Por Observatório do Clima
domingo,
10 setembro 2017 16:48
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Uau, R$ 51 milhões. Em cash. O Brasil inteiro viu e se escandalizou com
as imagens das malas e caixas de dinheiro descobertas pela Polícia Federal num
apartamento em Salvador que o ex-ministro teria Geddel Vieira Lima teria
“pegado emprestado” de um amigo para guardar “as coisas de seu finado pai”.
Todo mundo sabe também do trabalho que deu para a polícia contar a bolada – a
maior quantidade de dinheiro vivo já apreendida no país.
Em tempos de Lava Jato e cifras astronômicas de corrupção (quem não se
lembra de Pedro Barusco, aquele gerente da Petrobras que ficou de devolver, só
ele, R$ 300 milhões?), fica até difícil dimensionar o que são R$ 51 milhões.
Bem, é muito dinheiro. Que daria para usar em muita coisa. Nós
compilamos abaixo algumas sugestões do que fazer com essa bufunfa apenas na
área ambiental. O Geddel pode até não se sensibilizar, mas quem sabe a PF se
empolga.
1 – Monitorar o desmatamento durante dez anos
O Brasil é referência internacional em sensoriamento remoto de
florestas, graças aos programas Prodes e Deter, do Inpe (Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais). A criação do Deter, que vigia a floresta em tempo real e
orienta a fiscalização, foi um dos instrumentos que permitiram reduzir a taxa
de desmatamento na Amazônia. Todo o trabalho de monitoramento do Inpe custa R$
5 milhões por ano. Tem que manter isso, viu? Os R$ 51 milhões do Geddel
manteriam por uma década.
2 – Pagar até 12 anos de pesquisas em
biodiversidade
Um artigo científico que acaba de ser publicado por pesquisadores
brasileiros no periódico Perspectives in Ecology and Conservation alerta para o
fato de que os cortes no orçamento da ciência brasileira ameaçam o PPBio, o
maior programa de pesquisas em biodiversidade do país, que envolve 626
cientistas de 93 instituições. Sem o PPBio, o Brasil pode não cumprir suas
metas nacionais de biodiversidade para 2020 e pode ter dificuldades para
cumprir sua meta no Acordo de Paris de restaurar 12 milhões de hectares de
florestas – já que isso depende de conhecimento sobre as áreas mais adequadas à
restauração. Segundo a ecóloga Mercedes Bustamante, da Universidade de
Brasília, o PPBio custa R$ 10,8 milhões por edital, e cada edital cobre de 36 a
48 meses de execução. Ou seja, a bolada do bunker de Salvador pagaria o
trabalho desses 626 pesquisadores por 9 a 12 anos.
3 – Zerar o desmatamento em pelo menos
150 mil hectares durante 15 anos
Segundo uma ferramenta desenvolvida por pesquisadores da UFRJ, um programa
de pagamento por serviços ambientais poderia bancar fazendeiros para não
desmatar, pagando o chamado custo de oportunidade da terra, ou a expectativa de
ganho anual de um proprietário caso ele cortasse um hectare de floresta. Na
caatinga e na Amazônia o custo de oportunidade é mais baixo em vários
municípios. Um programa que pagasse R$ 51 milhões por 15 anos nessas regiões
poderia proteger 150 mil hectares – uma área maior que a da cidade do Rio de
Janeiro.
4 – Proteger 10% do território nacional durante
dois meses
Parece incrível, mas o Instituto Chico Mendes, ligado ao Ministério do
Meio Ambiente, protege um décimo do território brasileiro. Esta é a extensão
das 327 unidades de conservação federais, de Fernando de Noronha (foto) a Foz
do Iguaçu, do Parque Nacional de São Joaquim ao Parque do Tumucumaque. E faz
isso com pouquíssimo dinheiro: o orçamento do órgão em 2017, excluindo
salários, foi de R$ 302 milhões. Isso antes do corte de 43% no orçamento geral
do ministério.
5 – Pagar um ano de fiscalização do Ibama
A retomada das ações de fiscalização do Ibama neste ano impediu que o
desmatamento em 2017 subisse pelo terceiro ano consecutivo na Amazônia. E isso
só aconteceu porque o governo conseguiu R$ 53 milhões do Fundo Amazônia
(dinheiro de doação da Noruega), a serem aplicados em 2017 e 2018 na
fiscalização, cujo orçamento em 2017 foi de R$ 52,1 milhões. O dinheiro do
Geddel pagaria um ano de trabalho do Ibama. Ou evitaria que o governo passasse
o chapéu para os noruegueses, complementando os recursos do Ibama por 15 meses.
6 – Custear 11% do orçamento do Ministério do
Meio Ambiente
Todas as políticas ambientais federais em 2017 precisarão ser
implementadas com R$ 446,5 milhões. Esse é o valor do orçamento discricionário
do MMA (Ministério do Meio Ambiente) após os cortes impostos por Michel Temer
em abril. As caixas e malas de dinheiro encontradas pela PF em Salvador
equivalem a 11% desse total. Lá no MMA isso faz falta, viu, Geddel?
7 – Financiar o maior instituto de
pesquisas da Amazônia por 3,5 anos
O Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia) é um dos maiores
polos geradores de conhecimento sobre a maior floresta tropical do mundo. Tem
nove pesquisadores entre os mais citados do país e é responsável por programas
como a torre ATTO, de 325 metros, estrutura construída mais alta do Brasil. O
orçamento anual do Inpa é de R$ 14 milhões. Se Geddel doasse seu dinheiro à
ciência, bancaria as pesquisas amazônicas por três anos e meio.
8 – Instalar 17 mil painéis
fotovoltaicos em casas populares
Investir em energia limpa é uma das missões dos países signatários do
Acordo de Paris – e está cada vez mais acessível à população. Em vários países,
essa fonte já é a forma mais barata de gerar eletricidade. De acordo com a
Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica, R$ 51 milhões seriam o
suficiente para beneficiar cerca de 60 mil pessoas com 17 mil painéis solares
em telhados. Não custa lembrar que o Brasil é um dos países com metas mais
modestas de instalação de energia fotovoltaica no mundo.
9 – Recuperar mais de 3.000 nascentes de rios
O investimento para recuperar uma nascente pode variar de R$ 1 mil a
pouco mais de R$ 15 mil, dependendo do nível de degradação e do lugar do país,
de acordo com a Bioflora, uma empresa de restauração de florestas nativas. O
reflorestamento estimula o desenvolvimento regional sustentável, neutraliza
carbono e pode triplicar a renda de pequenos agricultores.
10 – Reflorestar área equivalente a 5.000
campos de futebol na Mata Atlântica
A Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo investiu ao longo
da última década cerca de R$ 13 milhões na restauração ambiental de uma área de
mil hectares dentro do Parque Estadual Serra do Mar (PESM). A área de Mata
Atlântica recebeu cerca de 1,5 milhão de mudas.
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