo em pastagens (70%).
“A maioria das empresas (80%) com o maior risco de desmatamento por tonelada em todo o Brasil obtêm volumes significativos de soja oriundos desta região. Somente no Cerrado estima-se que 60% da soja foi plantada em propriedades que tinham excedido os limites legais para conversão e portanto, não estão em conformidade com o novo Código Florestal”, afirma o relatório.
Apenas seis grandes empresas (Bunge, Cargill, ADM, Louis Dreyfus, COFCO e Amaggi) foram responsáveis por 57% das exportações de soja no país em 2016. O levantamento da Trase revela que os compradores de grãos destas companhias “podem estar associados a pelo menos dois terços do risco total de desmatamento associado à expansão da soja observados na última década. Os dados da plataforma mostram que, em um ano normal, essas empresas são as únicas compradoras para mais de 100 municípios”.
“A desnecessária conversão de novas áreas de Cerrado como justificativa para a expansão da agricultura no Brasil não tem base econômica e não se adequa aos compromissos de redução do desmatamento assumidos pelo país”, alerta Arnaldo Carneiro Filho, um dos pesquisadores envolvidos no estudo. “Otimizar o uso do solo num sentido mais amplo pode reduzir os impactos socioambientais oriundos da produção da soja. Considerando a expectativa do crescimento da demanda chinesa, é vital promover novas iniciativas de sustentabilidade e parcerias nos países importadores, particularmente na China”, destaca.
E não é só sobre o Cerrado que a soja avança. Mostramos aqui recentemente que a produção do grão, em áreas de desmatamento na Amazônia, é a maior em cinco anos. O plantio em área devastada cresceu 27,5% em relação à safra anterior, indicou um relatório da Moratória da Soja. Mato Grosso concentrou a maior parte (76,2%) das lavouras em floresta destruída.
Outra denúncia feita pelo jornal britânico The Guardian, em fevereiro do ano passado, alertava que florestas do Amapá corriam risco de serem dizimadas por plantações de soja e eucalipto.
O “fechar de olhos” e a conivência de multinacionais, que comercializam e atendem a demanda global pelo grão, com o desmatamento é simplesmente inaceitável. Políticas públicas precisam ser implementadas urgentemente para que companhias que compram soja de áreas desmatadas sejam multadas e punidas criminalmente.
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Nossa fome insaciável por carne está destruindo o planeta
Foto: Alf Ribeiro/divulgação Mighty Earth e gráficos divulgação Trase
Jornalista,
já passou por rádio, TV, revista e internet. Foi editora de jornalismo
da Rede Globo, em Curitiba, onde trabalhou durante seis anos. Entre 2007
e 2011, morou na Suíça, de onde colaborou para várias publicações
brasileiras, entre elas, Exame, Claudia, Elle, Superinteressante e
Planeta Sustentável. Desde 2008 , escreve sobre temas como mudanças
climáticas, energias renováveis e meio ambiente. Depois de dois anos e
meio em Londres, acaba de mudar para os Estados Unidos
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