quarta-feira, 22 de março de 2017
*Por Circe Cunha
Volta e meia, o fantasma da Lei Complementar de Uso
e Ocupação do Solo (Luos) sai do Palácio do Buriti e volta a assombrar a
população do Distrito Federal. As audiências públicas que se sucedem desde o
ano passado, visando a alterações nos gabaritos e na destinação de espaços,
deixam mais dúvidas do que certezas.
Nos lagos Sul e Norte e no Park Way, os moradores vêm se mobilizando
para impedir que as áreas, antes destinadas exclusivamente a residências, se
transformem, em pouco tempo, em áreas mistas, onde seria permitido o
funcionamento de estabelecimentos comerciais e industriais.
Quem ainda não vislumbrou direito como seriam essas localidades, caso a
lei venha a ser aprovada conforme desejam os empreiteiros, basta visitar o
bairro de Águas Claras e ver, in loco, o que foi cometido naquela localidade.
Lá, construíram-se torres residenciais altíssimas, instalando os comércios sob
os edifícios. Não bastasse esse descalabro, somente depois de o bairro ser
concluído, perceberam que não haviam planejado calçadas adequadas para
pedestres nem ruas suficientes para desafogar o trânsito. O resultado é que,
nas horas de pico, o bairro empaca.
Onde a especulação imobiliária fala mais alto do que o planejamento
urbano, o resultado é um desastre para muitas gerações. Para a maioria dos
moradores dos Lagos Sul e Norte e do Park Way, a Luos para aquelas localidades
contribuirá para acelerar a destruição da qualidade de vida dos bairros,
transformando-os de uma área, até então bucólica, em mais uma zona populosa e
caótica. Chamamos a atenção para a cerca arrebentada na entrada do Lago Norte à
esquerda. A área verde ali preservada certamente está na mira de construtoras.
Há tempos, esta coluna vem defendendo que se retire da Câmara
Legislativa a possibilidade de alterar, por qualquer motivo, o uso e a ocupação
do solo em todo o DF, por uma razão simples: eles não entendem e desprezam a
ciência urbana e legislam, nesses assuntos, apenas de olho nas vantagens
financeiras que advirão.
Basta lembrarmos os escândalos protagonizados por pelo Legislativo local
nos episódios que alteraram a destinação de alguns lotes residenciais para
áreas nas quais poderiam ser construídos postos de combustíveis. Do dia para a
noite, os lotes passaram a valer fortunas para alguns e prejuízos para muitos.
Brasília conquistou, há pouco, o título de cidade com a melhor qualidade de
vida do Brasil, graças à determinação de muitos moradores, principalmente
àqueles que para cá vieram nos tempos difíceis da construção da nova capital. O
que os políticos e os empreiteiros não entendem é que essa qualidade de vida
foi conquistada, ao longo de anos, com muito esforço, e não tem dinheiro no
mundo que pague.
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