sexta-feira, 22 de setembro de 2017

Um terço do solo do planeta está severamente degradado, artigo de José Eustáquio Diniz Alves

Um terço do solo do planeta está severamente degradado, artigo de José Eustáquio Diniz Alves


“É preciso 500 anos para construir dois centímetros de solo vivo
e apenas segundos para destruí-lo”
(Stephen Leahy, 2013)

Perspectiva Global de la Tierra

[EcoDebate] Um terço do solo do Planeta está severamente degradado e o solo fértil está sendo perdido a uma taxa de 24 bilhões de toneladas por ano, de acordo com o estudo “Perspectiva Global de la Tierra (GLO)”, apoiado pela Secretaria da Convenção das Nações Unidas para o Combate à Desertificação e Mitigação dos Efeitos das Secas, em colaboração com sócios colaboradores.


O estudo “Perspectiva Global de la Tierra” (2017) é considerado o estudo mais abrangente deste tipo, mapeando os impactos interligados da urbanização, mudanças climáticas, erosão e perda de florestas. Mas o maior fator de degradação é a expansão da agricultura industrial.


O declínio alarmante da qualidade dos solos deve continuar à medida que aumenta o número de habitantes e o nível de renda da população mundial – o que eleva a demanda de alimentos e a demanda por terra produtiva. Aumento da demanda com redução da oferta, aumenta os riscos de conflitos, como os vistos no Sudão, no Chade e em outras regiões do mundo.


O cultivo pesado, as colheitas múltiplas e o uso abundante de agrotóxicos químicos aumentaram os rendimentos no curto prazo, em detrimento da sustentabilidade a longo prazo. Nos últimos 20 anos, a produção agrícola aumentou três vezes e a quantidade de terras irrigadas dobrou, observa o relatório. Ao longo do tempo, a sobre-exploração dos solos diminui a fertilidade e pode levar ao abandono da terra e, finalmente, à desertificação.
O relatório observou que a diminuição da produtividade pode ser observada em 20% das terras cultivadas do mundo, 16% das terras florestais, 19% das pastagens e 27% das pastagens. A agricultura industrial é boa para atender a demanda por alimentação humana, mas não é sustentável.

A degradação dos solos varia de região para região. A má gestão da terra na Europa representa cerca de 970 milhões de toneladas de perda de solo por erosão a cada ano, com impactos não apenas na produção de alimentos, mas também na biodiversidade, na perda de carbono e na resiliência de desastres. Os altos níveis de consumo de alimentos em países ricos, como o Reino Unido, também são um dos principais impulsionadores da degradação.


Porém, o pior impacto acontece na África subsaariana, onde há o maior crescimento demográfico do mundo, as maiores taxas de pobreza e o maior número de pessoas passando fome no mundo. E o futuro do continente pode estar comprometido em decorrência da degradação ambiental, da perda de biodiversidade e dos danos às terras aráveis e à produção de comida. A recomendação básica é que os governos africanos e os doadores internacionais invistam na gestão da terra e do solo, criando incentivos sobre os direitos à terra, seguras para incentivar o cuidado e a gestão adequada dos terrenos agrícolas.

o declínio da produtividade dos solos africanos

O declínio da produtividade dos solos acontece no contexto de uma crise hídrica. 40% dos africanos (mais de 330 milhões de pessoas) não têm acesso à água potável, e metade das pessoas que vivem em áreas rurais não tem acesso. O problema mais grave é na África subsaariana, onde mais de 320 milhões de pessoas não têm acesso. A África subsaariana foi a única região do mundo que não atingiu as metas dos objetivos de desenvolvimento do milênio (ODM).


Outro fator que agrava a situação dos solos e ameaça a produção de alimentos é o aquecimento global e as ondas de calor que alteram a estabilidade e a normalidade dos períodos de chuva. Os eventos climáticos extremos são muito prejudiciais à agropecuária. A pecuária contribui muito para o desmatamento e é grande emissora de gás metano, que é mais de 20 vezes mais poluente do que o CO2.


Cuidar dos solos é fundamental para o futuro da produção de alimentos. Mas, também, o solo pode absorver grandes quantidades de carbono, perdendo apenas para os oceanos. Ao contrário, a erosão libera carbono no ar. Por isto, é urgente adotar boas práticas e decrescimento das atividades antrópicas, para que a terra seja um lugar seguro.


O reflorestamento com espécies nativas e o crescimento das plantas podem recuperar os terrenos, sequestrar carbono e liberar oxigênio. A recuperação dos solos passa também pela permacultura, a agricultura orgânica, por uma dieta mais vegetariana e um redimensionamento da sobrecarga ambiental da economia e da população mundial.
Referências:


Ian Johnson y Sasha Alexander. Perspectiva Global de la Tierra (GLO), UN, 2017
https://global-land-outlook.squarespace.com/the-outlook/#the-bokk

José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 22/09/2017
"Um terço do solo do planeta está severamente degradado, artigo de José Eustáquio Diniz Alves," in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 22/09/2017, https://www.ecodebate.com.br/2017/09/22/um-terco-do-solo-do-planeta-esta-severamente-degradado-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/.

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