terça-feira, 16 de agosto de 2016

A contaminação por mercúrio em peixes marinhos no Brasil, por Marcelo Tardelli Rodrigues e Manildo Marcião de Oliveira

terça-feira, 9 de agosto de 2016


A poluição ambiental representa uma séria ameaça aos ecossistemas costeiros, à vida marinha e, consequentemente, à saúde humana. O mercúrio (Hg) é um metal pesado naturalmente presente em todo o planeta em baixas concentrações.


Quando atinge concentrações altas, é decorrente da ação do homem sobre o ambiente, como por exemplo, a atividade garimpeira e despejos de esgotos domésticos e industriais, estes últimos provenientes principalmente de indústrias cloro-álcali, usinas termoelétricas a carvão e incineradores industriais.


Dependendo das condições ambientais, o mercúrio que é introduzido no ambiente pode sofrer alterações através de processos mediados por microorganismos, e ter sua forma química inicial modificada, passando a sua forma organificada, o metilmercúrio (MeHg), que é a forma mais tóxica do elemento, responsável por efeitos prejudiciais sobre a saúde humana através do consumo de alimentos, principalmente de vertebrados marinhos, como peixes carnívoros.


Os peixes podem absorver em seus tecidos e órgãos concentrações de mercúrio presentes no ambiente, através das vias respiratórias (ex: brânquias), do tegumento (ex: pele, escamas) e da alimentação. A capacidade de acumulação, assim como a quantidade de mercúrio presente no peixe, depende principalmente da quantidade e disponibilidade (biodisponibilidade) da forma química em que o elemento está no ambiente, e varia de acordo com a espécie, hábito alimentar, comprimento, peso, idade e mobilidade da mesma.



Um estudo realizado por pesquisadores do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Fluminense (IFF)/Campus Cabo Frio pesquisou, selecionou e analisou 13 estudos (trabalhos científicos) cuja temática foi a “análise das concentrações de mercúrio em espécies de peixes marinhos na costa brasileira”, com o objetivo de mostrar quais espécies foram capturadas em tais estudos e os níveis de mercúrio encontrados nos indivíduos coletados de cada uma dessas espécies.


Para a surpresa de todos, 50% dos peixes analisados nesses estudos apresentaram concentrações de mercúrio acima do limite máximo recomendável para consumo humano, estabelecido pela Organização Mundial de Saúde (OMS), que é de 0,5 µg/g (micrograma de mercúrio por grama de tecido muscular) para peixes não-carnívoros e produtos da pesca, e 1 µg/g para peixes carnívoros.



Atualmente, o consumo de peixes, moluscos e crustáceos constitui a principal fonte de contaminação de pessoas, cujos efeitos sobre a saúde incluem danos ao sistema nervoso central, coração e sistema imunológico. Os fetos e crianças são especialmente vulneráveis a problemas de desenvolvimento.

No estudo que será publicado em breve, os pesquisadores concluíram que a descoberta de níveis altos de mercúrio em algumas espécies de peixes oceânicos (atum-azul, agulhão-vela, espadarte e tubarão-azul, entre outros) é surpreendente, devido ao fato de que muitos vivem longe da costa.


Tais concentrações podem ser explicadas pelo aumento desse elemento ao longo da cadeia alimentar marinha e da distribuição global de mercúrio, com dispersão auxiliada pelas correntes oceânicas e atmosféricas de transporte. No entanto, embora esses altos níveis de mercúrio representem um possível aumento do nível desse elemento nos oceanos, as informações apresentadas nesse estudo serão úteis para a indústria da pesca e órgãos públicos de saúde responsáveis por supervisionar o consumo público de determinadas espécies de peixes.


Essas informações também fomentarão a prevenção no consumo de determinadas espécies de peixes oceânicos, principalmente as espécies carnívoras, e novas investigações sobre esse tema, focando no mecanismo de contaminação das espécies estudadas.


Buscamos com essas informações, a formação de um relato que auxilie na conscientização sobre o monitoramento desse metal em ambientes marinhos e na fauna marinha em geral.


Marcelo Tardelli Rodrigues e Manildo Marcião de Oliveira
Programa de Pós-graduação em Engenharia Ambiental (PPEA)
Laboratório de Ecotoxicologia e Microbiologia Ambiental (LEMAM)
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Fluminense (IFF)
Fonte: EcoDebate

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