Enquanto se gastam bilhões com viagens ao espaço, área de proteção ambiental no Texas sofre com impactos dos testes da SpaceX
Nos últimos meses já foram três viagens diferentes. Bilionários realizando o grande sonho de ir para o espaço. Em julho foi Jeff Bezos, o fundador da Amazon, que embarcou no primeiro voo particular da história, a bordo da Blue Origin, fabricada pela sua empresa de “exploração espacial”. Milhões de dólares – e combustível fóssil liberado no atmosfera -, para a experiência que durou pouco mais de dez minutos. Algumas semanas antes, outro empresário, Richard Branson, já tinha feito algo parecido. Ao lado de outras cinco pessoas, ele fez parte da missão Unity 22, e durante cerca de uma hora, pode ver a Terra de seu voo suborbital. A mais recente aventura, que ainda está em curso, foi promovida pela SpaceX, companhia de Elon Musk, que na última quarta (15/09), lançou quatro tripulantes que ficarão três dias ao redor da órbita do planeta.
Mesmo que após cada uma dessas viagens os bilionários envolvidos tenham feito declarações sobre a necessidade da proteção ao planeta, e também, tirado do bolso alguns milhões de dólares para doações a projetos aqui em Terra, esse investimento gigantesco na exploração espacial tem gerado muitas críticas. Além de ser um dinheiro que poderia financiar ações essenciais para combater a crise climática, por exemplo, ou qualquer outro dos inúmeros desafios enfrentados atualmente pela humanidade – pandemia, distribuição equalitária de vacinas, fome, falta de acesso à educação, só para citar alguns -, especialistas apontam o enorme impacto ambiental que o envio desses foguetes e aeronaves podem causar. E já estão causando!
Uma das bases de teste e lançamento da SpaceX fica localizada na região de Boca Chica, ao sul do Texas, próximo ao Golfo do México, uma área rodeada por reservas de proteção natural, entre elas, o Refúgio Nacional de Vida Selvagem do Vale Rio Grande, que possui planícies de maré, praias, pastagens e dunas costeiras, habitat de diversas espécies da fauna e da flora.
Acontece que cada vez que um foguete é lançado ao espaço, milhares de destroços voltam à Terra após sua partida. Foi exatamente isso que aconteceu em março, com a espaçonave Starship. Depois de seis minutos subindo, ela voltou ao chão, em meio à chamas e muita fumaça.
“Eu sabia por outras explosões que o foguete se espalharia por todo o refúgio. A limpeza demorou três meses para ser feita”, contou David Newstead, diretor da organização não-governamental Coastal Bend Bays and Estuaries ao jornal The Guardian.
A região de Boca Chica é abrigo e berçário de aves marinhas e tartarugas,
que encontram ali, ou pelo menos encontravam, antes da SpaceX chegar,
um local para se alimentar e reproduzir
Outras entidades de proteção ambiental já denunciaram o impacto da presença da SpaceX nessa área de preservação. A ONG Save Rio Grande Valley enviou documentos às autoridades locais acusando a empresa de fechar estradas e impedir o acesso aos estuários e praias, além de usar acostamentos como estacionamentos, em locais que são propriedade do Departamento de Pesca e Vida Selvagem dos Estados Unidos.
Em abril, a SpaceX pediu ao governo para adquirir uma área ainda maior para a realização de seus testes. Mas a Agência de Proteção Ambiental do país negou a requisição. Alegou que poderia trazer “impactos adversos substanciais e inaceitáveis sobre os recursos aquáticos de importância nacional”.
“Elon Musk está construindo um complexo espacial em um dos lugares mais ambientalmente diversos e inadequados do mundo”, lamenta Bryan Bird, da Defenders of Wildlife.
Enquanto os olhos de alguns estão no espaço, a Terra continua sofrendo com a vaidade e o ego dos humanos.
*Com informações e trechos de entrevistas da reportagem produzida pelo jornal The Guardian
Fotos: Official SpaceX Photos/Creative Commons/Flickr
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