A compra de terras supostamente griladas no Distrito Federal e
a regularização dessas áreas por meio de pagamentos ilegais a
servidores públicos fazem parte dos negócios ilícitos de Carlos Augusto
Ramos, o Carlinhos Cachoeira, como cita o inquérito que embasou a
Operação Monte Carlo, deflagrada pela Polícia Federal (PF)
na semana passada. Os negócios suspeitos no DF são uma sociedade entre
Cachoeira, empresário da jogatina, e Cláudio Dias Abreu, diretor da
Delta Construções, que também foi investigado.
Conforme o inquérito, a grilagem de terras foi possível em razão da
“influência, capacidade de cooptação e penetração que possuem no setor
público”. A investigação cita a participação de servidores da Terracap, a
companhia imobiliária do governo do DF; do Instituto do Meio Ambiente e
dos Recursos Hídricos do DF (Ibram), responsável por licenciamentos
ambientais; e do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária
(Incra).
O inquérito menciona a existência de sociedade entre Cachoeira e
Cláudio e a compra de 35% das terras da Fazenda Gama, “possivelmente
terra grilada localizada no DF”. “A área fora adquirida com a
perspectiva de regularizá-la rapidamente.” Não há menções ao tamanho
dessa área. A Fazenda Gama foi o primeiro lugar visitado pelo presidente
Juscelino Kubitschek na ocasião da construção de Brasília, em 2 de
outubro de 1956 (veja Para saber mais). A sede ficava próxima ao
Catetinho, a primeira residência oficial do presidente. Hoje, a Fazenda
Gama equivale a áreas cobiçadas pelo setor imobiliário no Núcleo
Bandeirante, no Park Way e em parte do Lago Sul.
A grilagem na região consiste na adulteração de documentos e no
registro de escrituras que não condizem com os verdadeiros
proprietários. Nas conversas telefônicas degravadas pela PF, Cachoeira e
Cláudio conversam sobre formas ilícitas de obterem a regularização das
áreas adquiridas. “Tem de deixar muito claro para ver se vai dar para
resolver por baixo. Se não for, nós vamos ter de ir por cima,
Carlinhos”, afirma Cláudio num desses diálogos.
“Que demora”
Numa conversa com Gleyb Ferreira da Cruz, outro investigado na Operação Monte Carlo, Cachoeira cobra os resultados da suposta cooptação no Ibram: “Nós não estamos pagando o cara lá com esse trem, uai? Que demora é essa?”, pergunta. “Estamos pagando para a aprovação. O andar, o tramitar, aí é todo mundo lá”, responde Gleyb. Eles citam que “aparece um monte de dono” da Fazenda Gama e que, por isso, precisam de agilidade na regularização. Sobre a Terracap, os dois comentam a respeito de valores e prazos para pagamentos.
Numa conversa com Gleyb Ferreira da Cruz, outro investigado na Operação Monte Carlo, Cachoeira cobra os resultados da suposta cooptação no Ibram: “Nós não estamos pagando o cara lá com esse trem, uai? Que demora é essa?”, pergunta. “Estamos pagando para a aprovação. O andar, o tramitar, aí é todo mundo lá”, responde Gleyb. Eles citam que “aparece um monte de dono” da Fazenda Gama e que, por isso, precisam de agilidade na regularização. Sobre a Terracap, os dois comentam a respeito de valores e prazos para pagamentos.
Por meio da assessoria de imprensa, a Terracap disse que não foi
comunicada sobre o episódio de grilagem citado no inquérito da Operação
Monte Carlo. “A empresa gerencia esse patrimônio. Toda vez que tem
conhecimento de grilagem, verifica.” A assessoria de imprensa do Ibram
também afirma que o órgão não foi acionado sobre a operação. “Não há
conhecimento sobre o suposto envolvimento de servidores da casa em
nenhum processo relativo ao assunto.” O Ibram diz que já há posição
formada do atual governo de proibir qualquer parcelamento habitacional
na região do Catetinho, pela “sensibilidade ambiental da área”. O Incra
no DF diz não ter sido acionado pela PF e afirma desconhecer a ofensiva
do bicheiro e a suposta participação de servidores.
Fonte: Correio Brasiliense
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