segunda-feira, 7 de dezembro de 2020

Governo minimiza números do desmatamento, dizem especialistas

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Governo minimiza números do desmatamento, dizem especialistas

Cristiane Prizibisczki
quarta-feira, 2 dezembro 2020 18:08
Coletiva com o ministro de Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), Marcos Pontes, 
o Vice-Presidente da República, Hamilton Mourão, que preside o Conselho da Amazônia, 
e o diretor do INPE, Clezio Marcos De Nardin. Foto: Leonardo Moraes/ASCOM/MCTI.

A atitude do governo Federal em relação à alta no desmatamento na Amazônia, divulgada na última segunda-feira (30) pelo vice-presidente Hamilton Mourão, tem recebido críticas de especialistas e de pesquisadores do próprio instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), responsável pela medição.

Segundo o programa Prodes, do INPE, o desmatamento na Amazônia subiu 9,5% entre 2019 e 2020 e atingiu a marca de 11.088 km² de floresta perdida em um ano.

Durante a transmissão de divulgação dos dados e posteriormente na coletiva de imprensa sobre o assunto, na segunda-feira, Mourão ressaltou, em diferentes ocasiões, que a expectativa do governo era que o resultado seria duas vezes maior do que o número divulgado e que isso “significa que os esforços que estão sendo empreendidos começam a render frutos”.

“Havia uma expectativa, ou até estimativa, que o resultado atual que fosse ser divulgado nos daria um aumento de 20% do que ocorreu o ano passado, foi um pouco menos da metade disso aí […]”, disse o vice-presidente.

Na manhã da terça-feira, Mourão voltou a relativizar os números. “Vamos dizer o seguinte: foi menos pior. Essa é a realidade. Podia ser pior ainda”, disse, a jornalistas, ao chegar ao Palácio do Planalto.

Para especialistas, a atitude é perigosa.

João Paulo Capobianco, biólogo e ambientalista brasileiro, presidente do Instituto Democracia e Sustentabilidade (IDS), disse em evento online na manhã desta quarta-feira que houve uma clara intenção do governo em minimizar a importância do número. “Foi uma divulgação positiva de um número catastrófico. […] A fala é preocupante, de que foi uma pequena variação. Ora, quase 10% é uma grande variação”, disse.

“O que estamos vendo é um momento em que o governo que anuncia que teria sido esperado um número maior, vende um número menor, mas que é muito ruim […] O que tem para comemorar aí? Nada!”, disse o especialista em sensoriamento remoto, Gilberto Câmara.

Em texto publicado também nesta quarta-feira, os pesquisadores do INPE Maria Isabel Sobral Escada e Antônio Miguel Vieira Monteiro comentaram os números e a forma como foram apresentados pelo governo.

“Durante o evento de divulgação da taxa, foi mencionado que se especulava um aumento em torno de 20%, o que não se confirmou com os dados apresentados. Ao estabelecer esse elevado patamar de aumento na taxa de desmatamento, sem base em dados concretos, a diferença de 9,5% de aumento da atual taxa pode parecer pequena e pouco relevante. Porém, não podemos nos deixar enganar por esse artifício, o aumento apresentado é bastante significativo e sinaliza a falta de eficácia nas ações de controle e combate ao desmatamento”, disseram os pesquisadores.

Os especialistas também demonstram preocupação com a tendência de alta apontada pelas medições.

“Em relação à taxa de 2019, a diferença foi superior a 1.000 km2, o que não é pouco. Somado a isso, a taxa de desmatamento tem se mostrado crescente e, desde de 2019, tem se mantido em um patamar elevado, atingindo mais de 10.000 km2, sendo o aumento entre 2018 (7.536 km2) e 2019 (10.129 km2) de cerca de 34%, o mais elevado desde 2012”, disse a nota dos pesquisadores do órgão.

Outro aspecto importante dos dados divulgados pelo Instituto é o avanço da motosserra em áreas antes preservadas.  “O Estado do Amazonas, por exemplo, é o que apresenta a maior área contínua e íntegra de floresta dos estados que compõem a Amazônia Legal, porém, nos últimos anos, tem apresentado uma curva crescente nas taxas de desmatamento. […] Esse dado é preocupante e nos mostra o avanço da fronteira de ocupação na Amazônia Legal rumo às regiões mais isoladas”, complementam Maria Izabel Escada e Antônio Monteiro.

 

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