quinta-feira, 25 de março de 2021

Aliança pela ‘renaturalização’ do planeta quer reconstituir mais de 100 milhões de hectares de terra e mar em mais de 70 países

 

Aliança pela ‘renaturalização’ do planeta quer reconstituir mais de 100 milhões de hectares de terra e mar em mais de 70 países

Em novembro de 2020, organizações e conservacionistas de todos os continentes – que representam algumas das maiores iniciativas de conservação e restauração de ecossistemas do mundo – se uniram para criar um movimento ao qual deram o nome de Global Rewilding Alliance (Aliança Global de Renaturalização, em tradução livre).

Hoje são 115 participantesentre eles a IUCN, uma das maiores organizações de conservação do mundo, que produz a lista vermelha de espécies em extinção -, aos quais se juntaram mais de 3.200 parceiros como comunidades locais, proprietários de terras, povos indígenas, consórcios de terras, ONGs, governos, corporações, instituições, filantropos, bancos privados e bancos de desenvolvimento multinacionais. 

Seu objetivo é reconstituir mais de 100 milhões de hectares – ou 1 milhão de km – de terra e mar em mais de 70 países.

Essa iniciativa surgiu durante o WILD11 – 11º Congresso Mundial de Conservação, organizado pela WILD Foundation, em março do ano passado, na Índia. 

Durante o encontro, os participantes redigiram a Carta Global para Renaturalização da Terra (Global Charter of Rewilding the Earth), que serviu como documento-base para a criação da Aliança Global de Renaturalização.

E ainda no ano passado, a iniciativa se tornou parceira oficial da Década da Restauração de Ecossistemas (2021-2030), declarada em março de 2019 e lançada oficialmente em novembro último pela ONU.

O que é renaturalizar

O que move os integrantes desse movimento é a ideia de que somente a restauração e a recuperação de áreas selvagens degradadas pode garantir um futuro próspero para as pessoas e todos os seres que vivem no planeta”.

Se inspiram nas palavras de Sir David Attenborough: “Para restaurar a estabilidade do nosso planeta, devemos restaurar sua biodiversidade, devolver exatamente o que removemos. É a única maneira de sair desta crise que criamos – devemos redesenhar o mundo“.

Renaturalizar é re-naturalizar, tornar natural novamente, recuperar a natureza. Não é apenas proteger o que resta, mas recuperar tudo o que foi perdido.

É reintroduzir espécies perdidas e restaurar espécies ameaçadas, restabelecer processos ecológicos e regenerar ecossistemas para estabilizar o clima, deter a extinção em massa e evitar a manifestação de novas pandemias.

Foto: Divulgação/Greenpeace

Para alcançar seu objetivo, a Aliança Global de Renaturalização quer envolver o maior número de pessoas no planeta, acelerando e mobilizando “o poder de cada uma para recriar a Terra“.

Sim, a natureza selvagem é nossa maior aliada!

Como declarou a jovem ativista climática Greta Thunberg, ao compartilhar o vídeo em suas redes sociais, “proteger, restaurar e redesenhar o mundo vivo é provavelmente a solução mais eficaz que temos à mão para combater as emergências climáticas e ecológicas“.

Re-naturalizar é um bom e simpático caminho para reduzir nossa pegada no planeta.

Você está pronto?

Para ajudar a expandir a consciência sobre o crescente movimento global de reflorestamento e a necessidade urgente de proteger e restaurar ecossistemas, a aliança lançou o Dia Mundial da Renaturalização20 de março -, que foi muito celebrado nas redes sociais no último sábado.

E, para marcar esta data, o movimento compartilhou um vídeo (que você pode assistir no final deste post) no qual explica o que é rewilding, porque é tão vital para a humanidade e faz um convite com uma pergunta contundente: Are You Ready to Rewild?

Seria mais ou menos o mesmo que dizer: Você está pronto para renaturalizar nosso planeta? Para proteger e restaurar os ecossistemas? Para contribuir com a restauração da Terra? Para o retorno da vida selvagem?

Para compartilhar sua ideia nas redes sociais, use a hashtag #ReadyToRewild.

Como participar

Uma das tarefas fundamentais da Aliança diz respeito a facilitar a troca de experiências e de idéias entre seus membros, mas também criar oportunidades de aprendizagem para pessoas interessadas fora da rede porque isso pode acelerar a implementação da rewilding, como também ampliar o movimento de reflorestamento.

Muitos de seus membros estão envolvidos na educação e em atividades de aprendizagem, como é o caso da European Rewilding Network. E já existem uma Academia de Rewilding e um professor de Ecologia de Rewilding!

Mas a Aliança não quer apenas disseminar materiais para aprendizagem, como também criar novas oportunidades sobre questões críticas não contempladas pela rede, por meio de ferramentas diferenciadas, interações online e compartilhamento de conhecimento e experiências baseados em projetos.

Para tanto, dedica uma página em seu site na qual é importante navegar. Nela, você encontra informações básicas como também artigos científicos publicados em revistas especializadas como Nature e Science. E ainda pode se conectar com profissionais em sua área de interesse, conhecer diferentes oportunidades de aprendizagem e, ainda, os 12 Princípios para Rewilding.

A Aliança ainda preparou um guia introdutório no qual explica a rewilding e seu movimento global.

Por fim, a Aliança Global de Renaturalização propõe que todos os interessados se inscrevam – nesta página – para receber atualizações a respeito do tema e o guia introdutório para se tornar um especialista em renaturalização.

Projetos no Brasil

Ilha do Bananal – Foto: Divulgação/Prefeitura de Tocantis

Na América Latina, são dezesseis as instituições e comunidades que participam da Aliança Global de Renaturalização e estão concentradas no Chile, na Argentina e no Brasil. 

Na Patagônia está uma das organizações mais atuantes, que vem trabalhando com renaturalização há quase três décadas – em parceria com comunidades, organizações e governos e apoio público – e mantém uma iniciativa de reflorestamento considerada a mais ambiciosa nas Américas: a Tompkins Conservation

A Tompkins vem restaurando habitats e reintroduzindo espécies-chave como a onça-pintada, a lontra gigante do rio e a ema de Darwin, entre outras. E, com parceiros públicos e privados – entre eles a Fundación Rewilding Argentina (com a qual instituições brasileiras têm parceria) -, a organização impulsionou a criação de 13 parques nacionais, protegendo 14,5 milhões de acres (ou 5,8 milhões de hectares).

No Brasil, as iniciativas se espalham por variadas regiões do país.

Um dos projetos de renaturalização em andamento envolve a Associacao Sociocultural Yawanawa (ASCY) do povo indígena Yawanawa, que vive no oeste do Acre, administra cerca de 250 mil hectares de floresta primária e integra a aliança. 

No Pantanal, Mato Grosso do Sul, está o Instituto Homem Pantaneiro – IHP (contato); em Curitiba, no Paraná, a SPVS – Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental; no Espírito Santo, o Instituto Pró-Tapir; em Siderópolis, Santa Catarina, o Instituto Felinos do Aguaí; e no Pontal do Paraná, a Associação Mar Brasil.

Mas o maior deles talvez seja o que está sendo implantado pelo Instituto Araguaia de Proteção Ambiental no Corredor Ecológico Bananal-Araguaia, uma área com 4 milhões de hectares no coração do país, “onde o Pantanal, a Amazônia e o Cerrado se encontram”.

A área inclui a Ilha do Bananal, a maior ilha de água doce do mundo, com dois milhões de hectares, que abriga 20 aldeias indígenas das etnias KarajaJavaé e Ava-Canoeiro, além de um Parque Nacional de 180 mil hectares.

Com um detalhe: em área adjacente ao Parque Nacional, está o Parque Estadual do Cantão, com 90 mil hectares, um dos mais intocados santuários do igapó amazônico (floresta inundada) no país.

Agora, assista ao vídeo-convite da Aliança Global de Renaturalização:

Fotos: Divulgação/Global Rewilding Alliance (destaque) e reproduções do vídeo


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