Por Cristiane Sampaio | Brasil de Fato
A preocupação do povo indígena com a preservação de sementes naturais saltou da realidade para o universo da literatura infantil. Recém-publicado pela editora Expressão Popular, o livro “O sopro da vida”, de autoria do escritor indígena Kamuu Dan Wapichana, traz à tona a temática, que está entre os aspectos centrais da luta pela preservação do cerrado brasileiro, alvo de intensa especulação agrária por parte de ruralistas e multinacionais do setor.
De acordo com Wapichana, embora não indique diretamente o nome de lugares específicos, o enredo foi inspirado na história do Santuário dos Pajés, em Brasília (DF), território indígena onde vive o autor.
Para Kamuu, a história do Santuário reflete a realidade de diferentes comunidades populares do Brasil que trabalham pela manutenção da riqueza natural do cerrado – região marcada pela diversidade de sementes naturais, como copaíba, sucupira, milho, jatobá, urucum e outras.
Com base nisso, o autor criou, para o livro, uma narrativa conduzida pelo menino Win Dan, de 4 anos, que pretende salvar as chamadas “plantas bebês”, numa referência às sementes naturais.
O personagem tem o mesmo nome do filho mais novo do escritor e, segundo Kamuu, a história foi tecida a partir da tentativa de deixar para a criança um legado voltado à importância da conservação da natureza.
“É numa perspectiva de que ele faça a mesma coisa de tratar bem o cerrado, a água, de ver a riqueza do cerrado no meio de uma situação urbana, aí nasce ‘O sopro da vida’”, afirma o escritor, que é autor também do livro “A árvore dos sonhos”, obra que ficou em segundo lugar no Concurso FNLIJ/UKA Tamoios de Textos de Escritores Indígenas em 2016.
Servidor da Funai desde a década de 1990, Wapichana atua também como educador social em escolas de Brasília para divulgar a cultura indígena por meio de atividades que promovem a consciência ambiental. Com a publicação de “O sopro da vida”, o autor espera potencializar o trabalho.
“As pessoas não estão percebendo este contexto que está ocorrendo. O nosso mundo começa a entrar em colapso por conta do tema ambiental, que é o que eu trago pras crianças, pras elas começarem a perceber isso e tratarem bem as sementes, porque só com as sementes vamos ter floresta. E tem que ser agora, tem que ser urgente”, complementa.
Produzidas geralmente por indígenas, quilombolas e agricultores familiares, essas variedades hoje estão ameaçadas pelo crescimento dos latifúndios, que produzem em larga escala e se dedicam especialmente a cultivos como os de soja e milho.
“Nós não sabemos o que estamos consumindo nos mercados. A maioria dos produtos feitos do milho, por exemplo, é transgênica. Eles [os ruralistas] cada vez mais devastam o nosso território e comercializam sementes que não são mais as naturais da nossa região, então, a gente precisa resgatar urgentemente essas sementes tradicionais, senão daqui a um tempo não tem mais como plantar”, defende o escritor.
“Como eu não tive essa oportunidade de ter a língua wapichana dentro da escola, tenho uma satisfação imensa de poder ajudar [as novas gerações]. Os parentes ficaram super contentes com isso. O Brasil tem 274 línguas indígenas e não valoriza essa diversidade. Então, o livro é uma maneira de valorizar inclusive o povo brasileiro, que tem toda essa riqueza”, conta.
“Pra nós, a floresta é nossa morada, a terra é nossa mãe e a água é nossa irmã. Tem vários elementos que a gente não pode dissociar, e um deles são as sementes. Não podemos perdê-las porque, quando a gente perde uma árvore, morre também um ser dentro da gente. Na minha visão como indígena, vejo as plantas como irmãs e as sementes como bebês, por conta do cuidado que a gente tem com elas. Eu sou parte desse grande todo e dessas sementes. Eu também sou uma semente”, poetiza Wapichana.
Já lançada em Brasília (DF) e em Boa Vista (RR), a obra tem previsão de lançamento também em Pernambuco, Rio de Janeiro, São Paulo e Goiânia.
A preocupação do povo indígena com a preservação de sementes naturais saltou da realidade para o universo da literatura infantil. Recém-publicado pela editora Expressão Popular, o livro “O sopro da vida”, de autoria do escritor indígena Kamuu Dan Wapichana, traz à tona a temática, que está entre os aspectos centrais da luta pela preservação do cerrado brasileiro, alvo de intensa especulação agrária por parte de ruralistas e multinacionais do setor.
De acordo com Wapichana, embora não indique diretamente o nome de lugares específicos, o enredo foi inspirado na história do Santuário dos Pajés, em Brasília (DF), território indígena onde vive o autor.
Santuário dos Pajés
Alvo de aliciamento constante de construtoras que, ao longo da última década, ocuparam parte da área para expandir prédios de luxo numa nova zona residencial da cidade, a comunidade do Santuário trava uma disputa permanente pela preservação do terreno, marcado pela vegetação do cerrado e por uma rica variedade de espécies botânicas da região.Para Kamuu, a história do Santuário reflete a realidade de diferentes comunidades populares do Brasil que trabalham pela manutenção da riqueza natural do cerrado – região marcada pela diversidade de sementes naturais, como copaíba, sucupira, milho, jatobá, urucum e outras.
Com base nisso, o autor criou, para o livro, uma narrativa conduzida pelo menino Win Dan, de 4 anos, que pretende salvar as chamadas “plantas bebês”, numa referência às sementes naturais.
O personagem tem o mesmo nome do filho mais novo do escritor e, segundo Kamuu, a história foi tecida a partir da tentativa de deixar para a criança um legado voltado à importância da conservação da natureza.
“É numa perspectiva de que ele faça a mesma coisa de tratar bem o cerrado, a água, de ver a riqueza do cerrado no meio de uma situação urbana, aí nasce ‘O sopro da vida’”, afirma o escritor, que é autor também do livro “A árvore dos sonhos”, obra que ficou em segundo lugar no Concurso FNLIJ/UKA Tamoios de Textos de Escritores Indígenas em 2016.
Educação Ambiental
Indicado para crianças da faixa etária do ensino fundamental, o novo livro nasce também da necessidade do autor de ter um material de referência para promover a educação ambiental na formação infantil.Servidor da Funai desde a década de 1990, Wapichana atua também como educador social em escolas de Brasília para divulgar a cultura indígena por meio de atividades que promovem a consciência ambiental. Com a publicação de “O sopro da vida”, o autor espera potencializar o trabalho.
“As pessoas não estão percebendo este contexto que está ocorrendo. O nosso mundo começa a entrar em colapso por conta do tema ambiental, que é o que eu trago pras crianças, pras elas começarem a perceber isso e tratarem bem as sementes, porque só com as sementes vamos ter floresta. E tem que ser agora, tem que ser urgente”, complementa.
Militância
O tema abordado na obra se conecta diretamente com a militância popular contra o avanço de alimentos geneticamente modificados, os chamados “transgênicos”, associados às práticas do agronegócio. Kammu Dan Wapichana lembra que o modelo de produção contrasta com a defesa e a preservação das sementes naturais, também nomeadas de “sementes crioulas”.Produzidas geralmente por indígenas, quilombolas e agricultores familiares, essas variedades hoje estão ameaçadas pelo crescimento dos latifúndios, que produzem em larga escala e se dedicam especialmente a cultivos como os de soja e milho.
“Nós não sabemos o que estamos consumindo nos mercados. A maioria dos produtos feitos do milho, por exemplo, é transgênica. Eles [os ruralistas] cada vez mais devastam o nosso território e comercializam sementes que não são mais as naturais da nossa região, então, a gente precisa resgatar urgentemente essas sementes tradicionais, senão daqui a um tempo não tem mais como plantar”, defende o escritor.
Bilíngue
Outro aspecto de realce na obra é o caráter inclusivo do material, cuja edição é bilíngue, sendo publicada em português e em wapichana, idioma nativo dos pais do autor. Para Kamuu, a obra colabora com a promoção da cultura e da literatura indígenas, além de enriquecer o acervo da língua, ainda precário. O idioma é falado por comunidades do interior de Roraima, estado onde nasceu o escritor.“Como eu não tive essa oportunidade de ter a língua wapichana dentro da escola, tenho uma satisfação imensa de poder ajudar [as novas gerações]. Os parentes ficaram super contentes com isso. O Brasil tem 274 línguas indígenas e não valoriza essa diversidade. Então, o livro é uma maneira de valorizar inclusive o povo brasileiro, que tem toda essa riqueza”, conta.
Simbiose
Para o autor, o livro é também um meio de valorização da interação entre homem e natureza, uma combinação de destaque na cosmovisão indígena, cujos ensinamentos atravessam tempos e gerações na busca por uma relação saudável entre as duas partes.“Pra nós, a floresta é nossa morada, a terra é nossa mãe e a água é nossa irmã. Tem vários elementos que a gente não pode dissociar, e um deles são as sementes. Não podemos perdê-las porque, quando a gente perde uma árvore, morre também um ser dentro da gente. Na minha visão como indígena, vejo as plantas como irmãs e as sementes como bebês, por conta do cuidado que a gente tem com elas. Eu sou parte desse grande todo e dessas sementes. Eu também sou uma semente”, poetiza Wapichana.
Já lançada em Brasília (DF) e em Boa Vista (RR), a obra tem previsão de lançamento também em Pernambuco, Rio de Janeiro, São Paulo e Goiânia.
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