quarta-feira, 21 de dezembro de 2016
Que o aquecimento global está ameaçando a existência de diversas
espécies de animais e aves é algo conhecido e apontado por inúmeros
estudos. Ocorre que o fenômeno é mais grave do que se supunha, como
apontam os resultados de pesquisa recente.
Em estudo publicado na revista Plos Biology em sua edição de 08 de
dezembro deste ano fica evidenciado que quase a metade (47%) das
espécies de animais e plantas pesquisados sofreram extinções locais
recentes no mundo todo devido às mudanças climáticas. Os mais afetados
são os animais das zonas tropicais e em habitats de água doce.
A pesquisa realizada pelo professor John J. Wiens, da Universidade do
Arizona, Estados Unidos, constatou a extinção local de 47% de 976
espécies de animais e vegetais estudados. Foram objeto do estudo 716
animais e 260 plantas de diversas regiões da Ásia, Europa América do
Norte, Oceania e América do Sul. A pesquisa considerou como extinção
local quando desaparecem as populações em um ou mais lugares de suas
distribuições regionais e se deslocam a latitudes mais altas do planeta
em busca de habitats mais frios.
O estudo confirma a suspeita dos cientistas chineses de que o coelho lli
PIka (Ochotona Iliensis), uma das criaturas mais belas e mais raras do
mundo é uma das prováveis vítimas da extinção local provocada pelo
aquecimento global. O coelho, que inspirou o personagem Pikachu, foi
descoberto em 1983 nas montanhas do noroeste da China e sua população
foi reduzida em 70% durante esses anos.
No Brasil foram descobertas várias espécies de pequenos anfíbios nas
áreas de Mata Atlântica nos últimos anos em regiões mais altas de
montanhas. Estes pequenos animais têm distribuição restrita e tem seu
habitat continuamente modificado pelas mudanças climáticas. A opção
desses pequenos anfíbios é migrarem para latitudes mais altas ou se
adaptarem à novas condições climáticas.
Nas regiões de altitude da Mata Atlântica, que por si só é um bioma
ameaçado, muitas espécies desconhecidas pela ciência poderão desaparecer
sem nunca se tornarem conhecidas. Há diversos anfíbios que foram
descobertos que se encontram em perigo de extinção.
Em 2015, pesquisadores brasileiros publicaram um artigo científico na
revista Peerj comunicando a descoberta de sete novas espécies de
minúsculos sapos endêmicos da Mata Atlântica e que habitam as montanhas
da Serra do Mar, entre Paraná e Santa Catarina. Segundo o relato os
animais são altamente sensíveis às mudanças climáticas e já são
considerados ameaçados de extinção.
O estudo revelando que a extinção local da biodiversidade motivada pelas
mudanças climáticas é importante para se reavaliar as políticas de
conservação no Brasil, considerando áreas até então ignoradas como
morros e montanhas que formam ecossistemas localizados contendo espécies
animais e vegetais endêmicas e de distribuição restrita. Essa
necessidade de reavaliação dos critérios para criação de unidades de
conservação se impõe de forma mais contundente pelo fato de que, por
exemplo, dos sete anfíbios descobertos somente um deles habita uma
unidade de conservação.
A persistente extinção localizada de espécies, confirmada pelo estudo do
pesquisador John Wiens, indica a importância de se acelerar a pesquisa
em locais de altitude levando em consideração as possibilidades maiores
de extinção relacionadas ao aquecimento global.
*Reinaldo Dias é professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie,
campus Campinas. Doutor em Ciências Sociais e Mestre em Ciência Política
pela Unicamp. É especialista em Ciências Ambientais.
Fonte: EcoDebate
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