Cuidado! Esta parada tem altos índices de assaltos!, alertam os oito cartazes afixados
ludmila.rocha@jornaldebrasilia.com.br
“Cuidado! Esta parada tem altos índices de assaltos!”, alertam os oito cartazes afixados em uma parada de ônibus na Quadra 401 de Samambaia Norte. Segundo os avisos, só na semana passada foram roubados mais de 15 aparelhos celulares no local. Os bilhetes, supostamente colocados por moradores da região, ainda alertam para o fato de o assaltante não “despertar suspeitas” e recomendam que, caso necessário, os usuários entrem em contato diretamente com o batalhão de Polícia Militar da área (11º BPM), onde os policiais já estariam avisados sobre a situação.
Ao lado da parada, há muito lixo e um caminho mal iluminado, coberto pelo mato, que dá acesso à rua de cima. O beco seria utilizado como rota de fuga pelos bandidos. De acordo com os cartazes, “o assaltante deixa o carro estacionado na rua de cima, perto de uma serralheria”, e desce para praticar os crimes.
A loja citada fica exatamente atrás do ponto de ônibus, formando uma espécie de paredão. Isso impede a visibilidade de quem passa pela via acima e dificulta a ação da polícia.
Vítimas
Em uma conversa rápida com moradores da região, é fácil encontrar histórias de assaltos e furtos, especialmente de aparelhos eletrônicos, onde os bandidos utilizam técnicas variadas. Isso indica que, ao contrário do que acredita o autor dos avisos, provavelmente há mais de uma pessoa ou grupo atuando na área. Além disso, segundo relatos, o problema não se restringe a parada de ônibus da Quadra 401.
“Essa região anda muito perigosa. Já fui assaltada três vezes na porta de casa e presenciei diversos assaltos em pontos de ônibus. Os bilhetes ajudam porque servem de alerta, mas precisamos de mais polícia nas ruas”, acredita Janaina da Silva, desempregada, 28 anos.
O serralheiro Cícero Ferreira, de 54 anos, concorda. “Há poucos dias eu presenciei um roubo. O rapaz chegou disfarçadamente, como se estivesse esperando o ônibus, se aproximou da garota e anunciou o assalto”, lembra. Cícero conta que sua esposa também já teve dois celulares roubados em pontos de ônibus da região. “Isso é rotineiro aqui, só muda a parada”, reclama.
Família
O foco dos assaltantes parece ser mesmo os aparelhos celulares. Uma estudante de 16 anos, que preferiu não se identificar, disse que teve o celular roubado em um dia, às 11h, na parada da 401. No dia seguinte, para seu espanto, seu irmão foi assaltado no mesmo local, às 8h.
“Eles assaltam em plena luz do dia, sem o menor pudor. Quando fui roubada, o rapaz estava de bicicleta. Já com o meu irmão, o ladrão parou o carro na rua de cima e desceu. É evidente que o foco deles são os celulares. Para se ter uma ideia, meu irmão estava com R$ 300 em espécie na mochila e eles nem viram, só queriam o celular”, afirma.
Polícia Militar orienta população
De acordo com a Polícia Militar, os cartazes não foram afixados nas paradas por policiais, como acredita parte da comunidade. “As vítimas devem evitar qualquer reação ou embate com o assaltante. Se possível, devem tentar identificar características e materiais do agressor, tais como: tatuagem, cor da roupa, cabelos e veículo utilizado”. Segundo a assessoria de comunicação da PM, a corporação dispõe de seis a oito viaturas dia, seis motos, policiais a pé e apoio de unidades especializadas atuando na região. Quem observar qualquer movimentação estranha ou for vítima de assalto deve informar a polícia pelo 190 ou ligar no 11º batalhão: 3910-1915.
Estatísticas oficiais indisponíveis
A Polícia Civil não soube informar quantos registros de roubos e furtos a celulares foram feitos na 26ª DP, de Samambaia, nos últimos meses, e declarou que números deveriam ser solicitados exclusiva e diretamente à Secretaria de Segurança Pública.
A Secretaria de Segurança Pública, por sua vez, não respondeu a demanda do Jornal de Brasília até o fechamento desta edição. No site do órgão, constam os números de roubos a transeuntes apenas no primeiro quadrimestre do ano passado. De janeiro a abril de 2013 foram registrados 6,7 mil crimes deste tipo. Sendo abril o mês mais violento, com 1,8 mil ocorrências.
Enquanto isso, moradores de Santa Maria temem entrar nas estatísticas. A balconista Raimunda Mesquita, de 32 anos, utiliza a parada todos os dias. Ela e filha, a estudante Vitória Mesquita, 12 anos, estão com medo de frequentar o local. “É difícil ver polícia passando por aqui. Evitamos andar sozinhas”, conta Raimunda.
Ponto de vista
Para George Felipe Dantas, especialista em segurança pública, a preocupação de pessoas da comunidade em alertar os usuários da parada configura uma situação de “pânico moral”: “Esse tipo de demonstração é uma luz amarela, que se acende quando algo não vai bem. O medo afinado com a realidade é positivo, pois atrai a atenção das autoridades e alerta a população. Quando não está afinado, a realidade local, no entanto, pode provocar desespero e ser prejudicial”.
Fonte: Da redação do Jornal de Brasília
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