Correio Brasiliense – Aquecimento dos oceanos segue em ritmo acelerado
Pesquisadores chineses alertam que o aquecimento dos oceanos está mais acelerado do que o imaginado. Por meio de análises comparativas de dados colhidos desde a década de 1960, eles concluíram que 2018 é provavelmente o ano mais quente para os mares, superando 2017, que detinha o recorde, e que a tendência é de que, mantido o ritmo do aquecimento global, um novo recordista apareça rapidamente.
As descobertas são resultado de um sistema de observação oceânica chamado Argo, capaz de ajustar dados antigos do movimento dos mares com registros atuais. Em funcionamento há 13 anos, a rede melhorou substancialmente a qualidade do monitoramento oceânico, segundo os autores do artigo. Eles explicam que os avanços permitiram reconstruções de qualidade de registro de temperatura, permitindo traçar um cenário que sinaliza um dos biomas mais afetados pelo aquecimento global.
“Ao absorver cerca de 93% do desequilíbrio energético da Terra criado pelo aumento dos gases das atividades humanas retidos na atmosfera, os oceanos são a principal memória da mudança climática”, ressalta Lijing Cheng, pesquisador da Academia Chinesa de Ciências e um dos autores do estudo, divulgado na última edição da revista Science.
O cenário traçado — de aquecimento acelerado dos oceanos — contribui, segundo os autores, para o aumento do nível dos mares e da intensidade de chuvas e tempestades. Esses dois últimos fenômenos estão ficando cada vez mais fortes e duradoras, como o Harvey, ocorrido em 2017 no estado do Texas, nos Estados Unidos, e o furacão Florence, que atingiu as Filipinas no ano passado. Declínios nas camadas de gelo, geleiras e calotas polares, acompanhados de redução dos níveis de oxigênio oceânico e da destruição dos recifes de corais, também acompanham o aquecimento dos oceanos.
Projeções
Os modelos climáticos construídos pelos cientistas chineses projetam o aquecimento contínuo dos oceanos neste século. De acordo com os cientistas, se nenhuma ação for tomada, oceanos acima de 2 mil metros aquecerão até 2.020 zeta joules (unidade de medida de calor) até 2081–2100. O valor equivale a cerca de seis vezes mais que o aquecimento total dos oceanos registrado nos últimos 60 anos.
“O aquecimento oceânico observado desde o fim dos anos de 1950 é impulsionado principalmente pelo acúmulo de gases de efeito estufa na atmosfera em decorrência das atividades humanas. Então, essencialmente, para evitar que os oceanos se aqueçam, devemos reduzir a emissão de carbono”, diz ao Correio Lijing Cheng, também autor do estudo e pesquisador da Academia Chinesa de Ciências.
O cientista cita o uso de energia limpa, em vez de combustíveis fósseis, como uma das alternativas para o problema. “Em 2018, o IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) publicou um relatório especial sobre os impactos do aquecimento global. Eles detalharam muitos caminhos para limitá–lo. E, em setembro de 2019, o IPCC publicará outro relatório especial com foco no oceano e na criosfera. Nesse relatório, revisaremos a literatura para avaliar completamente o aquecimento dos oceanos, seus impactos e também a adaptação humana ecossistêmica ao aquecimento”, frisa Lijing Cheng, principal autor do próximo documento.
"Ao absorver cerca de 93% do desequilíbrio energético da Terra criado pelo aumento dos gases das atividades humanas retidos na atmosfera, os oceanos são a principal memória da mudança climática”
Lijing Cheng, um dos autores do estudo e pesquisador da Academia Chinesa de Ciências.
Nenhum comentário:
Postar um comentário