O GLOBO - 31/08
A retração da economia no primeiro semestre se torna mais grave quando se constata que, no segundo trimestre, houve grande queda nos investimentos
Se fosse possível, os responsáveis pelas campanhas de Dilma e Aécio eliminariam do calendário a semana que passou.
Há problemas semeados pelo próprio governo. Um deriva da decisão de Dilma/Mantega de manter valorizado o real, para segurar uma inflação renitente.
A retração da economia no primeiro semestre se torna mais grave quando se constata que, no segundo trimestre, houve grande queda nos investimentos
Se fosse possível, os responsáveis pelas campanhas de Dilma e Aécio eliminariam do calendário a semana que passou.
Não teriam a má notícia
da lépida subida de Marina Silva na última pesquisa do Ibope,
confirmada na noite de sexta pelo Datafolha.
E a presidente e candidata à
reeleição, em particular, escaparia do dissabor de manchar a biografia com a primeira recessão da economia brasileira desde o último trimestre de 2008.
A queda de 0,6% do PIB no segundo trimestre
em relação ao primeiro — quando já houve uma retração de 0,2%, numa
sequência que configura a recessão — consolida, por enquanto, a
expectativa do mercado de que a economia não deve conseguir crescer
sequer 1% este ano.
“Recessão” é termo forte, de fácil exploração política. Mas estão no palanque de Dilma vários outros problemas, nem todos de fácil entendimento, mas nem por isso menos espinhosos.
“Recessão” é termo forte, de fácil exploração política. Mas estão no palanque de Dilma vários outros problemas, nem todos de fácil entendimento, mas nem por isso menos espinhosos.
A baixa
confiabilidade do governo
Dilma se expressa na queda de 5,3% dos investimentos, no trimestre,
também calculada pelo IBGE. É nítida a postura de “esperar para ver” do
empresariado neste ano eleitoral.
Há problemas semeados pelo próprio governo. Um deriva da decisão de Dilma/Mantega de manter valorizado o real, para segurar uma inflação renitente.
Para isso, o
Banco Central executa as tais operações de “swaps”, pelas quais oferece dólares com
compromisso de recompra futura. Não gasta o dólar físico das reservas —
bastante altas, em mais de US$ 300 bilhões —, mas assume bilionários
compromissos futuros.
O saldo líquido dessas operações, no momento,
seria de US$ 90 bilhões.
Tudo isso faz a alegria de especuladores, que
realizam a seguinte arbitragem, em explicação simplificada: financiam-se
lá fora a juros muito baixos, pegam o dólar e o vendem no “spot”; com
os reais, adquirem títulos no Brasil que rendem 11% ao ano. Fazem ainda
“hedge” para garantir dólares a uma determinada cotação, num determinado
prazo.
E toda essa ciranda quase não tem risco porque o BC evita a
desvalorização do real, com os “swaps”. Consta que muitos dos bilhões
que entram hoje como “investimento externo direto” de multinacionais
vêm, na verdade, participar desta ciranda. Eis porque, numa economia em
recessão, bilhões de dólares chegam como se fossem investimento. E cuja
taxa continua baixa, em relação ao PIB (14%).
Trata-se de uma manobra que não pode durar muito, até porque o Fed está prestes a anunciar que voltará a subir os juros nos EUA. Isso deflagrará mais uma onda de desvalorização de moedas, e o nosso BC não poderá enfrentar essa queda de braço cambial. Na verdade, os “swaps” são mais um puxadinho de política econômica.
Trata-se de uma manobra que não pode durar muito, até porque o Fed está prestes a anunciar que voltará a subir os juros nos EUA. Isso deflagrará mais uma onda de desvalorização de moedas, e o nosso BC não poderá enfrentar essa queda de braço cambial. Na verdade, os “swaps” são mais um puxadinho de política econômica.
E com efeitos contraditórios: seguram artificialmente a inflação, junto
com o congelamento de tarifas, mas desestimulam as exportações de
manufaturados, já com dificuldade de competição por problemas de
infraestrutura, burocracia, etc.
Dilma e assessores devem torcer para
chegar logo outubro.
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