sexta-feira, 8 de setembro de 2017

Correio Braziliense – Retomada de Angra 3


A desinformação e o despreparo que marcaram a história da capital goiana trazem à tona a preocupação se o país estaria preparado para lidar com uma tragédia em proporções maiores, como a explosão de um reator em uma usina nuclear. 


Um dos projetos mais polêmicos é o de Angra 3, o terceiro da Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto, no Rio de Janeiro. “Em Goiânia, eram 19g de césio. Se uma usina explode, serão toneladas de césio, plutônio e outros. É uma insanidade. Infelizmente, as lições não são aprendidas no Brasil”, comenta Chico Whitaker, da Comissão Brasileira de Justiça e Paz.


Irmã gêmea de Angra 2, a usina começou a ser construída em 1984, baseada em um projeto de 1970. Dois anos depois, dificuldades políticas e econômicas — além do trágico acidente nuclear de Chernobyl, na Ucrânia, em 1986 — fizeram Angra 3 voltar para a gaveta. Com a chegada do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), em 2009, a obra foi retomada. “O principal problema é que eles continuaram com o mesmo projeto da década de 1970, sem levar em consideração a possibilidade de fusão do núcleo do reator, como no acidente ocorrido em 1979, em Three Mile Island (EUA)”, critica Sidney Luiz Rabello, engenheiro no setor de segurança de usinas nucleares da Cnen.


Em 2010, Rabello participou da equipe de engenheiros que analisaram a obra e identificou a necessidade de atualizações, como a construção de um tanque de retenção no caso de uma fusão do núcleo, o que geraria uma lava radioativa incontrolável. “Apresentamos o relatório, e eles não mudaram nada nos aspectos de segurança, não no que interessa à população e ao meio ambiente. Os projetos atuais no mundo levam em consideração esse acidente, menos aqui. É incompreensível. Felizmente, ainda há tempo de consertar esse perigo”, garante. A Cnen alerta que Rabello não fala em nome da instituição.


No fim de 2015, as obras da usina pararam novamente. Desta vez, por causa de descobertas de corrupção e lavagem de dinheiro no processo de construção. Cinco ex-executivos da Eletronuclear e dois sócios da VW Refrigeração acabaram detidos preventivamente na Operação Pripyat, desdobramento da Operação Lava-Jato. Até o momento, foram executados cerca de 67% das obras civis da usina. A expectativa é que ela comece a operar na próxima década. O custo soma R$ 7 bilhões, e a previsão é de que se gaste mais R$ 17 bilhões. O governo busca investidores internacionais. Em viagem oficial à China, nesta semana, o presidente Michel Temer avançou nas negociações com a China National Nuclear Corporation.

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