segunda-feira, 30 de janeiro de 2017
O sucesso de nosso primeiro mergulho revelou que os recifes surpreendem
pela exuberância de vida em uma região considerada pouco amigável a
abrigá-la.
“Estou me sentindo como alguém que volta de outro planeta”, disse o
professor Ronaldo Francini Filho, da Universidade Federal da Paraíba,
logo após voltar à tona, sem esconder a emoção. Ele foi o primeiro
cientista a mergulhar com o submarino para ver os recifes de corais da
Amazônia. Junto dele estava o piloto John Hocevar, diretor da Campanha
de Oceanos do Greenpeace USA.
Neste 27 de janeiro, às 13h15, retornava à superfície com as primeiras
imagens que revelavam os contornos de um mundo oculto . Um capricho da
natureza, que não cansa de nos surpreender ao preencher de vida uma
região considerada inóspita e tão improvável de abrigá-la. Dentro de
nós, que estamos à bordo do navio Esperanza, fica a certeza de que a
campanha “Defenda os Corais da Amazônia” merece toda a nossa atenção.
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Foram quase duas horas de mergulho. A 220 metros de profundidade, a mais
de 100 quilômetros da costa brasileira, lá estavam eles, os recifes com
esponjas, corais e rodolitos (algas calcárias), expondo para nossas
lentes suas cores e formas. “Ali existe um ecossistema bem diverso. Em
boa parte do recife, o chão é cheio de vida”, conta Ronaldo.
Na expedição realizada em 2014, os pesquisadores usaram redes para
coletar exemplares. Desta vez, eles realizaram a primeira observação
desse novo bioma embaixo d’água. Isso faz toda a diferença, ao permitir
entender mais sobre esse universo que já está ameaçado. Empresas querem
explorar petróleo perto dali e um vazamento poderia colocar em risco não
só os corais mas a vida marinha da região.
Quando Ronaldo e John começaram a explicar o que viram debaixo d’água, a
alegria e a satisfação estampavam seus sorrisos. Eles contaram que nos
primeiros minutos o submarino passou por uma extensa área de areia, o
que os deixou ansiosos por tentar ver alguma coisa. No navio, o capitão e
a tripulação iam dando as coordenadas certas para que a pequena cápsula
com os dois tripulantes chegasse aos recifes. Os rodolitos e as
esponjas foram aparecendo aos poucos.
Até que o submarino chegou a um
paredão: uma grande estrutura de carbonato de cálcio. Ali estava o que
realmente procuravam! O submarino precisou subir um pouco, a 180 metros
de profundidade, para ver o ecossistema por cima.
Entre os peixes
avistados, estavam um cardume de atum e o cioba, uma espécie muito
importante para a economia da região do Amapá, altamente dependente da
pesca. O cioba está ameaçado de extinção.
Esses peixes usam os recifes como locais para sua reprodução. Ali também
estavam peixes herbívoros, comprovando a presença de algas mesmo onde
chega pouca luz do sol. O mais supreendente para Ronaldo, no entanto,
foi ver alguns peixes-borboletas. Segundo ele, podem ser de uma nova
espécie. “Espécies deste peixe têm sido descobertas frequentemente em
áreas de águas profundas. E é emblemático vê-los aqui também”, afirma.
Este primeiro mergulho de submarino realizado pelo Greenpeace a bordo do
Esperanza revelou esse novo universo a ser protegido. .
”Mostramos por
que não podemos deixar que empresas explorem petróleo na região da foz
do Rio Amazonas. Ainda mais se pouco conhecemos esse ecossistema”, disse
Thiago Almeida, da Campanha de Clima e Energia do Greenpeace Brasil.
Toda a tripulação se envolveu nessa operação. Da cabine de controle, o
capitão e seus ajudantes garantiam que o navio Esperanza não se
distanciasse do submarino. A cada 15 minutos, sinais de comunicação eram
enviados para saber se tudo estava bem.
Ao final do dia, a aventura foi celebrada em uma roda de conversa entre
todos no navio. John e Ronaldo contaram em detalhes o que viram debaixo
d’água e a experiência de viajar em um equipamento tão moderno. Juntos,
assistimos a um vídeo sobre nossos primeiros dias reunidos nessa missão.
Uma cumplicidade de equipe e um espírito de aventura expressos em
olhares trocados, que certamente renovam a união e a energia para os
próximos dias. Foi de arrepiar.
Nossa missão por aqui, entretanto, está apenas começando. Teremos novas
oportunidades de ver com mais detalhes o que as águas brasileiras
vitaminadas pelo Rio Amazonas nos escondem. Continue conosco nesta
jornada. Nos ajude a divulgar essas imagens e participe da luta para
defender os Corais da Amazônia da exploração de petróleo.
Fonte: Envolverde
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