O aumento das temperaturas no Ártico, durante o último inverno no hemisfério norte, fez com que a camada de gelo alcançasse a menor área máxima já registrada nessa estação do ano.
Em 2016, a cobertura máxima de gelo, registrada no dia 24 de março, foi de 14,52 milhões de quilômetros quadrados, batendo o recorde inferior do ano passado, que havia sido de 14,54 milhões de quilômetros quadrados.
Essas medidas se referem à área máxima da cobertura de gelo no mar antes de ela começar a recuar com a chegada da primavera.
O aquecimento do Ártico
“O recorde inferior da camada de gelo do Ártico, durante o último inverno, é um dos sintomas e consequências do aquecimento global em curso, causado pelas emissões humanas de gases do efeito estufa”, afirma o cientista Stefan Rahmstorf, do Instituto Potsdam para Pesquisa sobre o Impacto Climático.
Ele lembra que as temperaturas globais têm aumentado constantemente desde o início dos anos 1970. As temperaturas do ar sobre o Ártico em dezembro, janeiro e fevereiro ficaram entre 2 e 6 graus Celsius acima da média em quase todas as regiões, segundo o Centro Nacional da Neve e do Gelo dos EUA (NSIDC, na sigla em inglês).
Temperaturas de 12 graus Celsius acima da média foram registradas no norte de Svalbard em março. “Eu ainda não havia visto um inverno tão quente e maluco no Ártico”, diz Mark Serreze, diretor do NSIDC. “O calor foi implacável.”
Águas quentes do Atlântico
Segundo cientistas, as altas temperaturas podem ter sido causadas, em parte, pelo efeito El Niño no Oceano Pacífico. O degelo mais dramático, porém, foi no lado do Ártico mais próximo ao Atlântico, nos mares de Barents e de Kara.
Tore Furevik, diretor do Centro Bjerknes de Pesquisa Climática da Noruega, afirma que isso aconteceu porque as correntes quentes do Atlântico são as principais causas do degelo do mar durante o inverno.
Por isso, a camada de gelo no mar durante o inverno é vista como um indicador menos confiável das mudanças climáticas do que a camada de gelo durante o verão. Mas Furevik afirma que as mudanças climáticas foram, sem dúvida, um fator importante.
“Tivemos um degelo recorde no Ártico no ano passado e um novo recorde neste ano – isso aponta para o aquecimento global. Não deveríamos ficar surpresos se, no ano que vem, tivermos de novo mais gelo, mas a tendência de longo prazo é evidentemente de menos gelo no mar”, diz o especialista.
Implicações para os sistemas meteorológicos
A perda de gelo no Ártico e o consequente aumento do nível do mar têm implicações para os sistemas meteorológicos. “O que gera especial preocupação é o rápido aquecimento do Ártico durante os últimos 15 anos”, diz Rahmstorf.
“Isso tem causado uma perda acelerada de gelo continental na Groenlândia, o que eleva o nível do mar e provavelmente contribui para o enfraquecimento da corrente do Golfo. Possivelmente também afetou as correntes de jato na atmosfera e tem sido associado a eventos climáticos extremos em latitudes médias”, realça.
Menos gelo no mar significa que mais calor pode ser absorvido e emitido pelo oceano. Furevik diz que pesquisas estavam sendo realizadas a fim de listar os possíveis impactos do degelo no Mar de Barents para os sistemas climáticos do oriente, incluindo consequências para o inverno de países como a China e Japão.
Impulso para a pesca
No entanto, há quem ganhe com o aquecimento do Atlântico Norte. Uma camada mais reduzida de gelo e águas mais quentes têm sido um impulso considerável para a pesca, afirma Furevik.
“A quantidade de bacalhau na costa norte da Noruega e do Mar de Barents parece ser maior do que nunca. Então, é um impacto muito positivo para a economia do norte norueguês”, explica.
Porém, o Greenpeace alertou que a pesca no Ártico representa uma ameaça para a biodiversidade da região. (Com Deutsche Welle)
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