Valentina de Botas: Não sei se adianta, sei que vale a pena
VALENTINA DE BOTAS
“A estrela d’alva no céu desponta/e a lua anda tonta/com tamanho esplendor/e as pastorinhas, pra consolo da lua/vão cantando na rua/lindos versos de amor”. Neste janeiro de 2016 ainda meio zonzo, como se convocado às pressas na celeridade do tempo, a voz de brilho suave da Eliete Negreiros enche o pequeno apartamento, para onde acabo de me mudar com tudo o que tenho: a filha que só via aos finais de semana nos últimos três anos, este computador, livros e discos.
A composição de João de Barro e Noel Rosa suspende minha alma numa alegria solar. De dentro do abatimento geral no diretório do PT à confirmação de que o jeca perdera para Collor a eleição presidencial, um companheiro praguejou que “tanta luta não adiantou nada” e outro anunciou que “já perdemos, agora só falta valer a pena”. Perderiam duas vezes até alcançar o poder e aglutinar todas as forças arcaizantes para mantê-lo.
Nessa razão de viver, a escória não se acomoda, não se cansa, não desiste e não reconhece que está morta para o futuro que desponta. Então por que o Brasil indignado, nunca tão grande e vivo sob o lulopetismo como agora, se dispersa no não-adianta-nada, revigorando a bandidagem? Não sei.
Me intriga essa brava gente brasileira que rala tanto sob um governo mafioso indiferente a ela e, contudo, parece acreditar em um destino bom, natural e fácil que independe dela, sentenciando esta terra tão garrida a um futuro sempre à espera com tudo pronto na margem oposta de um rio imaginário. Estraga tudo o fato de a margem oposta estar sempre do outro lado.
Claro que não temos um Churchill para substituir Dilma; nem é essa a questão, isso é conversa espertalhona para a vigarista zanzar pelo Planalto até 2018, trata-se é de cumprir a lei: a presidente cometeu crimes e o governo ilegal deve ser destituído. Para isso, é fundamental a pressão dos brasileiros, exaustos e enojados, na constância da luta que recomeça antes de acabar.
Mas adianta? No final de 2015, pedi demissão de um emprego que adorava, mas que não me pagava o suficiente para morar com minha filha, e continuarei na mesma profissão, só que como freelancer.
Dançando comigo, a garota cujos olhos lindos são os mais lindos que existem, disse “já valeu, mamãe, minha lindona, minha heroína”.
Não sou heroína, não passo de uma mulher indignada, desempregada, dançando numa sala nua – a sala, não eu –, com uma filha de 13 anos para criar que me ensina tanto: o essencial não é adiantar, ganhar ou perder, mas valer a pena. Não é pelo Brasil indignado que precisa de cada um de nós, talvez nem somente por minha filha que voltarei às ruas.
Também me intrigo comigo mesma porque a gente se perde na gente mesma e, de repente, se acha dançando no meio da sala: é a vertiginosa, irresistível e, muitas vezes, desconhecida potência de escolher levar a vida (que nos leva) do modo que valha a pena. Sem lutar, nem vale nem adianta.
“A estrela d’alva no céu desponta/e a lua anda tonta/com tamanho esplendor/e as pastorinhas, pra consolo da lua/vão cantando na rua/lindos versos de amor”. Neste janeiro de 2016 ainda meio zonzo, como se convocado às pressas na celeridade do tempo, a voz de brilho suave da Eliete Negreiros enche o pequeno apartamento, para onde acabo de me mudar com tudo o que tenho: a filha que só via aos finais de semana nos últimos três anos, este computador, livros e discos.
A composição de João de Barro e Noel Rosa suspende minha alma numa alegria solar. De dentro do abatimento geral no diretório do PT à confirmação de que o jeca perdera para Collor a eleição presidencial, um companheiro praguejou que “tanta luta não adiantou nada” e outro anunciou que “já perdemos, agora só falta valer a pena”. Perderiam duas vezes até alcançar o poder e aglutinar todas as forças arcaizantes para mantê-lo.
Nessa razão de viver, a escória não se acomoda, não se cansa, não desiste e não reconhece que está morta para o futuro que desponta. Então por que o Brasil indignado, nunca tão grande e vivo sob o lulopetismo como agora, se dispersa no não-adianta-nada, revigorando a bandidagem? Não sei.
Me intriga essa brava gente brasileira que rala tanto sob um governo mafioso indiferente a ela e, contudo, parece acreditar em um destino bom, natural e fácil que independe dela, sentenciando esta terra tão garrida a um futuro sempre à espera com tudo pronto na margem oposta de um rio imaginário. Estraga tudo o fato de a margem oposta estar sempre do outro lado.
Claro que não temos um Churchill para substituir Dilma; nem é essa a questão, isso é conversa espertalhona para a vigarista zanzar pelo Planalto até 2018, trata-se é de cumprir a lei: a presidente cometeu crimes e o governo ilegal deve ser destituído. Para isso, é fundamental a pressão dos brasileiros, exaustos e enojados, na constância da luta que recomeça antes de acabar.
Mas adianta? No final de 2015, pedi demissão de um emprego que adorava, mas que não me pagava o suficiente para morar com minha filha, e continuarei na mesma profissão, só que como freelancer.
Dançando comigo, a garota cujos olhos lindos são os mais lindos que existem, disse “já valeu, mamãe, minha lindona, minha heroína”.
Não sou heroína, não passo de uma mulher indignada, desempregada, dançando numa sala nua – a sala, não eu –, com uma filha de 13 anos para criar que me ensina tanto: o essencial não é adiantar, ganhar ou perder, mas valer a pena. Não é pelo Brasil indignado que precisa de cada um de nós, talvez nem somente por minha filha que voltarei às ruas.
Também me intrigo comigo mesma porque a gente se perde na gente mesma e, de repente, se acha dançando no meio da sala: é a vertiginosa, irresistível e, muitas vezes, desconhecida potência de escolher levar a vida (que nos leva) do modo que valha a pena. Sem lutar, nem vale nem adianta.
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