04/08/2015
às 19:20 \ Opinião
Publicado no Globo
RICARDO NOBLAT
O PT sempre tratou seus adversários com um
solene desprezo. Lula, que exerceu um único mandato de deputado federal,
disse em certa ocasião que havia no Congresso 300 picaretas. Pouco
mais, portanto, que a soma de deputados e senadores.
Comparado com Dilma, dizem que Lula é um
craque. Que sempre soube fazer política. Mas que tipo de política ele
fez depois de se tornar inquilino do mais prestigiado gabinete do
Palácio do Planalto?
O da farinha
pouca, meu pirão primeiro? O do toma lá me dá cá? O do é dando que se
recebe? O que aos amigos confere tudo, e aos inimigos os rigores da lei?
A resposta é sim a todas as perguntas.
Nunca antes na história deste país houve tanta corrupção. E ela deve ser debitada, de preferência, na conta de Lula e de Dilma.
Não há maior engodo do que se atribuir a
descoberta da ladroagem à independência concedida pelos governos do PT à
Polícia Federal. O país já está crescidinho. Suas instituições estão
sólidas e suportam crises.
A reeleição para cargos majoritários aumentou o
apetite dos políticos pelo poder. Ninguém mais se elege pensando em
fazer um bom governo em quatro anos. Elege-se pensando em obter um novo
mandato.
E aí se gasta o que não se pode, rouba-se com
vista à próxima eleição, e suborna-se para atrair apoios, garantindo-se
mais tempo de propaganda eleitoral no rádio e na televisão.
No caso da presidência da República, mas não
só, nunca antes a corrupção fez parte de um esquema tão ambicioso para a
eternização no poder de um determinado partido.
É do PT, de Lula e de Dilma a responsabilidade
política pelo que aconteceu. Foram eles que mais se beneficiaram de
tudo. Se agora receiam que a polícia lhes bata à porta… Sabem o que
fizeram.
Por cálculo político, esperteza ou porque
creem, 10 entre 10 estrelas da política afirmam que Dilma é uma pessoa
honrada. Que jamais roubou um tostão e que jamais roubaria.
O vilão é Lula. Foi nos governos dele que tudo
começou. Fernando Henrique Cardoso defendeu essa tese em entrevista
recente a uma revista alemã. Gentil homem!
Perguntem às estrelas se elas acreditam que
Dilma é distraída a ponto de desconhecer o que se passava ao alcance dos
seus olhos ou ouvidos. Dez entre 10 estrelas da política, sob a
garantia de anonimato, responderão que não. É impossível que não
soubesse ou que não desconfiasse.
Dou de barato que não roubou. Não a considero, porém, uma tola formidável capaz de ser enganada facilmente.
Quer dizer que Dilma nunca fez ideia que
dinheiro sujo, derivado de negócios entre empreiteiras e a Petrobras,
irrigou suas campanhas?
Que diretores da Petrobras, nomeados por Lula, desviaram recursos para alimentar os caixas do PT e de aliados?
E que cargos presenteados por ela a políticos
sempre serviram ao roubo e continuarão servindo? Só a Petrobras perdeu
algo como 19 bilhões de reais.
Dilma, ministra de Minas e Energia, chefe da
Casa Civil, presidente do Conselho de Administração da Petrobras,
presidente da República, não viu que a empresa estava sendo saqueada?
E que não era a única?
Se não viu deve pedir desculpas e as contas por leniência. Se viu, deve ser mandada embora.
A alternativa é a manutenção no poder de alguém sem autoridade política para governar um país conturbado.
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