JAMIL CHADE - CORRESPONDENTE EM GENEBRA, THIAGO MATTOS - ESPECIAL PARA O ESTADO - NOVA YORK - O Estado de S. Paulo
03 Novembro 2015 | 15h 45
Em audiência, ex-presidente da CBF se declara inocente e vai aguardar julgamento em seu apartamento
José Maria Marin, o ex-presidente da CBF,
dá uma garantia de R$ 56 milhões (US$ 15 milhões) e vai aguardar seu
julgamento nos EUA em prisão domiciliar. Nesta terça-feira, ao
desembarcar em Nova Iorque extraditado da Suíça, ele foi oficialmente
acusado de fraude, conspiração e lavagem de dinheiro, com a
possibilidade de ser condenado a 20 anos de prisão.
Mas, por um acordo, deu garantias
milionárias, se declarou inocente e até sua esposa, Neusa Marin, teve de
assinar documentos para garantir sua fiança.
Seu filho também atestou
na mesma direção. Além da garantia que apenas será confiscada se Marin
violar o entendimento, o brasileiro teve de fazer um depósito de US$ 1
milhão e seu apartamento na 5ª Avenida em Nova Iorque, avaliado em US$
3,5 milhões, também foi confiscado. Mas dormiu sua primeira noite em
cinco meses em sua cama.
A garantia ainda foi organizada por quatro
"amigos", que não tiveram suas identidades reveladas. Eles, porém,
assinaram um compromisso de que Marin não fugiria. Nenhum seria do
"mundo do futebol". A primeira audiência durou poucos mais de
20 minutos e um novo encontro foi marcado para o dia 16 de dezembro. Ele
é acusado de ter recebido e compartilhado propinas para a Copa do
Brasil e para a Copa América.
Abatido, Marin chegou a pedir para se
sentar e tomar água, o que fez o juiz o questionar se ele estava bem. A
audiência teve de ser suspensa por alguns minutos, enquanto sua esposa,
Neusa, o tentava tranquilizar. Ao retomar, ambos assinaram as garantias e
o juiz insistiu que, se Marin não cumprisse o acordo, o dinheiro seria
confiscado.Ele apenas poderá sair de seu apartamento para ir ao
advogado, médico, Igreja e comprar comida, sempre com o sinal verde da
Justiça e com o acompanhamento de seguranças. Diante do juiz, Marin viu sua mulher pela primeira vez em meses. Ao
final da audiência, ambos choraram ao se abraçar longamente de forma
emocionada. Ele vestia um casado azul e calça preta. Ela, apenas uma
roupa preta. Durante a audiência, Marin apenas falou quando declarou seu
nome. A trajetória de José Maria MarinReginaldo Manente/Estadão
Marin
foi jogador profissional durante cinco anos antes de ir para a
política, onde se filiou ao partido Arena e atuou do regime militar
O brasileiro terá de pagar por cada
privilégio que solicitar. Em seu apartamento, usará uma tornozeleira
eletrônica e terá de contar com seguranças privados 24 horas por dia.
Mas a empresa contratada para prestar o serviço cobrará pelo uso do
dispositivo e será o brasileiro quem pagará por ela. Em classe econômica, ele embarcou ontem
mesmo em um vôo na cidade suíça, colocando um fim a mais de cinco meses
de prisão, desde 27 de maio. O brasileiro, acompanhado por dois
policiais em todo o voo, foi quase imediatamente levado à sua primeira
audiência, com o juiz Raymond Dearie.
Um intérprete local foi convocado e Marin
passou parte da audiência apenas ouvindo o juiz. Mas terá de colaborar
com a Justiça. Por enquanto, Marin não teria obrigações de delatar
ninguém, ainda que a Justiça americana garanta que voltará a colocar o
assunto sobre a mesa. Um dos focos dos americanos é o de traçar o
envolvimento de Kleber Leite, Marco Polo Del Nero e Ricardo Teixeira.ão por acaso, Marin fica proibido de
manter contato com eles. Ele também não poderá ter contatos com pessoas
da Traffic e outras empresas envolvidas no escândalo.
Se violar esse princípio, irá
imediatamente para uma cadeia em Nova Iorque. A meta dos investigadores é
a de impedir que Marin possa repassar informações do processo aos
ex-companheiros de comando na CBF. Marin foi o vice-presidente de
Teixeira e, de forma constante, consultava o dirigente em Miami sobre os
destinos da entidade.
Já Del Nero, atual presidente da CBF e que
não deixa o Brasil desde que voltou daquele Congresso da Fifa em que
Marin foi preso, era o homem que acompanhava diariamente as atividades
de Marin e foi escolhido como o sucessor do dirigente. Marin foi o último entre os sete cartolas da Fifa presos em maio a ter seu caso avaliado pelos suíços.
Ao terminar a audiência, Marin, advogados,
sua esposa e a polícia deixaram o tribunal à pé e se perderam até
encontrar o carro que o levaria ao apartamento. Tentando ensaiar um
sorriso e acenando para as câmeras, ele não respondeu aos jornalistas e
apenas fez uma declaração : "boa noite a todos vocês". Quando sua
audiência terminou, outra começou no mesmo local, envolvendo alguns dos
maiores mafiosos da Itália.
Comentário Enquanto o corrupto paga 56 milhões para ficar em casa, sem fazer nada, dormindo na sua cama, os brasileiros honestos dariam tudo para ter um emprego que lhes permitisse ter uma casa onde morar.
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