quarta-feira, 21 de setembro de 2022

Os corações verdes de Londres

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Os corações verdes de Londres

Os corações verdes de Londres

Londres não têm um só coração. Tem oito. Todos verdes. São os oito “Royal Parks” da cidade, que foram palco de muitas homenagens nos últimos dias após a morte da Rainha Elizabeth. Mas muito antes disso, eles já eram um destino certo para turistas e moradores da capital.

Estima-se que, por ano, cerca de 77 milhões de pessoas passeiam por esses parques: Bushy Park, Green Park, Greenwich, Hyde Park, Kensigton Gardens, Regent’s Park, Richmond e St. James. Mais do que visitar, os visitantes aproveitam ao máximo o que esses imensos espaços verdes oferecem. Seja para um piquenique, um passeio de bicicleta, assistir a um show ou assistir uma aula de artes. Neles há também monumentos e prédios históricos. Ou seja, as possibilidades são ilimitadas.

Além de entreter, essas enormes áreas verdes diminuem a temperatura da cidade, reduzem a velocidade do vento, absorvem a poluição e ajudam a evitar inundações. Alguns dos parques se tornaram ainda importantes habitats de espécies da fauna e da flora.

A história dos Royals Parks de Londres está intimamente ligada à monarquia. Alguns deles foram os jardins de palácios, começando com Charles II e o St. James’s Park, ainda em 1660. Todavia, gradualmente, a partir de 1845, eles foram sendo abertos ao público, tornando-se espaços populares.

Atualmente são realizados todo tipo de atividades neles. Escolas públicas os utilizam como espaço para aulas práticas; sejam elas de educação física ou de algum tema discutido em classe. Em alguns dos parques há centros esportivos, como o Hub, no Regent’s Park, maior área de esportes ao ar livre no centro de Londres. Lá, qualquer pessoa pode praticar ginástica, yoga, pilates, futebol ou então esportes tipicamente ingleses como rugby, cricket ou softball.

O Hub, especificamente, é administrado pela própria agência dos Royal Parks, mas existem outros centros particulares, como o Clube de Natação Lido, no Hyde Park. Nesse mesmo parque, há uma área de exercícios para a terceira idade, com equipamentos feitos para melhorar força muscular, equilíbrio e flexibilidade.

Os corações verdes de Londres

Piquenique, esporte ou banho de sol: há espaço para tudo

Em todos os Royal Parks existem playgrounds infantis, um sucesso entre crianças e pais. O mais famoso deles é o Diana Princess of Wales Memorial, em Kensigton Gardens. O parquinho tem como tema a história de Peter Pan, com um grande navio pirata e uma praia cheia de areia para os pequenos brincarem.

Além de esportes e recreação, os oito parques são utilizados como centros educacionais e culturais. Durante os meses de verão, há sempre uma intensa programação, incluindo festivais gastronômicos, de música e teatro ao ar livre. Os shows no Hyde Park já se tornaram famosos. Em 2022 estiveram em seu palco Elton John, Adele e os Rolling Stones.

Convivência pacífica entre seres humanos e vida selvagem

Londres é considerada uma das cidades mais verdes do mundo. Entretanto, manter especificamente esses oito parques, mais de 2 mil hectares de terra, plenamente arborizados, cuidados e limpos durante todo o ano, não é tarefa fácil. Ainda mais quando se oferece uma programação tão intensa neles. Existe uma equipe especializada de agrônomos e paisagistas que trabalham exclusivamente para os parques, além de um berçário de plantas somente para atender a demanda de novas mudas para eles. Cerca de 120 pessoas trabalham ativamente na administração dos Royal Parks. Os demais colaboradores são terceirizados.

Uma das coisas mais impressionante para quem passeia pelos parques é ver a convivência harmoniosa entre visitantes e animais. No Regent’s Park vivem centenas de patos, gansos, cisnes e garças.

Entretanto, nem tudo é tão simples e fácil assim. “Administrar a vida selvagem em parques movimentados é um desafio e há problemas. No Hyde Park e em Kensigton Gardens, alguns cisnes e pássaros desapareceram por causa de cães. Por causa disso, introduzimos uma lei obrigando cachorros a usar coleiras nesses locais”, explica Katy Murray, responsável pela área de comunicação do Royal Parks. Outro problema enfrentado pelos animais são os carros. “Desde que reduzimos o limite de velocidade nos parques, o número de acidentes com animais caiu”.

Os corações verdes de Londres

Durante a primavera as flores são destaques nos belíssimos jardins

Educação parece ser a palavra-chave nesse convívio ser humano e animais. No Richmond Park, uma campanha conseguiu conscientizar os visitantes a se manterem afastados das zonas de ninhos das cotovias. A iniciativa fez que com aumentasse o número de novos pássaros no parque. “Quando as pessoas entendem o motivo da restrição ou proibição, ficam felizes em ajudar”, diz Kathy. Medidas como essas ajudam a vida selvagem a sobreviver, especialmente em parques urbanos movimentados.

Os corações verdes de Londres

O flagrante de uma raposa no Greenwich Park
(Foto: David Linskey)

Parcerias público-privadas

Um dos maiores objetivos do cuidado com os parques é conservá-los para as gerações futuras. Os parques são responsabilidade da agência chamada Royal Parks, que faz parte do Departamento de Mídia, Cultura e Esportes da Secretaria de Estado. Além do órgão governamental, outro trabalho fundamental para a preservação dessa enorme área verde de Londres é o apoio de parceiros, doadores e patrocinadores. Um acordo, por exemplo, entre o London Royal Ballet e o Royal Parks permitiu que a entidade ocupasse uma casa vitoriana instalada no Richmond Park e a transformasse numa escola de ballet para jovens entre 11 e 16 anos.

Outro suporte essencial é o do Royal Parks Foundation. A entidade arrecada fundos para que os parques façam parte da vida de cada vez mais pessoas, seja através de projetos de preservação da vida selvagem, restauração do patrimônio ou eventos esportivos e artísticos. Um exemplo do esforço da fundação pode ser visto na doação de £ 1.25 milhões pela joalheria Tiffany, em 2010. Com o dinheiro, todas as fontes e peças de decoração dos parques foram restauradas e novas fontes de água construídas.

Há também iniciativas que parecem simples, mas ajudam da mesma maneira o orçamento dos parques. Quem anda por eles se depara com placas pessoais com dedicatórias, colocadas em alguns lugares do parque. O doador paga pela placa, que pode estar num banco ou ao redor de esculturas. São pequenos gestos, bastante significativos para quem os realiza, e mesmo por quem está passeando pelo parque e lê uma linda dedicatória de amor, em um lugar especial do parque.

Florada das cerejeiras no Greenwich Park
(Foto: Teddy Duran)

Londres dá exemplo para outras metrópoles mundiais. A capital inglesa é um exemplo perfeito de como é importante e possível manter grandes áreas verdes dentro da cidade. Parcerias, apoios e doações são fundamentais, mas também o é a transparência.

No website do Royal Parks, qualquer um pode conferir o relatório com os gastos anuais dos oito parques. Lá está discriminado desde o salário dos principais diretores da agência até gastos com limpeza, compra de móveis ou ração para os animais. Tudo lá, para qualquer londrino poder conferir exatamente onde o dinheiro é empregado. Dinheiro mais do que bem investido.

Números dos Royal Parks

  • 77 milhões de visitantes por ano
  • 135 mil árvores, 100 mil rosas, 28 mil tulipas
  • 110 km de trilhas, ciclovias e caminhos equestres
  • 34 quadras de tênis
  • 21 lagos
  • 13 playgrounds

Foto de abertura: Philip Passey (Bushy Park) – todas elas são reprodução Facebook Royal Parks

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