segunda-feira, 30 de outubro de 2017

O sensacionalismo para ocultar a inoperância e incapacidade para operar um sistema de prevenção e combate aos incêndios florestais nas unidades de conservação do país.

O sensacionalismo para ocultar a inoperância e incapacidade para operar um sistema de prevenção e combate aos incêndios florestais nas unidades de conservação do país.
Paulo Cezar Mendes Ramos PhD
Analista ambiental aposentado do ICMBio

Estamos assistindo nos noticiários televisivos e nas redes virtuais, notadamente no facebook, informações e afirmações carregadas de emoções por parte de amantes da Chapada, de voluntários amadores e de posturas nitidamente defensivas por parte de gestores do ICMBio.  


Expressões como, “nunca vimos incêndio tão destrutivo”, por parte brigadistas que estão há apenas três anos na área do parque nacional e que não conhecem a história do fogo no parque nacional.
Da população que tem grande apreço pelo parque nacional, leiga sobre o tema dos incêndios florestais se aceitam afirmações emocionadas.


Entretanto, certas posturas deveriam ser evitadas por parte dos especialistas em emergências ambientais do ICMBio.
Este incêndio não é ou foi o maior incêndio florestal na história dos incêndios florestais em unidades de conservação do Brasil e, também, não é o maior ou pior incêndio ocorrido no Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros.


O PN da Chapada dos Veadeiros já queimou tanto quanto ou mais que nesta temporada de estiagem por várias vezes.  É sensacionalismo e talvez estratégia defensiva expor este incêndio como o maior, o pior e sob condições climáticas extremas. Além disso, afirmar que o ICMBio está respondendo ao evento com a maior força de combate, jamais utilizada antes é falacioso. Isto é inverídico e me faz imaginar que existe alguma culpa subjacente em tais afirmações, que certamente são pensadas.


Se formos verificar o tempo de  resposta efetiva para combater este incêndio vamos mostrar que tudo foi muito gradual e tardio. Se toda a força de combate a que se refere o Coordenador de Emergências Ambientais do ICMBio estivesse atendendo ao incêndio desde sua detecção o quadro poderia ser outro.


Pelo rápido desenvolvimento deste incêndio pode-se aferir que não houve pronto atendimento e que os recursos se acumularam quando o incêndio já era demasiadamente extenso, intenso e impossível de ser contido com o recurso disponível.


O combate inicial falhou, portanto a detecção falhou também. Combater focos iniciais de forma rápida é uma estratégia fundamental para o êxito do combate. Se o incêndio se propagou muito, significa que o combate inicial falhou ou não aconteceu.


O ICMBio não faz esta autocrítica, mas tenta justificar a sua fragilidade. É notória a falta de pessoal. O parque nacional foi ampliado para mais de 200 mil hectares, mas não possui brigadistas suficientes para prevenir e combater incêndios nem nos antigos sessenta mil hectares, como mostra a situação deste incêndio.


Ver um chefe de parque nacional agoniado, suplicando a sociedade recursos para fazer o que é dever do ICMBio, por total falência. O parque não tem servidores nem recursos financeiros para funcionar adequadamente.  O desmonte do ICMBio é visível e notório. O fogo mostra a realidade da instituição, suas insuficiências, sua falta de meios e organização, incapaz para fazer frente a este desastre ambiental.


Os gestores ficam calados todo o tempo sobre a caótica situação da instituição. Aceitam sem questionar aos seus superiores e ao governo golpista e corrupto, que fez piorar demais a situação do ICMBio, do IBAMA  e dos serviços públicos em geral.

Surge então o incêndio e levanta a cortina silenciosa. O incêndio não permite que se esconda o estado de pobreza institucional do ICMBio.
Desesperados os gestores mantém a postura defensiva. “Este incêndio é o maior da história. Criminosos estão agindo e aumentando o incêndio. Nunca tivemos uma estrutura de combate tão grande para combater um incêndio em uma unidade de conservação federal ou num parque nacional. O clima está mais extremo que jamais observado”. Uma ótima estratégia para não discutir suas falências, suas incapacidades de resposta.

É claro que os incêndios são criminosos. Quase sempre o são.
Pesa não somente o crime ou o clima seco, mas a incapacidade de prevenir, de detectar em tempo e de reagir com o combate efetivo. O crime é retórico. Todos os anos os proprietários da região que dependem de pastos nativos usam o fogo para alimentar o gado com a rebrota da vegetação. Esta queimada se transforma em grandes incêndios, que não raro atingem o parque nacional.  Incendiários não são novidade. Muitos incêndios neste parque nacional iniciaram-se dentro dos limites, prováveis caçadores, antes mesmo da ampliação do parque.

Quanto à resposta ao incêndio, já expressei que tudo indica ter ocorrido demora na detecção e no ataque aos focos iniciais. Este incêndio parece ter atingido o parque nacional distraído e sem os meios necessários.

Os meios aéreos para combate e suporte, aviões e helicópteros não existiam na área e levaram bastante tempo para serem acionados e para operar na área do incêndio.

Os helicópteros são de grande operacionalidade nos incêndios, porque podem transportar equipes e lançar água. Os aviões Airtractor só funcionam se estiverem estacionados no parque nacional ou proximidades, prontos para contribuírem com os brigadistas, lançando água no ataque inicial. De nada ou quase nada servem para combater um incêndio que se expandiu demasiadamente como o atual. Tornam-se despesas altas e ineficientes.

O Serviço Florestal americano tem como rotina relatar os incêndios nos mínimos detalhes para melhorar o sistema. No Brasil o comum é o que vemos os técnicos responsáveis fazendo, que é ocultar as falhas e jogar todas as responsabilidades para terceiros, ou seja, os criminosos e o clima.

Quero finalizar responsabilizando ao ministro do meio ambiente e ao presidente do ICMBio que permitiram sem lutar, os cortes absurdos de recursos do ICMBio. Coloco os incêndios florestais, mal assistidos nas unidades de conservação federais, nas contas do Temer e de seu ministro do meio ambiente golpistas. Não menos responsáveis são os gestores do ICMBio que aceitam sem brigar, mantendo seus cargos, mesmo com o desmonte da instituição promovida por este governo corrupto e golpista.


Paulo Ramos 

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