quinta-feira, 4 de agosto de 2016
Há sete anos, quando apresentou sua candidatura para sediar os Jogos
Olímpicos de 2016, a cidade do Rio de Janeiro afirmou que a qualidade de
seu ar estava dentro dos limites recomendados pela Organização Mundial
da Saúde (OMS) e garantiu que faria melhorias no controle dessa
qualidade até a realização da competição.
Segundo levantamento feito pela agência Reuters, usando dados oficiais, o
ar na região metropolitana do Rio de Janeiro está duas a três vezes
acima do limite anual da OMS para MP 10 (material particulado com
diâmetro de 10 mícrons ou menos). Esse material é lançado diariamente
para a atmosfera pela frota de 2,7 milhões de veículos motorizados que
roda pelas ruas cariocas. De 2010 a 2014, a metrópole carioca apresentou
média anual de 52 MP 10 por metro cúbico de ar, segundo dados do
Instituto Estadual do Ambiente do Rio de Janeiro (INEA).
Para efeito de comparação, na última edição dos Jogos, realizada há
quatro anos em Londres, o nível de MP 10 era de 23 por metro cúbico de
ar. Pelos dados, a cidade do Rio de Janeiro tem o segundo ar mais
poluído de todas as sedes olímpicas desde 1988, quando o nível de MP 10
começou a ser aferido. Apenas Pequim, sede dos Jogos de 2008, supera os
índices do Rio de Janeiro – na capital chinesa, a concentração de MP 10
chegou a 82 durante a disputa da competição.
De acordo com a OMS, o MP afeta mais pessoas do que qualquer outro
poluente atmosférico. Em 2012, a exposição ao MP 10 causou 3,7 milhões
de mortes prematuras em todo o mundo, estima a Organização.
“Definitivamente, isso não é ‘ar olímpico’”, apontou Paulo Saldiva,
patologista da Universidade de São Paulo (USP), para a Reuters. “Muito
se falou sobre a poluição da água no Rio, mas muito mais pessoas morrem
por causa da sujeira do ar do que da água. Você não é obrigado a beber
água da Baía de Guanabara, mas você é obrigado a respirar o ar do Rio”.
Usando metodologia da OMS, Saldiva calculou que a poluição atmosférica
no RJ causou a morte de 5,4 mil pessoas em 2014. Esse número seria
superior ao índice de mortes causadas pela violência urbana no ano
passado (quase 3,2 mil óbitos), um problema crônico da capital
fluminense.
A Reuters, em parceria com Saldiva, realizou 22 testes de uma hora cada
separados para níveis do MP 2,5 (a partícula fina que apresenta o maior
risco para a saúde) em pontos importantes dos Jogos no Rio de Janeiro:
em frente ao Parque Olímpico e à Vila Olímpica; próximo à arena do vôlei
de praia (Copacabana); e do lado de fora do estádio do Engenhão, sede
das competições de atletismo e futebol. Para essa partícula, a OMS tem
como limite seguro 25 MP 2,5 por metro cúbico de ar.
De acordo com a Reuters, os resultados mostraram que os atletas, os
moradores do entorno e o público estão expostos a altos níveis de
material particulado desse tipo. O Engenhão apresentou pico de 65 MP 2,5
durante um teste em 30 de junho, realizado no período da manhã, no
mesmo horário em que acontecerá a competição de atletismo. Copacabana
registrou nível 57 no mesmo dia, e a Vila Olímpica, 32.
A má qualidade do ar do Rio de Janeiro pressiona ainda mais o poder
público sobre o legado esperado das Olimpíadas para a cidade. A situação
das águas da Baía de Guanabara, palco das competição de vela e
windsurf, virou polêmica internacional, com atletas temendo efeitos do
contato com a água contaminada por dejetos de esgoto da cidade.
O entorno do Parque e da Vila Olímpica, na Barra da Tijuca, também é alvo de críticas por poluição: as águas que banham essas instalações estão repletas de esgoto e material orgânico em decomposição, o que resulta em um cheiro fétido que certamente incomodará atletas e público.
O entorno do Parque e da Vila Olímpica, na Barra da Tijuca, também é alvo de críticas por poluição: as águas que banham essas instalações estão repletas de esgoto e material orgânico em decomposição, o que resulta em um cheiro fétido que certamente incomodará atletas e público.
Fonte: Envolverde
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