- quinta-feira, 11 agosto 2016 22:09
Manaus, AM --
Os quarenta milhões de hectares dominados pela agricultura corporativa, desenvolvida por grandes empresas internacionais, no Brasil e em países da África são, ao mesmo tempo, a principal ameaça ao futuro dos polinizadores e também um caminho para ações que possam protegê-los, segundo um estudo que reuniu um time internacional de 17 pesquisadores, entre eles o engenheiro agrônomo brasileiro Breno Magalhães de Freitas, da Universidade Federal do Ceará.
Para a elaboração do estudo, publicado no início de agosto na revista científica Peer J, os pesquisadores convocados apresentaram um total de 60 possíveis ameaças e oportunidades para o futuro dos insetos e outros animais responsáveis pela polinização de plantas. Após uma série de rodadas de análises, 15 questões foram selecionadas e, entre elas, seis apontadas como prioritárias. No topo da lista, o controle da agricultura por grandes corporações, que produzem principalmente soja para o mercado chinês.
“Eles usam técnicas padronizadas em todos os lugares em que atuam”, afirma o professor brasileiro, que há mais de vinte anos estuda abelhas e hoje é uma referência internacional quando se trata de polinizadores. “Essas técnicas não são adequadas aos polinizadores. Mas ao mesmo tempo, se você convence essas empresas a não causar impactos aos polinizadores, podemos ter impactos positivos também”, ressalta. Mas para que essa estratégia funcione, é preciso que essas grandes empresas trabalhem em colaboração com organizações não governamentais e pesquisadores, segundo os próprios autores do estudo.
Eles destacam que cerca de 35% da produção agrícola mundial e 85% das plantas silvestres com flores dependem de polinizadores. A redução desses agentes têm impactos sobre a agricultura. Freitas cita um estudo publicado por ele e um ex-aluno de doutorado, Marcelo Milfont, que trata da relação entre polinizadores e produtividade da soja. “Se você tem polinizadores, há um aumento de 12% a 18% da produção numa mesma área”, conta.
O pesquisador brasileiro destaca também a ameaça representada pelo surgimento de uma nova classe de inseticidas sistêmicos, ou seja, que entram no metabolismo das plantas, os sulfurados. De acordo com Freitas, ainda não se conhece bem os efeitos desses venenos para abelhas e outros insetos e o Brasil é o maior consumidor mundial de agrotóxicos. Novos vírus emergentes e os efeitos de eventos extremos associados às mudanças climáticas também foram destacadas como ameaças.
Ao lado, estão também fatores que podem ser aliados à preservação dos polinizadores, como o aumento da diversidade de espécies manejadas e a redução do uso de produtos químicos em ambientes não-agrícolas.
Diferente da maioria das pesquisas, que segundo os autores do artigo buscam apenas mitigar os impactos, esse novo estudo procura apontar soluções para superar as ameaças. “Estamos adotando, cada vez mais, práticas que afetam essas espécies. Então buscamos infantilmente mitigar essas perdas, ao invés de impedi-las, em primeiro lugar”, afirma o líder do estudo, Mark Brown, Royal Holloway University of London.
Segundo Breno Freitas , o estudo mostra que existem duas opções. A primeira, deixar as coisas continuarem como estão e sempre buscar medidas paliativas e que geralmente não funcionam. A outra, é chamar governos e grandes corporações para assumirem também a responsabilidade e atuar junto com pesquisadores, organizações não governamentais e sociedade.
“ O foco deve ser na implantação de medidas preventivas, para minimizar ou eliminar os possíveis problemas antes que aconteçam”, afirma.
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