quinta-feira, 8 de dezembro de 2022

Ambientalistas celebram acordo da UE que proíbe importação de produtos do desmatamento, mas alertam para pressão no Cerrado

 








Ambientalistas celebram acordo da UE que proíbe importação de produtos do desmatamento, mas alertam para pressão no Cerrado

Nos últimos três anos, o Brasil registrou o pior desmatamento em 15 anos, o maior número de focos de incêndios em 10 anos e a maior taxa de emissão de gases poluentes em 16 anos. — Foto: Reuters

O Parlamento Europeu e os Estados-membros da União Europeia (EU) chegaram, na madrugada de terça-feira (6), a um acordo para proibir a importação para o território do bloco de produtos que contribuem para o desmatamento. Apesar de ser considerado como uma vitória para a proteção das florestas, ambientalistas temem que a nova regra aumente ainda mais a pressão sobre o Cerrado, não incluído no texto.

O documento foi celebrado por ONGs como um marco histórico para a proteção das florestas. Além de ampliar a lista de produtos que podem ser barrados, o texto inclui itens que contenham ou que sejam provenientes de animais que tenham sido alimentados com commodities produzidas em áreas desmatadas após 31 de dezembro de 2020.A lei também inclui a ideia de desmatamento zero, já que não faz diferença entre áreas desmatadas legal ou ilegalmente.

“A gente acredita que essa legislação, como foi aprovada, é incrível”, diz Katia Favilla, secretária executiva da ong Rede Cerrado. “É uma vitória da sociedade civil e das negociações esse reconhecimento da União Europeia, de que há um problema no Brasil e de que eles precisam cuidar e olhar para isso de uma forma específica”, reconhece.

Kátia lamenta, no entanto, a não inclusão do cerrado no texto e teme o aumento do desmatamento do bioma e o risco de conflitos e de ameaças à vida de lideranças de povos indígenas e comunidades tradicionais.

Para o economista do meio ambiente e pesquisador Alain Karsenty, do Centro de cooperação internacional e pesquisa agroeconômica para o desenvolvimento (CIRAD), o mais importante no novo texto é a não distinção entre desmatamento legal e ilegal.

“Desde o fim de 2021, os britânicos têm um texto equivalente, com uma diferença notável: o texto britânico proíbe a entrada de produtos vindos de desmatamento ilegal”, destaca. “O texto europeu não faz diferença entre desmatamento legal ou ilegal. Assim, produtos que tenham origem de desmatamento considerado ‘legal’ segundo o texto de alguns países, serão impedidos de entrar na Europa”, explica.

Sobre a forma de fiscalizar as novas regras, o especialista diz que “toda a responsabilidade vai recair sobre os importadores. São esses operadores econômicos que terão de controlar os fornecedores para saber se o produto colocado no mercado não vem de desmatamento”, afirma. “Todas as terras que serviram para a produção devem ser geolocalizadas com as coordenadas”, especifica. Karsenty lembra ainda que haverá “mecanismos de sanções financeiras e controles aleatórios, porém rígidos” para verificar o cumprimento das normas.

O especialista também destaca que os países enfrentam situações muito diferentes e que às vezes é difícil contemplar todas as ameaças numa legislação ampla. O Parlamento Europeu deixou o prazo de um ano para refletir sobre a inclusão de “outras áreas arborizadas”, como o cerrado, que se estende pelo Brasil, Paraguay e Bolívia.

“O que vale para o Brasil, não vale para outros países na África”, alerta Karsenty. “O Brasil tem espaço de pastagens degradadas para plantio de culturas, tem alternativas. Já a África não, e as plantações avançam sobre a savana ou as florestas. A regulamentação terá que olhar caso a caso, pois senão pode haver problemas de aplicação” da lei, conclui.

Paris pede implementação rápida

A França saudou nesta terça-feira o “texto inovador” adotado pela União Europeia. Paris pediu a sua “implementação o mais rapidamente possível” por meio da abertura de um diálogo com os países produtores e consumidores de todo o mundo.

“Trabalhamos para isso e a França mostrou o caminho: a União Europeia proíbe a importação de produtos resultantes do desmatamento. Somos os primeiros no mundo a fazer isso! A batalha pelo clima e pela biodiversidade continua acelerada”, afirmou o presidente francês, Emmanuel Macron, em sua conta no Twitter.

A França fez da luta contra o desmatamento uma de suas prioridades durante o período em que esteve na presidência da UE. Poucos dias antes do fim de seu mandato de seis meses, o país obteve, em 28 de junho, a concordância dos 27 Estados-membros durante o Conselho de Ministros Europeus do Meio Ambiente para proibir a importação para a UE de seis produtos (soja, carne bovina, óleo de palma, madeira, cacau, café) que contribuíssem para o desmatamento, mas não incluía a borracha ou outros ecossistemas ameaçados.

A poucas horas do início da COP15 centrada na biodiversidade que começa em Montreal (7 a 19 de dezembro), o texto “pioneiro e ambicioso” aprovado pelo Parlamento Europeu “constitui um grande passo à frente na luta contra a deflorestação e a degradação florestal”, reagiu o ministro da Transição Ecológica da França, Christophe Béchu, em um comunicado à imprensa.

Fonte: G1

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