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Santuário na Chapada dos Guimarães anuncia, para 2025, a chegada de elefantas que vivem na Argentina
Criado há oito anos, o Santuário dos Elefantes Brasil (SEB) fica a cerca de uma hora do Parque Nacional da Chapada dos Guimarães, no estado do Mato Grosso. Foi o primeiro da América Latina e é o sexto maior do mundo, ocupando uma área de 1.100 hectares marcada por vales e colinas, além de grande variedade de vegetação e muita água, antes ocupada para criação de gado de corte. Dirigido por Scott e Kat Blaiss, não é aberto ao público porque não é um zoológico. Sua única missão é proteger, resgatar e prover um ambiente natural e seguro para 50 elefantes (meta), que vivem em cativeiro em diferentes partes do Brasil e de países da América Latina. Desde 2016, o santuário já recebeu nove elefantas asiáticas, todas com histórico de maus-tratos em circos e/ou zoológicos. Quatro faleceram, mas tiveram a oportunidade de usufruir da vida livre (veja a linha do tempo das chegadas e partidas mais adiante). E Scott acaba de anunciar que, no ano que vem, esta linda família do Cerrado – que ainda reúne gatos, cachorros, galinhas, uma cabra, uma ovelha e cavalos (veja aqui) – vai aumentar. Burocracia e programaçãoDepois de mais de dois anos de negociações, finalmente as licenças de Kenya e Pupy – elefantas africanas que vivem na Argentina no Ecoparque de Mendoza e no Ecoparque de Buenos Aires, respectivamente – foram aprovadas. Na verdade, a negociação incluía uma terceira elefanta, Kuky, companheira de Pupy, que, infelizmente, morreu em outubro, no dia seguinte à chegada das autorizações de transferência para o Brasil expedidas pelo governo argentino. Devido à complexa burocracia, faltavam as licenças necessárias para trazer Kenya, Pupy e Kuky e, de acordo com O Globo, o processo só andou devido à intervenção de Karina Milei, secretária-geral da Presidência, e de Daniel Scioli, secretário do Meio Ambiente da Argentina, além da colaboração entre os embaixadores dos dois países. Pena que Kuky se foi antes de conhecer o paraíso na Terra. Já no caso de Tamy - pai de Guillermina, que também foi doado ao SEB e vive no Ecoparque de Mendoza -, o processo será ainda mais demorado. Mas, desta vez, a priori, não por questões legais: o santuário brasileiro ainda não tem uma área para machos, como contamos aqui. A construção de um recinto apropriado depende de uma campanha de doações, que certamente só será feita depois que as fêmeas africanas estiverem bem adaptadas. Para se ter ideia da complexidade que envolve a acolhida desses animais pelo SEB, o santuário está, desde o início deste mês, em campanha para arrecadar US$ 50 mil para a construção da segunda fase de expansão dos recintos para Kenya e Pupy. “A primeira fase de expansão do habitat feminino africano foi concluída e, ao construir quintais adicionais, podemos fornecer a Kenya, Pupy e qualquer elefante que ainda esteja por vir o melhor lar possível”, explica Scott Blaiss. “Para que Pupy e Kenya realmente se curem e prosperem, precisamos concluir a fase 2”, que adicionará mais 70 acres de terra cercada para elas explorarem. “Oferecer espaço é uma parte crucial do processo de cura e, embora elas tenham espaço para investigar, oferecer mais espaço só melhorará o processo”, completa. A vinda de Kenya e PupyAinda não há um cronograma exato para trazer as elefantas africanas, mas uma das caixas de transporte já foi enviada para a Argentina e a equipe do SEB está definindo os próximos passos dessa jornada que será bastante trabalhosa. “Em breve, Pupy terá a chance de pastar livremente e em seu próprio horário. Ao mesmo tempo em que lamentar a perda de sua companheira de longa data, Kuky, ela terá a oportunidade de estabelecer novos laços com outro elefante, se isso for algo que ela deseja”, conta Scott. “E Kenya” – a elefanta solitária - finalmente conhecerá a liberdade de caminhar na natureza, mergulhando no lago refrescante ou se polvilhando com areia e lama. E, pela primeira vez em décadas, ela também poderá construir um relacionamento com outro elefante”. Curiosa e pacífica, Pupy nasceu em 1990 (34 anos) no Parque Nacional Kruger na África do Sul e vive, desde 1993, no que antes era conhecido como Templo Hindu dos Elefantes no Ecoparque de Buenos Aires. Chegou ao local junto com Kuky, sua companheira inseparável – as duas eram chamadas de “as rainhas” pelos tratadores. Lá, se juntaram à Norma, elefanta asiática que faleceu dois anos depois, pouco antes da chegada de Mara que, desde maio de 2020, usufrui da vida livre no SEB. Acima do peso, parece mais velha do que é, e ainda tem um probleminha do tornozelo direito. Como a maioria dos elefantes africanos, tem caráter forte, mas costuma ser paciente e calma durante os exames veterinários. De acordo com o site do SEB, ela adora melancia e, durante o verão, os cuidadores fazem picolés de frutas (frutas cortadas congeladas em um balde de água), para refrescá-la. Ela também gosta de galhos secos de árvores, bambu e, especialmente, de feno de capim. “Embora tenhamos tido interações limitadas com Pupy, sua personalidade parece mostrar alguma faísca”, conta Scotti. “É difícil saber quem ela é, mas prevemos que ela florescerá no santuário. O espaço aberto, as árvores e a grama certamente lhe darão muitas oportunidades de crescer e descobrir quem ela realmente é”. Kenya tem 35 anos e vive sozinha num recinto ao lado dos elefantes asiáticos no Ecoparque de Mendoza. Está um pouco acima do peso e tem uma presa que cresceu inadequadamente. É reservada e foi classificada pelos tratadores como agressiva, mas, na verdade, como Scott explica, ela é “um exemplo do que acontece quando um elefante tenta comunicar suas necessidades, ano após ano, e simplesmente não é ouvido e entendido. Arremessa pedras e decidiu parar de tentar comunicar suas necessidades. Isso não fez diferença no passado, portanto ela desistiu e se isolou”. “Durante nossa primeira visita, quando nos aproximamos, ela se escondeu num abrigo de concreto, fora do nosso campo de visão. Depois saiu e ficou de pé encarando uma de suas únicas companhias: um elefante pintado num muro de concreto. Ela parecia calma, mas distante. Nos avisaram que por algumas semanas ela estava ansiosa, andando de um lado para o outro e empurrando esse muro”. A área externa de seu recinto é um semicírculo de terra batida parecida com calcário triturado, que é impossível de cavar e de jogar sobre si mesma, como as elefantas que vivem no SEB fazem com lama e água, felizes. “Também não há nenhum pedaço de madeira, nenhum brinquedo, somente um pouco de mato, capim, e seu mural de elefante”, descreve o especialista em manejo de elefantes. E, como o zoo está em reforma para se transformar, Kenya não tem nem o público como fuga da monotonia. “Grande, imponente com suas orelhas africanas dramáticas e lindas e com alguns quilos extras. Seus olhos são brilhantes, radiantes, e não combinam com sua reputação”, defende o presidente do SEB. “Elefantes, mesmo nesse tipo de ambiente, querem se comunicar, querem ser ouvidos e querem ouvir. Quando respondemos às suas sugestões sutis, eles se comunicam ainda mais e começam a construir confiança”, acrescenta. “Devido à profundidade de seu sofrimento no cativeiro, sua recuperação pode levar anos, e raramente é um processo linear. Claro que um só dia de contato não foi suficiente, mas pelo menos ela pode ver que estamos escutando. Frequentemente, quando visitamos novos elefantes, somos observadores silenciosos. Sentimos que devemos seguir nossa intuição. Ontem, quando esses quatro preciosos abriram seus corações através de comunicação vocal e física, meu corpo respondeu sem premeditação, se unindo a eles para que soubessem que estamos aqui e os escutamos”. Chegadas e partidasA seguir, conheça um pouco mais sobre as moradoras – todas elefantas asiáticas - do Santuário de Elefantes Brasil, também sobre as que já descansaram nesse paraíso. E repare que, além de um nome, algumas delas têm apelidos muito afetuosos. Maia e Guida Ramba Rana Lady Mara Bambi Pocha e Guillermina Iniciativa e parceriasO Santuário dos Elefantes Brasil é fruto da parceria de duas organizações internacionais – a Global Sanctuary for Elephants (GSE), do Tenessee, nos Estados Unidos, e a ElephantVoices – ambas dirigidas por renomados especialistas. A iniciativa se deve também à paixão por elefantes de uma brasileira, Junia Machado (como contei aqui). Ela representa a ElephantVoices no Brasil e para tocar o projeto se uniu à Scott Blaiss – que tem mais de 20 anos de experiência no manejo de elefantes africanos e asiáticos em zoos, circos e em santuários, e é o fundador da GSE. A seguir, assista ao vídeo produzido pelo SEB que conta sobre a novidade - apresentando Pupy e Kenya - para a campanha de doação a fim de construir a segunda fase de ampliação do recinto que as abrigará em 2025. ________ Acompanhe o Conexão Planeta também pelo WhatsApp. Acesse este link, inscreva-se, ative o sininho e receba as novidades direto no celular Fotos (destaque): SEB / divulgação |
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