Armas falsas são cada vez mais usadas em assaltos no DF
Até ontem, 19 foram recolhidas neste ano
Jéssica Antunes
jessica.antunes@jornaldebrasilia.com.br
Nesta semana, um taxista agarrou a camisa de um adolescente que o havia sequestrado na Asa Sul.
A reação ocorreu depois de ele não sentir o metal da arma que um dos menores encostou em sua perna durante o crime.
O objeto era de brinquedo. Quase uma arma falsificada foi apreendida por dia pela Polícia Militar no Distrito Federal somente neste mês. O homem acabou sendo jogado para fora do carro depois de apanhar.
Pelo menos 19 simulacros de arma de fogo foram usados em crimes nos primeiros 22 dias do ano, conforme levantamento realizado pelo Jornal de Brasília, já que a Secretaria de Segurança Pública diz não possuir estatísticas sobre pistolas falsas. Os objetos foram tirados de circulação nos primeiros dias do ano em Ceilândia, Plano Piloto, Gama, Taguatinga, Santa Maria, Samambaia, Recanto das Emas, Guará, Lago Norte e Itapoã.
Capitão Michelo Bueno, porta-voz da Polícia Militar, associa o alto índice ao arrocho da corporação com apreensões de armas de fogo. “Eles (os criminosos) estão procurando outros mecanismos para assaltar. Partem para o simulacro ou a arma branca. Tirando as armas de fogo das ruas, buscam por essas que são mais baratas e fáceis de encontrar. Na própria Feira dos Importados, é possível encontrar réplicas facilmente”, conta.
Segundo ele, é de entendimento da corporação que as vendas de objetos similares a armas de fogo não deveriam existir. É comum encontrar nas bancas de feiras do DF armamentos de um esporte chamado airsoft. Ela não tem balas ou pólvora, funcionam sob ação de mola ou gás com munição de plástico e podem ser encontradas a partir de R$ 200. O que a diferencia de uma original é a ponta alaranjada, que, com algum esforço, pode ser retirada e utilizada para crimes.
Memória
O uso dos chamados simulacros de arma de fogo em crimes não é novidade. Em março do ano passado, o Jornal de Brasília já havia alertado sobre o uso de réplicas de arma de fogo para cometer crimes e o crescimento desse comércio irregular.
Legislação não trata de simulacros
As armas falsas são similares na cor, no peso e no modelo. Até especialistas podem confundir com uma real. O próprio capitão Michelo Bueno, porta-voz da Polícia Militar, conta: “Já peguei uma arma idêntica a uma que tinham roubado de um policial federal. Fiquei feliz por ter achado e, só depois de olhar melhor, já na viatura, percebi que era falsa”. A recomendação, portanto, é jamais reagir. E a população sabe disso.
“Ou se muda a lei penal para incluir o simulacro como fator de aumento de pena ou o poder público regulamenta a venda desses objetos”, entende o vice-presidente da Comissão de Ciências Criminais e Segurança Pública da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-DF), Joaquim Pedro. Ele explica que a legislação considera que roubo com arma causa aumento de um terço a metade da pena, que vai de quatro a dez anos.
“O problema é que o Código Penal fala apenas de armas e não inclui simulacros, e, nos tribunais, há divergência. Uma parcela minoritária entende que uso de simulacro causa, sim, aumento de pena. A maior parte, inclusive o Superior Tribunal de Justiça, entende que o artigo se refere apenas a arma com poder de fogo”, finaliza.
Desespero
A consultora de vendas Andreia Feitosa, 24 anos, passou um susto no mês passado quando seguia de Samambaia para a Asa Sul. Ela estava em um dos 253 ônibus assaltados em dezembro. “Entraram duas pessoas. Uma delas, armada, ficou perto de mim. Entrei em desespero, e o pânico foi geral. Nessa hora, não tem como reparar se a arma é verdadeira ou não. A gente não pensa em nada, só quer que aquilo acabe”, conta.
Gestante, ela passou mal, mas não sofreu danos físicos ou materiais. “Mesmo se tivesse certeza que fosse falsa, não reagiria. A pessoa poderia me bater ou a arma ser realmente verdadeira. Melhor não arriscar”, analisa a mulher.
Vítima por três vezes
O mesmo pensa Antônio Vasconcelos, de 40 anos. Subgerente de um posto de combustível, ele esteve frente à frente com criminosos três vezes. Na primeira, tentou reagir. “Estávamos todos em uma sala. Vi que o dedo do assaltante não estava no gatilho. Vi que daria para o segurar, mas, no movimento que fiz, ele apontou a arma para a minha cabeça e engatilhou”, lembra. Depois disso, diz, reagir deixou de ser opção. “Hoje nem tento encarar a pessoa”, admite. Para ele, a vida é mais importante.
Saiba mais
No DF, é proibida a fabricação e venda de armas de brinquedo sob pena de multa de R$ 100 mil. São vetados tanto brinquedos que imitam armas de verdade quanto aquelas que disparam bola, espuma ou luz.
No entanto, a proibição não é válida para armas de pressão, que têm a venda controlada pelo Exército. Elas lançam projéteis de plástico maciço, como airsoft, e com tinta em seu interior, como paintball.
Na Feira dos Importados e na Feira do Rolo, entre outros locais, armas falsas são facilmente encontradas.
jessica.antunes@jornaldebrasilia.com.br
Nesta semana, um taxista agarrou a camisa de um adolescente que o havia sequestrado na Asa Sul.
A reação ocorreu depois de ele não sentir o metal da arma que um dos menores encostou em sua perna durante o crime.
O objeto era de brinquedo. Quase uma arma falsificada foi apreendida por dia pela Polícia Militar no Distrito Federal somente neste mês. O homem acabou sendo jogado para fora do carro depois de apanhar.
Pelo menos 19 simulacros de arma de fogo foram usados em crimes nos primeiros 22 dias do ano, conforme levantamento realizado pelo Jornal de Brasília, já que a Secretaria de Segurança Pública diz não possuir estatísticas sobre pistolas falsas. Os objetos foram tirados de circulação nos primeiros dias do ano em Ceilândia, Plano Piloto, Gama, Taguatinga, Santa Maria, Samambaia, Recanto das Emas, Guará, Lago Norte e Itapoã.
Capitão Michelo Bueno, porta-voz da Polícia Militar, associa o alto índice ao arrocho da corporação com apreensões de armas de fogo. “Eles (os criminosos) estão procurando outros mecanismos para assaltar. Partem para o simulacro ou a arma branca. Tirando as armas de fogo das ruas, buscam por essas que são mais baratas e fáceis de encontrar. Na própria Feira dos Importados, é possível encontrar réplicas facilmente”, conta.
Segundo ele, é de entendimento da corporação que as vendas de objetos similares a armas de fogo não deveriam existir. É comum encontrar nas bancas de feiras do DF armamentos de um esporte chamado airsoft. Ela não tem balas ou pólvora, funcionam sob ação de mola ou gás com munição de plástico e podem ser encontradas a partir de R$ 200. O que a diferencia de uma original é a ponta alaranjada, que, com algum esforço, pode ser retirada e utilizada para crimes.
Memória
O uso dos chamados simulacros de arma de fogo em crimes não é novidade. Em março do ano passado, o Jornal de Brasília já havia alertado sobre o uso de réplicas de arma de fogo para cometer crimes e o crescimento desse comércio irregular.
Legislação não trata de simulacros
As armas falsas são similares na cor, no peso e no modelo. Até especialistas podem confundir com uma real. O próprio capitão Michelo Bueno, porta-voz da Polícia Militar, conta: “Já peguei uma arma idêntica a uma que tinham roubado de um policial federal. Fiquei feliz por ter achado e, só depois de olhar melhor, já na viatura, percebi que era falsa”. A recomendação, portanto, é jamais reagir. E a população sabe disso.
“Ou se muda a lei penal para incluir o simulacro como fator de aumento de pena ou o poder público regulamenta a venda desses objetos”, entende o vice-presidente da Comissão de Ciências Criminais e Segurança Pública da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-DF), Joaquim Pedro. Ele explica que a legislação considera que roubo com arma causa aumento de um terço a metade da pena, que vai de quatro a dez anos.
“O problema é que o Código Penal fala apenas de armas e não inclui simulacros, e, nos tribunais, há divergência. Uma parcela minoritária entende que uso de simulacro causa, sim, aumento de pena. A maior parte, inclusive o Superior Tribunal de Justiça, entende que o artigo se refere apenas a arma com poder de fogo”, finaliza.
Desespero
A consultora de vendas Andreia Feitosa, 24 anos, passou um susto no mês passado quando seguia de Samambaia para a Asa Sul. Ela estava em um dos 253 ônibus assaltados em dezembro. “Entraram duas pessoas. Uma delas, armada, ficou perto de mim. Entrei em desespero, e o pânico foi geral. Nessa hora, não tem como reparar se a arma é verdadeira ou não. A gente não pensa em nada, só quer que aquilo acabe”, conta.
Gestante, ela passou mal, mas não sofreu danos físicos ou materiais. “Mesmo se tivesse certeza que fosse falsa, não reagiria. A pessoa poderia me bater ou a arma ser realmente verdadeira. Melhor não arriscar”, analisa a mulher.
Vítima por três vezes
O mesmo pensa Antônio Vasconcelos, de 40 anos. Subgerente de um posto de combustível, ele esteve frente à frente com criminosos três vezes. Na primeira, tentou reagir. “Estávamos todos em uma sala. Vi que o dedo do assaltante não estava no gatilho. Vi que daria para o segurar, mas, no movimento que fiz, ele apontou a arma para a minha cabeça e engatilhou”, lembra. Depois disso, diz, reagir deixou de ser opção. “Hoje nem tento encarar a pessoa”, admite. Para ele, a vida é mais importante.
Saiba mais
No DF, é proibida a fabricação e venda de armas de brinquedo sob pena de multa de R$ 100 mil. São vetados tanto brinquedos que imitam armas de verdade quanto aquelas que disparam bola, espuma ou luz.
No entanto, a proibição não é válida para armas de pressão, que têm a venda controlada pelo Exército. Elas lançam projéteis de plástico maciço, como airsoft, e com tinta em seu interior, como paintball.
Na Feira dos Importados e na Feira do Rolo, entre outros locais, armas falsas são facilmente encontradas.
Fonte: Da redação do Jornal de Brasília
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