Com a
inflação nas alturas e o aumento do desemprego, os consumidores têm
reduzido o consumo de itens básicos. Segundo especialistas, é a primeira
vez em cinco anos que o volume médio de compras cai. É o desfecho de 13
anos de domínio petista do Estado:
O
brasileiro deu marcha à ré no consumo de itens básicos no primeiro
semestre. Além de ir menos vezes às compras de alimentos, bebidas,
artigos de higiene e limpeza, ele está levando um volume 3% menor desses
itens cada vez que vai ao supermercado em relação ao mesmo período do
ano passado.
“É a
primeira vez em cinco anos que o volume médio de compras cai”, afirma
Christine Pereira, diretora comercial da Kantar Worldpanel. Ela faz essa
afirmação com base na pesquisa da consultoria que visita semanalmente
11,3 mil domicílios em todo o país para monitorar o consumo de uma cesta
com 97 categorias de produtos.
Nos
últimos tempos, as famílias vinham reduzindo as idas ao supermercado.
Mas a retração acabava sendo compensada pelo aumento médio dos volumes
adquiridos cada vez que se ia às compras. “Agora essa compensação cessou
e pela primeira vez o consumidor andou para trás”, diz Christine.
Com o
avanço da inflação, especialmente de tarifas que reduziram a renda do
consumidor, e o avanço do desemprego, as famílias cortaram em três vezes
as idas às compras. Foi a maneira encontrada para encaixar as despesas
no orçamento, que ficou mais apertado por causa da crise.
Alta de preços
A freada
no consumo de itens básicos fez o volume total da cesta de produtos
monitorada pela consultoria cair 8% no primeiro semestre deste ano
comparado ao mesmo período de 2014. Os preços médios dos produtos da
cesta aumentaram 9% no período e o valor médio da cesta com volume menor
de itens ficou estável, algo também inédito em cinco anos, ressalta
Christine. “O consumidor levou para casa uma quantidade menor de
produtos pagando mais por eles por causa do avanço da inflação.”
A
retração nas compras já apareceu no faturamento dos supermercados. Até
julho, o setor acumula queda de 0,20% na receita, descontada a inflação
do período, segundo a Associação Brasileira de Supermercados (Abras).
“Faz muito tempo que o setor não entrava no vermelho, pelo menos uns dez
anos”, calcula o presidente do Conselho Consultivo da Abras, Sussumu
Honda. Ele se diz preocupado porque a queda nas vendas é uma tendência e
o ano deve fechar com retração na receita ante 2014.
Com a
frustração nas vendas, uma vez que a expectativa inicial do setor era
crescer 2% este ano – depois revista para 1% -, as redes varejistas
tentam dar a volta por cima. A rede de supermercados Coop, com 28 lojas
no Estado de São Paulo e faturamento de R$ 2 bilhões, por exemplo,
mapeou no segundo semestre do ano passado 17 milhões de cupons fiscais
dos clientes para saber quais itens o consumidor mais compra. Descobriu
uma cesta com 52 produtos essenciais.
Segundo
Cláudia Costa, executiva responsável pela área de inteligência de
mercado, a rede focou as negociações com as indústrias de marcas líderes
dessa cesta de produtos e conseguiu obter preços até 7% menores em
relação aos concorrentes.
A rede
Savegnago, com 32 lojas no interior paulista e faturamento bruto de R$
1,9 bilhão em 2014, é outra que está negociando preços com fornecedores
para dar descontos ao consumidor. Nesta quarta-feira, por exemplo, a
empresa fez o “Unilever Day” em sua loja online. Com essa promoção
conseguiu reduzir os preços dos produtos fabricados pela multinacional
em até 33%, segundo Sebastião Edson Savegnago, superintendente da rede.
Outra
estratégia usada pela varejista para impulsionar as vendas, também
resultado de negociação com fabricantes, é oferecer maior quantidade de
produto pelo mesmo preço. São aquelas promoções do tipo “leve 3 e pague
2” ou “leve 25% mais” de determinado produto, exemplifica o executivo.
Concentração
Apesar de
o brasileiro estar mais racional nas compras de supermercado de uma
maneira geral, o que chama atenção é a lista dos produtos cortados.
“Oito produtos responderam por 81% da queda na quantidade comprada no
primeiro semestre deste ano”, observa Christine. Entre esses produtos
estão itens básicos, como leite pasteurizado, açúcar, água mineral, por
exemplo.
Ao
contrário de outras crises nas quais as compras de produtos de higiene
pessoal não eram reduzidas, desta vez, esses itens também sentiram o
impacto do aperto no orçamento. No primeiro semestre, pela primeira vez,
a cesta de higiene pessoal recuou 5% em volume ante os mesmos meses de
2014, com destaque para queda nas compras de escova de dente, colônia,
antisséptico bucal. Em termos de cesta, a maior retração ocorreu nas
bebidas, com queda de 11% no volume, no mesmo período.
Nordeste pesa
O
Nordeste, a região “queridinha” dos empresários do varejo nos últimos
anos, foi a que mais contribuiu para a queda nos volumes consumidos de
alimentos, bebidas e artigos de higiene pessoal e limpeza no primeiro
semestre deste ano, segundo pesquisa da Kantar Worldpanel. Entre janeiro
e junho, a região respondeu por dois pontos porcentuais da queda de 8%
no país.
Na
sequência, Lorena reduziu as compras de produtos de limpeza e higiene
pessoal. “Antes, comprava dez litros de água sanitária. Agora, são só
quatro litros. Diminui pasta de dente, antisséptico bucal, desodorante e
escova de dente. Tudo isso fez com quem eu fosse menos vezes ao
supermercado. Antes eram duas vezes por semana. Agora é uma vez e no dia
das promoções das frutas e verduras.”
Lorena
adotou a tática de esconder das crianças os produtos que compra em
maiores quantidades. “Se colocamos os produtos ao alcance da vista das
crianças, elas querem consumir tudo de uma só vez.”
Ela
contou que diminuiu a compra de farinhas para mingau e outros produtos
infantis enlatados. “Estou fazendo de tudo para economizar. Cortei o
supérfluo e priorizei o essencial”, disse Lorena. (Estadão).
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