sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

Sonia Guajajara: “A pesquisa enxergou o potencial do conhecimento tradicional”

06.02.2017Notícias Soninha tem esse apelido por um motivo óbvio: tem 1,52 metro de altura. Mas ela deveria ser chamada de gigante. Sonia Bone Guajajara, 42 anos, é uma das principais lideranças indígenas do Brasil: quando fala e marcha ao lado dos parentes, assume o tamanho de todos os milhares de indígenas brasileiros juntos, defendendo com uma clareza impecável os direitos dos povos originários e seu papel na manutenção das florestas, que fornecem ar, água e clima para todos.


A atual coordenadora da APIB (Associação dos Povos Indígenas do Brasil) é do povo Guajajara, da Terra Indígena Arariboia, localizada no Maranhão. A TI é alvo frequente de tentativas de invasão e, em 2015, viu queimar cerca de metade de seus 415 mil hectares – segundo o Ibama, provavelmente iniciada por madeireiros e propagada pelo clima seco. “A gente tem sentido os efeitos das mudanças climáticas há algum tempo.”


Por sua atuação, Sonia Guajajara recebeu diversos prêmios. Em 2016, tornou-se conselheira do IPAM.
arariboia
Mapa do calor na TI Arariboia em 2015 e gráfico de focos de calor, com pico em 2016. Fonte: SOMAI (www.somai.org.br).






Como você vê o convite de participar do conselho de uma instituição com um perfil ligado à produção científica?
Sonia: O IPAM é uma entidade com boa credibilidade, parceira do movimento indígena, e o convite mostra que a pesquisa ambiental enxergou o potencial do conhecimento tradicional. A gente vive e a gente vê, sente o que acontece ao redor, e instituições como o IPAM comprovam cientificamente o que sabemos.


Como a agenda indígena se cruza com a ciência?
Sonia: A ciência é uma ferramenta de luta interessante na defesa dos nossos direitos contra projetos legislativos que trazem retrocessos, (pois) os dados comprovam que as mudanças na lei podem trazer impactos para a vida da gente. Assim, temos subsídios fortes para defender as terras indígenas. É caso do estudo sobre PEC 215, que mostra o impacto que uma redução das terras indígenas causará às pessoas.


O IPAM trabalha há muitos anos com o tema das mudanças climáticas com os povos indígenas. Como você vê esse trabalho?
Sonia: O IPAM tem ajudado os povos indígenas com informações e capacitações sobre mudanças climáticas, o que é muito importante. A gente tem sentido os efeitos das mudanças climáticas há algum tempo. Nos nossos encontros, todos os participantes trazem relatos dessas mudanças, nas chuvas, nas secas.


Qual é o impacto dessas mudanças no clima na vida dos povos indígenas?
Sonia: Imagine que tem um povo que depende de um igarapé. Se ele seca, como se vive? Como se planta? Muitas cerimônias acontecem na água. Então há impactos na alimentação do povo, na segurança alimentar, e também em sua cultura.


Quais são os principais desafios de 2017 na agenda indígena?
Sonia: Hoje, o que se enxerga à frente de nós são ameaças aos direitos indígenas conquistados. Precisamos nos empoderar e nos organizar para combater esses retrocessos.

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