O Greenpeace Internacional lançou relatório que
descreve o impacto do modelo atual de produção de proteína animal para o
agravamento da emergência climática e o peso da responsabilidade do governo
brasileiro e de gigantes do setor, a começar pela JBS, no agravamento de
conflitos sociais e de epidemias como a que estamos vivenciando nos últimos
meses no mundo inteiro.
O relatório faz parte de uma campanha do Greenpeace
Reino Unido contra a Tesco, exigindo da maior rede de supermercados do país que
pare de levar a seus consumidores carne e laticínios de empresas envolvidas na
destruição da Amazônia e Cerrado e reduza drasticamente a quantidade de carne
que vende até 2025.
O objetivo da campanha é pressionar o mercado por
mudanças nos padrões de produção e oferta de produtos associados ao
desmatamento e conflitos, para mitigar o impacto desta cadeia sobre ambientes
naturais e proteger as pessoas, a vida selvagem e o clima.
O relatório “How JBS is still slaughtering the
Amazon” (Como a JBS continua devorando a Amazônia), mostra como o
atraso da maior empresa de proteína animal do mundo em honrar sua promessa de
fechar as portas para o desmatamento, feita há mais de uma década, tem trazido
impactos irreversíveis no chão da floresta.
O relatório também descreve a diminuição da
transparência da JBS em relação à origem de seus fornecedores. Segundo o
documento, a companhia tem retrocedido de forma sistemática na oferta de
informações sobre seus fornecedores diretos nos canais próprios de comunicação
institucional.
Imagens do relatório divulgado no dia 5 de agosto de 2020.
Contagem regressiva
A produção de carne em escala industrial, que inclui a abertura de
terras para a produção de carne bovina e o cultivo de soja como ração
animal, é o maior impulsionador do desmatamento em todo o planeta.
A JBS é a maior produtora industrial de carne do
mundo, controlada por uma das famílias envolvidas em um dos maiores escândalos
de corrupção do Brasil, e determinante para o futuro da Amazônia. Uma companhia
grande demais para se dar ao luxo de falhar ou adiar compromissos com a
sociedade.
Uma nova investigação do Bureau of Investigative Journalism e do Repórter Brasil,
também revelou, pela primeira vez, que a JBS não está apenas fechando
os olhos às violações de seus fornecedores, mas está diretamente
implicada no transporte de gado originado de região com desmatamento
para um de seus próprios fornecedores diretos.
Imagem: Greenpeace
“É urgente que compradores de commodities
associadas ao desmatamento – empresas de fast food, supermercados – cumpram
seus compromissos de rastrear, de ponta a ponta, a cadeia de fornecedores como
condição comercial para a continuidade de contratos, ao mesmo tempo em que
devem ampliar drasticamente a oferta de produtos à base de plantas”, publicou o
Greenpeace Brasil em seu site.
Tanta demora e frustração no cumprimento de
compromissos, além da emergência climática atual, somada ao desmatamento fora
de controle, levaram investidores e mercados do mundo todo a se
manifestar.
No final de julho o banco europeu de investimentos Nordea Asset anunciou que irá retirar os investimentos
na JBS, de R$ 240 milhões em ações.
Sociedade exige ação
Foco de calor direto em floresta, próximo a área recém desmatada, com alerta Deter, em Alta Floresta (MT). Foto: Christian Braga | Greenpeace
Em junho, a Amazônia teve o maior número de focos de queimadas e
incêndios florestais desde 2007, enquanto o desmatamento na região nos
meses de maio, junho e julho também já são maiores em comparação com o
mesmo período do ano passado.
E a alta continua. Mesmo com o recente Decreto
10.424, de 15 de julho de 2020, estabelecendo a proibição de uso do fogo nos
Biomas Amazônia e Pantanal por 120 dias, 15 dias após a publicação do Decreto,
a Amazônia registrou 1.007 focos de calor em um único dia, sendo este o pior
índice desde 01 de janeiro de 2020, evidenciando que a Moratória do governo é
medida totalmente insuficiente.
Esses incêndios liberam milhões de toneladas de CO2
na atmosfera, acelerando as mudanças climáticas. Eles também matam a vida
selvagem, causam dificuldades respiratórias e problemas de saúde a longo prazo
para milhões de brasileiros e ameaçam a existência de povos indígenas. Além
disso, quanto mais floresta se perde, maior o risco de futuras pandemias.
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