Quais são os maiores riscos que ameaçam o mundo hoje? Um cínico poderia reclamar que a lista é tão deprimentemente longa que sequer faz sentido tentar escolher: populismo, ciberataques, guerras comerciais, choques climáticos e endividamento mundial estão todos em ascensão.
No entanto, durante os últimos dez anos o Fórum Econômico Mundial (FEM) pediu a seus membros que fizessem uma classificação de suas preocupações em termos de probabilidade e de impacto, antes de sua reunião anual em Davos. E, embora essa pesquisa seja limitada em termos de âmbito - os membros do FEM provêm, naturalmente, da elite mundial de executivos corporativos, autoridades governamentais, ativistas de ONGs e da mídia --, os resultados, mesmo assim, dão o que pensar.
A "lista de preocupações" deste ano está dominada por preocupações com a mudança climática: os participantes da reunião de Davos aparentemente temem que episódios climáticos extremos estejam ficando mais comuns, e que o mundo não disponha de qualquer mecanismo eficaz para reagir. Questões climáticas respondem por três em cada cinco riscos considerados mais passíveis de se concretizar em 2019 - e por quatro dos cinco riscos mais citados como capazes de causar o maior dano. Os únicos outros tópicos citados são armas de destruição em massa e riscos ligados ao espaço virtual.
As declarações dos ex-presidentes do Fed sobre riscos climáticos apontam para uma tendência potencial maior para 2019. Esperemos que isso desencadeie mais medidas tangíveis do que as que vimos no cenário da reforma financeira dez anos atrás
Isso pode parecer trivial. Afinal, a pesquisa foi realizada no quarto trimestre de 2018, um ano marcado por acontecimentos climáticos extremos, que, pelo que está ficando claro, estão prejudicando os resultados de algumas empresas. A Pacific Gas and Electric é apenas o último exemplo disso - além de uma advertência.
Mas o que é mais impressionante é como essa lista de preocupações mudou desde que o Fórum começou sua pesquisa. Dez anos atrás, o que preocupava os participantes da reunião de Davos era a economia e o sistema financeiro. Quando perguntados sobre quais perigos eram os mais tendentes a se concretizar, eles citavam "o colapso dos preços dos ativos" e a "desaceleração da economia chinesa" em primeiro lugar. E os riscos percebidos como causadores dos maiores prejuízos eram "o colapso dos preços dos ativos", o "recuo da globalização", "a alta do preço do petróleo e do gás" e "as crises fiscais". O único problema não financeiro citado era "a pandemia". O meio ambiente não foi mencionado nenhuma vez.
Essas questões econômicas continuaram a dominar nos anos seguintes. Mas em 2015 o risco de agitação social e de conflitos intergovernamentais (ou seja, guerra) subiram repentinamente na lista de preocupações, desbancando, em parte, preocupações de ordem econômica. Depois, em 2018, questões de mudança climática e problemas do espaço virtual passaram, de repente, a dominar. E neste ano a oscilação foi além - tanto que os problemas econômicos não chegam sequer a figurar entre os cinco maiores. Em outras palavras: dez anos atrás a elite do Fórum estava aparentemente tão obcecada pelo medo de o sistema financeiro entrar em colapso que não teve tempo para se preocupar com o meio ambiente. Agora está tão alarmada com o colapso do planeta e/ou da internet que os riscos econômicos são menos importantes.
Qual é o recado que os investidores (ou os formuladores de políticas públicas) deveriam extrair disso? Um otimista poderia argumentar que a mudança reflete o progresso das políticas de governo. Afinal, os governos ocidentais estabilizaram o sistema financeiro desde a crise, ao obrigar os bancos a expandir suas reservas de capital, e o crescimento mundial vem se mostrando surpreendentemente estável - pelo menos até agora.
Já um pessimista poderá apontar para outra interpretação, igualmente plausível: os participantes da reunião de Davos se deixam distrair facilmente.
Sim, eles conseguem vislumbrar perigos pouco antes de eles se concretizarem, e se preocupar com eles quando são visíveis. Mas são capazes também de ostentar um perigoso excesso de autoconfiança com relação a outras questões. Assim, para mim, o fato de que a elite mundial não está preocupada com o risco financeiro, as perspectivas de crescimento ou os crescentes níveis de endividamento é um sinal de que os investidores deveriam despertar para essas questões.
Talvez a conclusão mais prática da pesquisa é o fato de ela sinalizar qual poderá ser o próximo ponto de intensificação da ação de política pública. Pense nisso. A explosão de preocupação sobre o sistema financeiro em 2008 levou a uma reforma financeira significativa. O crescente temor em torno da migração em 2016 desencadeou uma reação política. Receios de ataque cibernético subiram na lista no momento em que o setor de cibersegurança entrou em surto de crescimento.
Com base nisso, a principal conclusão da lista dos participantes da reunião de Davos pode ser a de que os investidores deveriam preconizar, atualmente, mais medidas climáticas. Isso pode parecer difícil de acreditar se você estiver observando os movimentos do governo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, neste momento. Mas, no mínimo, Trump sem querer concentrou as opiniões entre seus adversários.
Ou, em outros termos, as declarações dos ex-presidentes do Federal Reserve (Fed, o BC dos EUA) e de vários laureados com o Prêmio Nobel sobre riscos climáticos publicadas no "Wall Street Journal" na última quarta-feira apontam para uma tendência (e um tema) potencial maior para 2019.
Esperemos que ela desencadeie ainda mais medidas tangíveis do que as que vimos no cenário da reforma financeira dez anos atrás - e que sejam mais eficazes. (Tradução de Rachel Warszawski)
Gillian Tett é articulista do FT
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