terça-feira, 9 de agosto de 2016

Bambu para toda obra


Bambu para toda obra
O Brasil não fabrica máquinas capazes de processar o bambu. [Imagem: Juliana Cortez Barbosa]
Olhos para o bambu
Para muitos agricultores brasileiros, deparar-se com uma moita de bambu no seu terreno costuma ser má notícia. A planta da subfamília Bambusoideae é conhecida pela capacidade de se espalhar rapidamente, assim como por sua resistência ao roçado.


Mas é possível que, nos próximos anos, a má-fama dê lugar a uma imagem favorável. É que estudos sobre o uso comercial do bambu estão se multiplicando no mundo todo. É o caso das pesquisas desenvolvidas pela professora Juliana Cortez Barbosa, da Unesp (Universidade Estadual Paulista).


Juliana acaba de receber a patente para um método que aproveita o bambu para reforçar placas feitas de outras madeiras, o que permite seu uso para fazer pisos e móveis.


Painéis EGP com bambu
A pesquisa permitiu a produção de um compósito - um material feito a partir da combinação de diferentes elementos - que alia o bambu à madeira reflorestada de pinus.


O pinus é abundante e comumente usado na confecção de painéis do tipo EGP (Edge Glued Panel). Também conhecido como painel de colagem lateral ou painel de sarrafo, o EGP é feito de lâminas coladas lateralmente, e bastante utilizado em projetos arquitetônicos e na fabricação de móveis.


O pinus tem pouquíssima resistência mecânica, mas os testes mostraram o poder da sua combinação com o bambu.


"Os resultados mostraram que a resistência mecânica do EGP cresceu entre 100% e 200%," conta Juliana. Também houve uma grande melhoria na propriedade conhecida como rigidez superficial: dos cerca de 50 g/cm2 que são comumente encontrados no pinus, chegou-se a cerca de 90 g/cm2.


Bambu para toda obra
Esta casa totalmente feita de bambu foi construída por pesquisadores norte-americanos para demonstrar o potencial do material. [Imagem: USC]
 
 
Só para comparar, a densidade obtida pela dupla pinus-bambu é semelhante àquela encontrada em madeiras de lei como a tatajuba e a garapa, utilizadas em marcenarias, na construção naval e na fabricação de itens de construção civil como vigas, caibros e assoalhos.


O segredo para tamanha solidez é a proporção entre pinus e bambu. "Na verdade o compósito patenteado é quase todo de bambu", diz Juliana. "Só que uma parte dele está em lâminas, e outra é feita de material particulado."


Pisos de bambu
Hoje, já existem pisos de bambu disponíveis no mercado brasileiro. São tão valorizados por sua beleza e resistência que custam até R$ 250 por m2, e são importados.


O que não deixa de ser paradoxal, uma vez que no sudoeste da Amazônia existem 160 mil km2 de florestas conhecidas como tabocais, onde a ocorrência da planta é grande. Só no Acre, os tabocais recobrem 38% de todo o território.


Em países como a China e a Colômbia, erguem-se casas e até edifícios de vários andares usando o bambu na estrutura. Mas Brasil ainda carece até mesmo de maquinário especializado para lidar com o bambu.


"Não há oferta comercial de máquinas. As duas que usamos na universidade foram produzidas especialmente para nossos projetos," conta Juliana, acrescentando que o ideal seria também contar com plantios específicos, que forneçam bambu apenas para atividade econômica.

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