quinta-feira, 19 de janeiro de 2017
Lançado pelo ISA, o Guia da Muvuca, também digital, pretende ajudar quem
quiser semear florestas e campos, mostrando o passo a passo da muvuca,
como é chamada a mistura de sementes de diferentes espécies para
recuperação ambiental de áreas degradadas
Está no ar a nova publicação do Instituto Socioambiental (ISA) para
disseminar técnicas de reflorestamento. O Guia da Muvuca traz
ilustrações e textos explicativos mostrando todas as etapas da
utilização da técnica: desde a coleta de sementes, o planejamento, a
preparação do terreno, o plantio, a época melhor para semear, o manejo, o
cálculo da quantidade de sementes necessárias, a aquisição de sementes
até a colheita. Acesse.
O reflorestamento de áreas degradadas como nascentes e matas ciliares de
rios e lagoas, que os técnicos do ISA no Xingu vêm realizando há dez
anos, utiliza a técnica da muvuca, uma mistura de sementes de espécies
diferentes que se planta de uma só vez, direto na terra. A técnica da
semeadura direta para plantar espécies nativas ou nao é empregada por
agricultores e povos indígenas há séculos e foi incorporada pela
Campanha Y Ikatu Xingu, que o ISA e parceiros lançaram no final de 2004
para recuperar matas ciliares nas cabeceiras do Rio Xingu, no Mato
Grosso.
As atividades de restauração tiveram início em 2006, e hoje a região
contabiliza mais de 3 500 hectares reflorestados. A partir do acúmulo de
experiências do ISA ao longo desses 10 anos, e do consenso que existe
sobre a urgência de restaurar a vegetação ao redor de nascentes, rios e
lagoas, agricultores familiares, grandes agricultores, pecuaristas,
povos indígenas e populações urbanas plantam, hoje, espécies nativas
nessas áreas.
Todos comprovam os benefícios que a restauração florestal traz aos
peixes, pelas frutas e sombra que propicia; aos animais, pelos
corredores naturais que formam; ao clima regional e global, pela
retenção de água e carbono atmosférico e à qualidade da água, bem finito
e necessário à perpetuação da vida.
Além das sementes, a muvuca pode incluir também ervas, arbustos, cipós e
árvores, pode-se quebrar a dormência das sementes ou inocula-las,
pode-se ou não misturar com terra ou areia e seu plantio pode ser
realizado de diferentes formas, mecanizadas ou manuais.
Ilustrações e textos explicam as etapas
A nova publicação do ISA explica como cada espécie presente na muvuca é
selecionada em função de sua forma de vida, taxa de germinação,
velocidade de crescimento, tempo de vida, tolerância à seca, inundação,
geada, fogo, atração à fauna e uso econômico. A quantidade de semente de
cada espécie é planejada para que sempre haja plantas em todas as
alturas da vegetação, em quantidade suficiente para recobrir toda a
área. Em áreas degradadas é interessante misturar também leguminosas
para adubação verde.
As sementes nativas estão à venda por diversos fornecedores no Brasil e
na Associação Rede de Sementes do Xingu (www.sementesdoxingu.org.br),
que produz em organização coletiva 250 espécies de plantas nativas do
Cerrado e da Amazônia. Outra opção é a coleta que cada pessoa pode fazer
perto do seu local de plantio.
Sementes versus mudas
Restaurar ecossistemas usando sementes, em vez de mudas, apresenta
vantagens econômicas, sociais e ambientais que a experiência do ISA em
Mato Grosso comprova e a de diversos outros parceiros também. É o caso
da Embrapa, UFSCar, USP, Unemat, Ipam, Ansa, CPT, IOV, ICV, Idesam,
Aitupiapabra, CI, TNC, ILG, Agropec. Fazenda Brasil, Fazenda Bang-Bang,
Gerdau, Fibria, entre outros. O resultado desses plantios se destaca
pela quantidade de árvores estabelecidas por m2, pelo recobrimento
rápido do terreno, praticidade e baixos custos.
A muvuca começou a ser disseminada no Brasil pelo trabalho do grupo Mutirão Agroflorestal com Ernst Göstch na década de 1980 e 1990, focado até hoje no desenvolvimento e multiplicação de sistemas agroflorestais produtivos. A partir dessas experiências, o ISA e diversos parceiros da Campanha Y Ikatu Xingu começaram em 2006 a testar a técnica em Áreas de Preservação Permanente (APPs) e Reserva Legais (RLs), especialmente em áreas de Cerrado e Amazônia no nordeste de Mato Grosso.
Vale lembrar que toda propriedade rural deve ter, além das APPs, que protegem principalmente a água, as nascentes, uma Reserva Legal (RL) proporcional ao tamanho da propriedade. É nela que se deve manter ou recompor a vegetação nativa que pode e deve ser manejada de forma sustentável para aproveitamento econômico.
Os testes deram bons resultados iniciais e a iniciativa se ampliou com a criação da Rede de Sementes do Xingu em 2007, que impulsionou o reflorestamento na região e conta hoje com 420 coletores incluindo indígenas (saiba mais em www.sementesdoxingu.org.br), que produzem mais de 20 toneladas anualmente para restauração.
Como a muvuca se desenvolve
O guia mostra que logo após o plantio, a área é recoberta rapidamente
por ervas e arbustos que são plantados ao mesmo tempo e por outros
arbustos que já haviam no solo. Isso protege as árvores que estão
germinando contra ventos fortes, ressecamento do solo, erosão,
capivaras, formigas cortadeiras e auxilia a proteger de plantas muito
agressivas, como o capim braquiária. Para essa função podemos usar
ervas, arbustos, cipós e plantas leguminosas chamadas de adubos verdes.
Quando ervas e trepadeiras de ciclo de vida anual-bianual morrem,
arbustos e árvores de crescimento rápido começam a ocupar o espaço
deixado por elas Mas esses arbustos e árvores também têm ciclo curto, de
alguns anos.
Já quando morrem as árvores de crescimento rápido, são substituídas por árvores de crescimento mais lento e vida mais longa.
Acesse aqui o Guia da Muvuca , inspire-se e crie a sua!!
Parceiros e apoiadores
São parceiros no projeto a Universidade Estadual de Mato Grosso
(Unemat), a Associação Xingu Araguaia (AXA), a Universidade Federal de
São Carlos (UfsCAR), a Rede de Sementes do Xingu e a Embrapa. Os
apoiadores são a Fundação Rainforest da Noruega, a EDF (Environmental
Defense Fund) e a Fundação Gordon e Betty Moore.
Fonte: EcoDebate
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