80 espécies de aves deixam de ser observadas no interior paulista devido à degradação ambiental
Um mapeamento em quatro unidades de conservação no interior do estado de São Paulo soou um grave alerta: das 358 espécies de aves registradas há algumas décadas nessas áreas, apenas 278 foram observadas durante o mais recente monitoramento de campo. Ou seja, 80 delas podem ter deixado de ocorrer na região.
O trabalho, realizado entre setembro de 2021 e janeiro de 2022 por pesquisadores da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp), Universidade Federal de Itajubá (UNIFEI) e do Comitê Brasileiro de Registros Ornitológicos (CBRO), aconteceu na Reserva Biológica de Andradina e nas Estações Ecológicas de Marília, de Paulo de Faria e de Santa Maria. As aves eram identificadas por meio de binóculos e também de seus sons.
“Foram realizados inventários de aves nessas unidades de conservação de proteção integral porque elas são pouco conhecidas e estudadas. Nosso intuito era atualizar as informações sobre as suas aves, bem como aumentar a sua visibilidade para demais atividades, como pesquisa e educação ambiental”, diz Vagner Cavarzere, professor do Instituto de Biociências da Unesp e um dos autores do trabalho.
Das 80 espécies que não foram observadas nesse levantamento, 50% são florestais, que vivem apenas dentro das matas.
“Isso é um indicativo de que, depois da degradação ambiental que o interior paulista sofreu, mesmo as áreas destinadas para a preservação, sofrem com a falta de qualidade ambiental e não garantem a sobrevivência de determinadas espécies”, explica Cavarzere.
O pesquisador destaca que degradação ambiental envolve desde a fragmentação da vegetação nativa até a retirada ilegal de madeira, a ocorrência de queimadas e incêndios florestais e a ausência de proteção contra a entrada de gado.
“Não é uma batida de martelo, pois nosso esforço amostral não foi enorme. No entanto, conhecemos as espécies sem registro de anos de estudos de campo, então a não-detecção delas é um indicativo de que algo está errado com a vegetação”, diz o pesquisador.
Ainda segundo ele, o que chama atenção é que mesmo nessas áreas mais protegidas, as espécies florestais não foram registradas. Infelizmente, apesar de em geral unidades de conservação serem mais conservadas, ainda assim sofrem com queimadas e caça ilegal.
Entre as espécies não registradas, todas endêmicas da Mata Atlântica, estão a juruva, o macuru-de-barriga-castanha, o surucuá-variado e o miudinho – na imagem que abre este post.
“Já entre aquelas ameaçadas [de extinção] e não avistadas estão a arara-vermelha, o mutum-de-penacho e a maracanã”, relata o especialista.
O artigo científico publicado na Revista do Instituto Florestal pode ser lido, na íntegra, neste link.
O surucuá-variado, também conhecido como surucuá-de-peito-azul
Foto: Dario Sanches from São Paulo, Brazil, CC BY-SA 2.0, via Wikimedia Commons
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Foto de abertura: Dario Sanches from São Paulo, Brasil, CC BY-SA 2.0 via Wikimedia Commons
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