terça-feira, 17 de janeiro de 2017
Pesticidas à base de nicotina são grande risco não apenas às abelhas,
ameaçadas de extinção, mas também para outros animais como borboletas,
aves e insetos.
As abelhas do mundo inteiro estão sob forte ameaça dos agrotóxicos, em
especial dos neonicotinoides, uma classe de pesticidas derivados da
nicotina. Isso não é novidade: desde de 2008 que a comunidade
internacional discute os perigos dessa substâncias e em 2013 a União
Europeia proibiu parcialmente sua aplicação nas lavouras, como forma de
proteger as populações de abelhas, insetos fundamentais para a produção
agrícola e que se encontram em forte declínio. Ano passado, o órgão
ambiental dos Estados Unidos colocou esses insetos na lista de espécies
ameaçadas de extinção.
Um novo relatório do Greenpeace, publicado na Europa, aponta que
agrotóxicos neonicotinoides impõem um sério risco não apenas às abelhas,
mas também para diversas outras espécies. A análise, conduzida por
cientistas da Universidade de Sussex, revisou informações e dados de
centenas de estudos publicados desde 2013, quando a União Europeia
adotou o banimento parcial dos agrotóxicos clotianidina, imidacloprida e
tiametoxam – todos neonicotinoides.
Para Dave Goulson, professor de biologia da Universidade de Sussex e
especialista na ecologia de abelhas, o quadro de contribuição dos
neonicotinoides para o declínio da população de abelhas selvagens está
ainda mais forte do que quando a União Europeia adotou o banimento
parcial da substância.
“Além das abelhas, os neonicotinoides também podem estar ligados ao
declínio das borboletas, pássaros, como pardais e perdizes, e de insetos
aquáticos”, que entram em contato com o solo ou o sistema de irrigação.
Os riscos podem se estender a morcegos também, que se alimentam dos
insetos. “Dada a evidência de tal dano ambiental, seria prudente que a
restrição europeia fosse estendida para sua integralidade”, defende o
professor.
Segundo Marco Contiero, diretor de políticas públicas em agricultura do
Greenpeace União Europeia, a ciência claramente mostra que
neonicotinoides são onipresentes e persistentes no meio ambiente como um
todo, e não apenas nas lavouras. “Essas substâncias são rotineiramente
encontradas no solo, no lençol freático e nas flores selvagens”, disse
Contiero.
Os escritórios do Greenpeace localizados na Europa pedem agora pela
moratória integral de agrotóxicos neonicotinoides por parte da União
Europeia.
Já no Brasil…
Enquanto a Europa estuda estender o banimento dos neonicotinoides de
parcial para integral em suas lavouras, o governo brasileiro ainda
permite o uso dessas substâncias à torto e à direito. E muitas vezes,
esses agentes químicos não são aplicados diretamente nas plantas, mas
pulverizados por aviões – uma prática que é perigosa por si só.
Mesmo sob os critérios da lei, a pulverização aérea é extremamente
perigosa pois ela raramente atinge apenas o seu alvo, a lavoura – boa
parte do veneno se perde pelo ambiente. Estima-se que esse desperdício é
de ao menos 30%, mas em alguns casos pode ultrapassar de 70%. O que
piora muito essa situação é que a prática é raramente realizada com
responsabilidade e dentro da legalidade, ou seja, atingindo
frequentemente zonas vizinhas habitadas como comunidades, escolas, meios
aquáticos como rios, lagos e lagoas onde a água é captada para consumo,
causando a contaminação dessas áreas e a intoxicação da vida animal,
vegetal e humana.
Alguns estados estudam acabar com a prática, como o Rio Grande do Sul,
onde tramita o Projeto de Lei (PL) 263/2014, que visa proibir a
pulverização aérea de agrotóxicos em todo o território gaúcho. Mas por
enquanto ainda é permitido em praticamente todo o país, seja de
neonicotinoides ou não.
São Paulo é outro estado que possui iniciativas para mudar essa
realidade. Tramitam dois Projetos de Lei (PL) na Assembleia Legislativa
do Estado: o PL 406/2016, que proíbe o uso e a comercialização de
agrotóxicos que contenham clotianidina, tiametoxam e imidaclopride
(todos neonicotinoides) em sua composição, e o PL 405/2016, que veta a
pulverização aérea de defensivos agrícolas no estado.
A Associação Paulista de Apicultores Criadores de Abelhas Melíficas
Europeias (APACAME) defende que algumas empresas, preocupadas em
garantir a continuidade das vendas de seus pesticidas, têm lançado
campanhas rotuladas como de apoio à saúde dos polinizadores, informando
inclusive que os neonicotinoides não são prejudiciais às abelhas.
“Somos
de opinião que apenas decisões drásticas de proibição do uso ou
banimento desses produtos sistêmicos, em especial aqueles do grupo dos
neonicotinoides, venha a solucionar o problema do desaparecimento e,
consequentemente, da morte das abelhas. A cada dia surgem novas
pesquisas comprovando seu efeito nocivo para as abelhas”, diz a APACAME
em artigo disponível em seu site.
Fonte: Envolverde
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