quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

População se revolta com bandidos e age no lugar da polícia

Menor foi agredido por populares após tentativa de assalto em parada de ônibus

Raquel Martins Ribeiro
raquel.martins@jornaldebrasilia.com.br

Em menos de uma semana, dois casos violentos ocorridos em Santa Maria reacenderam as discussões sobre os cidadãos que reagem à criminalidade fazendo "justiça" com as próprias mãos.


A primeira ocorrência foi registrada no dia 25 de dezembro, enquanto a maioria das famílias comemoravam o Natal.



Na cena, um suspeito de roubar uma bicicleta é espancado e deixado desmaiado próximo ao posto de combustível da Quadra 106, de Santa Maria Sul.


Três dias depois, em uma tentativa de assalto em uma parada de ônibus na Quadra 204 de Santa Maria Sul, um adolescente de 17 anos foi rendido e agredido por populares até a chegada da Polícia Militar. Segundo informações da Divisão de Comunicação da Polícia Civil do DF, nos dois casos, os menores foram levados ao Hospital Regional de Santa Maria e, de lá, encaminhados à Delegacia da Criança e do Adolescente (DCA).


Polêmica
Os dois vídeos que circulam nas redes sociais geraram polêmica e dividem opiniões. No site do JBr., o internauta Cléber concorda com os atos: "Uma ótima notícia para começar o dia. Passou da hora de a população dar um freio nesses marginais. Lugar de bandido é na cadeia ou no cemitério", afirmou. No Facebook, mais gente aprova a atitude. "Que bom que a justiça foi feita, já que o poder público não faz nada mesmo!", comentou Martinha Filha .

"Bem feito! Temos que agir por conta porque não temos segurança", completou Zélia Soares.


Mas as duas situações também provocaram revolta. "Quando vejo uma pessoa agredindo outra, não consigo identificar quem é o criminoso", questionou Pâmela Rodrigues. "Se conseguiram render o criminoso, ótimo. Mas não precisa espancar. Isso nem a polícia deve fazer!", criticou Leandro Cunha.


Moradores da região também criticam a brutalidade dos "justiceiros". Para o açougueiro Sérgio Vieira, 40 anos, que já foi baleado durante um assalto em Santa Maria, reagir nunca é a melhor opção. "Somente por dizer ao assaltante que eu não tinha nada ele me deu um tiro na perna", relembra e completa: "A polícia é treinada para agir nessas situações, e o cidadão comum não. O melhor é entregar o que tiver e, depois, procurar a delegacia”.


"As pessoas estão exaustas e reagem"
Apesar de não concordar com o dito "olho por olho e dente por dente", a técnica de enfermagem Silvana Pereira, 37 anos, diz entender a motivação da população. "Estamos acuados, sem segurança nem confiança na Justiça. As pessoas estão exaustas e reagem dessa maneira. Eu não sei o que faria em uma situação dessas, mas consigo compreender a revolta”, relata.


Claudemir Vital, 39 anos, pastor em uma igreja na quadra onde um dos espancamentos ocorreu, acredita que a responsabilidade de ações como essa é da própria polícia. "Os policiamentos não são frequentes. Quase não vemos rondas por aqui. Também faltam iluminação e ação do governo, como um todo. Tudo isso aumenta a violência e gera uma loucura generalizada", conclui.


Procurados pelo JBr., agentes da Polícia Militar se manifestaram contrários às ações dos moradores. "A recomendação é nunca reagir no caso de um assalto   nem tentar prender o criminoso. Esse é o papel da polícia. O que o cidadão pode fazer é ligar para o 190 e passar o máximo de informações possíveis para auxiliar a PM a encontrar os suspeitos e tomar as medidas cabíveis", declarou o cabo Figueira.


Memória
Alguns casos de “justiça com as próprias mãos” tiveram repercussão nacional. Um deles, em julho de 2015, foi o de um homem amarrado a um poste e espancado até a morte por um grupo de pessoas em São Luís (MA), suspeito de assalto.


Populares rasgaram suas roupas, arremessaram-lhe pedras e garrafas e o golpearam até que uma hemorragia o matasse. Em maio de 2014, uma mulher foi linchada no Guarujá por pessoas que a confundiram como praticamente de “magia negra” após multiplicação de um boato pelo Facebook.


Fonte: Da redação do Jornal de Brasília

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