Lixo nos oceanos faz mal à saúde
Capitão Moore, que descobriu a mancha de resíduos no pacífico, alerta que epidemias de obesidade e diabetes tipo 2 estão associadas ao uso intensivo dos plásticos
Os peixes e outros animais marinhos que nadam no Oceano Pacífico andam se alimentando de uma sopa intragável, que boia a 1,6 mil quilômetros da costa entre a Califórnia e o Havaí: uma mistura de plástico com plânctons e mais uma enorme quantidade de lixo. É uma dieta pouco saudável e que vem sendo ingerida há anos. A sopa só aumenta de tamanho, desde que, há duas décadas, foi descoberta, por acaso, pelo capitão Charles Moore. Da imagem perturbadora do lugar, que batizou, à época, de “mancha de lixo”, Moore se transformou em ativista, criou duas ONGs ambientais, a Algalita Manine Research Foundation e a Long Beach Organic, e virou um pessimista assumido.
“Usem menos plástico”, bradou, em alto e bom som, capitão Moore no palco do 1º Congresso Internacional Cidades Lixo Zero, que está ocorrendo em Brasília desde o último dia 5. A mancha, que é duas vezes maior que o estado do Texas, nos Estados Unidos, não é a única. As ilhas de lixo dos oceanos – conhecidas no jargão científico como vórtices – somam cinco ao todo. Os redemoinhos formados pela circulação oceânica recebem materiais, especialmente plásticos, que vem de milhões de quilômetros de distância e o lixo circula, sem ter como sair.
Ele conclamou os participantes do encontro a transformarem o dia 15 de setembro, Dia Mundial de Limpeza de Rios e Praias, numa data de combate à poluição plástica nos mares. “O lixo que boia nos oceanos está a quilômetros de distância de qualquer zona econômica, de qualquer país, e, por isso, não tem dono”. O problema só cresce de tamanho, já tendo se transformado num dos maiores desafios ambientais do nosso tempo.
Dados das Nações Unidas indicam que, todos os anos, mais de oito milhões de toneladas de plástico nos oceanos. Ainda segundo a ONU, a cada minuto, são compradas um milhão de garrafas plásticas e 90% da água engarrafada contêm microplásticos. E os animais marinhos e os peixes que comem qualquer coisa que encontram pela frente, passaram a comer plástico. Recentemente, em mais uma de suas expedições, Moore encontrou uma micropartícula de plástico dentro de uma água viva.
“A exposição durante a gravidez ao bisfenol A (BPA), substância utilizada para a fabricação de garrafas plásticas, aumenta substancialmente o risco de o bebê desenvolver diabetes e outras doenças cardíacas”, advertiu capitão Moore. A epidemia de obesidade e de Diabetes tipo 2 está intimamente ligada ao uso intensivo de plástico no nosso dia a dia. “Estamos produzindo plástico de forma estúpida e irresponsável”, concluiu.
Os dejetos microscópicos criam ainda outras anomalias, como uma tartaruga que cresce com um anel de plástico em volta do casco ou albatrozes com emaranhado de fios dentro do corpo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário