Por Eduardo Geraque, especial para a UnespCiência –
Cientistas conseguem medir importância que animais selvagens têm nos ciclos biogeoquímicos
Tecnologias modernas de sensoriamento remoto e conjuntos de espécies
saudáveis em seus ambientes, desde as savanas até as florestas
tropicais. Segundo um grupo internacional de pesquisadores, entre eles o
cientista brasileiro Mauro Galetti, da Unesp em Rio Claro, esta pode
ser uma receita que vai ajudar na mitigação das mudanças climáticas
globais. Os cientistas, que publicaram os seus resultados na revista
Science, conseguiram medir a importância que os animais selvagens têm na
natureza em termos de absorção, emissão ou transporte de carbono.
O carbono, apesar de ser um elemento natural, é o grande vilão do
século 21. A maior emissão de dióxido de carbono na atmosfera, por causa
principalmente das atividades humanas, estão aumentando as temperaturas
médias do planeta, segundo milhares de estudos internacionais
publicados na última década. Por isso, entender todos os processos que
envolvem o carbono na atmosfera passa a ser vital para que políticas
públicas de mitigação ao aquecimento global planetário possam surtir
efeito.
Os dados gerados pelo time científico liderado por Oswald J. Schmitz,
da Yale School of Forestry and Environmental Studies, mostrou que a
presença dos animais em determinados ambientes naturais pode aumentar ou
diminuir as taxas dos processos biogeoquímicos entre 15% a 250%, ou até
mais.
“Algum de nós estiveram dizendo por um longo período de tempo que não
é apenas a abundância dos animais que importa. Mas o que estes animais
fazem também é muito importante”, afirma Schmitz, professor de Ecologia
em Yale. “Nós, agora, finalmente, chegamos ao ponto em que existem
fortes evidências para embasar estas ideias”, diz o pesquisador.
Análises experimentais e feitas por meio de observação no campo
mostraram que alterações na abundância dos animais pode causar grandes
mudanças na capacidade dos ecossistemas no armazenamento ou troca de
carbono. Em alguns casos, estas mudanças, em um mesmo ecossistema, faz
com que este ambiente mude seu status. Em vez de ser uma fonte de
carbono para a atmosfera, quando a população animal não é abundante, ele
passa a ser uma região que fixa o carbono, quando os animais são
abundantes.
Nas florestas tropicais, casos da Mata Atlântica ou da Floresta
Amazônica, a conservação de grandes mamíferos mantém vigorosos os
serviços ambientais destes ecossistemas, incluindo a dispersão de
sementes pelos animais frutíferos e o suporte da produção de plantas
pelos herbívoros, o que propicia a fixação de carbono. Um dos estudos
que alimentou a pesquisa mostrou que o incremento de 3,5 vezes de
espécies de mamíferos em uma região fez a retenção de carbono aumentar
em até 400% na mesma região.
A pesquisa publicada na Science levanta um desdobramento importante
em termos da presença humana nos ambientes naturais da Terra. Por meio
da caça, da sobrepesca, da introdução de espécies não nativas e da
destruição das florestas, o homem está definitivamente reduzindo o
tamanho das populações selvagens.
“Se quisermos entender como é o nosso impacto sobre as populações
animais e a influência destes processos sobre os ecossistemas e os
fluxos do carbono, precisamos de ferramentas que nos levem a entender as
últimas consequências do papel que os animais têm nos ciclos
biogeoquímicos”, afirma Chris Wilmers, professor associado de Ecologia e
Mudanças Climáticas na Universidade da Califórnia, em Santa Cruz.
De acordo com os cientistas que participaram do estudo, os resultados
também indicam que os tomadores de decisão precisam considerar nas
políticas públicas o uso de processos ecológicos na recaptura e
armazenamento de carbono atmosférico. “Nossa mensagem é que este
processo pode ser um ganha ganha. Em termos de conservação da
biodiversidade e armazenamento de carbono”, afirma Schmitz.
(#Envolverde)
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