Uma quantidade imensa de pesquisas, surgidas de diversos cantos,
inclusive da academia colocam a questão ambiental entre as cinco maiores
preocupações atuais da humanidade.
O jornalismo sob enfoque tanto científico como o ambiental, esse último
muito mais organizado em suas relações, se esforça para colocar uma lupa
e por vezes uma teleobjetiva macro em ações pontuais na esperança de
sensibilizar as pessoas sobre ações positivas ou parte para exemplos
trágicos como fenômenos extremos, geralmente ligados ao clima. Mas entre
a sensibilização e a ação prática há um abismo, além do perigo de
alicerçar a zona de conforto de muito inativos ambientalmente.
Há um latente analfabetismo ambiental e científico, que não é
exclusividade brasileira, que colabora fundamentalmente para que os
barbarismos da antropização do meio ambiente natural acabem mitigados
pela própria mídia ao apresentar soluções individuais, de pequeno
alcance. A resposta inconsciente – ou mesmo consciente – é que há gente
já trabalhando nesta mudança planetária. Como se isso aplacasse a culpa
e, principalmente, a inoperância de grande parte da sociedade. A
situação piora se isso mexer com algum interesse particular ou com a
alteração do status quo do indivíduo. Vivemos a dicotomia do “precisamos
mudar, mas, por favor, não altere nada”.
O homem ainda não se apercebeu que quem está em risco de extinção é sua
própria espécie. Ele passará e permanecerá como um registro fóssil,
assim como as espécies marinhas, os grandes répteis, os dinossauros e a
megafauna, essa já incluindo diversos mamíferos. Em 500 milhões de anos
de evolução da vida planetária e de extinções em massa (já que eles
ocorrem diariamente em menor escala), a melhor definição do que venha
ser a espécie humana vem do jornalista da BBC e naturalista David
Attenborough: “ Somos muito mais filhos de desastres naturais que da
própria evolução natural”.
A busca por informações ambientais cresce, o assunto ganha espaço desde
os debates acadêmicos até as conversas de mesa de bar, criando um
paradoxo no mínimo curioso: necessita da informação, de compreendê-la
dentro de uma linguagem acessível ao leigo, mas não está disposta a
bancá-la. Os sites e publicações especializadas no tema vivem a mingua
para manter-se e diversos já encerraram suas atividades.
A sociedade, em sua esquizofrenia mercantilista, paga altos valores para ter informações de ordem econômica. Mas não faz o mesmo pela ambiental. Para a maioria preocupada com a situação planetária (embora haja uma significativa parcela que sequer busque compreender a gravidade do quadro) compreender que a elevação de um grau centígrado na média térmica mundial esfacelará esse modelo econômico que tanto se preza. Mais difícil ainda se aperceber que suas estruturas sociais se transformaram drasticamente em questões de dias ou mesmo de horas, num colapso fatal.
Existe aí um autismo das sociedades urbanas movidas pelo consumo apregoado por uma economia desenfreada, autofágica e narcisista, além de extremamente egoísta. A beira deste colapso se vê surgir às figuras dos salvadores, que mesmo com a prostração geral, emergirá para a redenção da humanidade e seu rastro de atrocidade.
Vários acreditam na figura de Deus redentorista, difundido pelas
religiões monoteístas. Os mais pragmáticos buscam as respostas em
governantes mal assessorados e intencionados que surgem com ares
messiânicos no universo da política mundial. Ou no empresariado que posa
de timoneiro da construção de uma nova ordem mundial. Em todos esses
casos há a redenção dos desastres ambientais provocados pelo homem e a
perpetuação desta espécie como soberana sobre os demais seres viventes e
numa tentativa suicida em controlar o planeta.
Para completar, o universo científico quando não passa a desqualificar
os movimentos ambientais, num exercício de ego próprio dos decanos da
erudição, diminuíram sensivelmente a divulgação de informações
científicas e poucas vezes estabelecem vínculos entre seus trabalhos e
de colegas ‘concorrentes’. Infelizmente essa ainda é uma prática comum
no meio acadêmico e tão provinciana quanto às tiranias do conhecimento
que condenaram Galileu, Pasteur, Darwin e uma infinidade de outros que
ousaram enfrentar as elites do saber.
Só haverá real esperança em alterar a dramática situação planetária
quando o volume de conhecimento e informações cruciais para a criação de
uma massa crítica saltar das dissertações e teses, pesquisas mantidas
sob o anonimato e estudos, inclusive inconclusos, deixarem o mofo de
seus escaninhos e bibliotecas e saltaram para a democratização do
conhecimento.
Enquanto o império do egoísmo não superar essa falta de visão universal
estamos fadados a sermos os autores da mais cruel e programada extinção
em massa do que chamamos hoje de Terra.
(#Envolverde)
(#Envolverde)
* Júlio Ottoboni é jornalista diplomado, tem 31 anos de profissão, foi
da primeira turma de pós-graduação de jornalismo científico do Brasil,
atuou em diversos veículos da grande imprensa brasileira, tem cursos de
pós-graduações no ITA, INPE, Observatório Nacional e DCTA. Escreve para
publicações nacionais e estrangeiras sobre meio ambiente terrestre,
ciência e tecnologia aeroespacial e economia. É conselheiro de entidades
ambientais, como Corredor Ecológico Vale do Paraíba, foi professor
universitário em jornalismo e é coautor de diversos livros sobre meio
ambiente. É colaborador Attenborough fixo da Agência Envolverde e
integrante da Rebia.
Fonte: Envolverde
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