Por Letícia Arcoverde
O tema
sustentabilidade entrou na agenda da alta liderança de mais empresas nos
últimos anos, em parte porque passou a ser mais associado à economia de
custos. Mas aumentou também a desconfiança, no número de pessoas que
acham que o assunto ainda não se traduz em práticas com a mesma
intensidade com que decora os discursos das companhias.
As conclusões são de um levantamento bienal realizado pela Fundação Dom
Cabral, que teve participação de 465 executivos de empresas, a maior
parte delas com mais de 500 funcionários.
Entre 2014 e 2016, cresceu de 51% para 78% o número de empresas onde a
agenda de sustentabilidade é liderada pelo CEO, e de 51% para 63%
aquelas em que o programa da área é analisado e aprovado pelo conselho
de administração - em 2012, primeiro ano da pesquisa, isso acontecia só
em 4% das organizações.
Para Heiko Spitzeck, um dos autores da pesquisa e professor da Fundação
Dom Cabral, isso reflete um entendimento maior de que a sustentabilidade
não é um elemento periférico, mas um ponto que precisa ser incorporado
aos negócios para dar resultados - o mais importante deles sendo a
economia de custos.
Segundo a pesquisa, a iniciativa mais associada com a prática da
sustentabilidade é a redução de gastos decorrente da melhoria da
eficiência, lembrada por 79%. "Eficiência energética, reciclagem e
outros podem ajudar a reduzir custos, o que no contexto atual do Brasil é
um motivador muito forte para os negócios", diz.
Outro elemento que ajudou a levar o tema até os conselhos e salas de
presidência, na opinião de Spitzeck, é a crise decorrente de escândalos
envolvendo grandes companhias brasileiras. "Há uma lista longa de
empresas que sofreram baixa na reputação", diz. Recorrer à
sustentabilidade também é uma forma de tentar recuperar essa imagem, diz
o professor.
Essa é a motivação citada por 68% dos respondentes para o
estabelecimento de parcerias para resolver problemas sociais e
ambientais, menos do que o registrado em 2014 (75%), mas muito à frente
das outras razões listadas, como incentivos fiscais (44%) e benefícios
financeiros ao identificar possibilidades de inovação (26%).
A crise na reputação - que atingiu muitas empresas que eram consideradas
referência em sustentabilidade como Vale, Petrobras ou Odebrecht -
também afetou a percepção dos respondentes quanto à distância entre o
discurso e a prática das companhias.
Subiu de 63% para 93%, entre 2014 e 2016, aqueles que consideram que as
empresas promovem a sustentabilidade, mas não estão realmente engajadas
no assunto. "As pessoas estão decepcionadas que há pouca sustância. Isso
é interessante, porque pode levar a um público mais crítico. Será mais
difícil para a empresa ficar só no discurso e não ir para a ação", diz.
Fonte: Valor Econômico / Globo
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